Resumo semanal: inflação de serviços persistente

Confira as principais notícias da semana (24/6 -28/6), segundo a avaliação da equipe econômica do C6 Bank. Leia a íntegra do relatório.

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Internacional

Estados Unidos: inflação conforme esperado

A inflação desacelerou, mas serviços seguem persistentesEm maio, o índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês) ficou estável em relação ao mês anterior, segundo dados do Departamento do Comércio americano. O núcleo do indicador, que exclui alimentos e energia, teve leve aumento de 0,1%. Ambos os indicadores vieram conforme o esperado. Em doze meses, o núcleo do PCE acumula alta de 2,6%, desacelerando em relação ao mês anterior, mas permanecendo acima da meta de 2% do banco central americano (Federal Reserve – Fed). Os preços de serviços mantêm pressão sobre o índice enquanto os preços de bens recuaram. Em nossa visão, a inflação tem dado sinais de estar se estabilizando em patamar elevado, mais próximo de 3%.

Mensagens recentes de membros do Fed seguem mantendo tom de cautela quanto a uma decisão de corte de juros. Eles mencionam a resiliência da inflação e indicam que ainda há trabalho a ser feito para levar a inflação à meta. Em nossa visão, os fundamentos macroeconômicos (mercado de trabalho aquecido e inflação desacelerando muito lentamente) são inconsistentes com cortes de juros este ano, mas a comunicação do Fed sugere, apesar do tom de cautela, que um corte é provável.

A renda e o consumo das famílias permaneceram elevados em maio; a renda e os gastos do consumidor subiram 0,5% e 0,2%, respectivamente, frente a abril, segundo dados do Departamento do Comércio. Os dados vieram em linha com o esperado. Gastos com bens e serviços aumentaram no período.

O setor imobiliário continuou apresentando dados fracos. O indicador de vendas pendentes de casas contraiu 2,1% em maio, segundo a Associação Nacional de Corretores de Imóveis, sugerindo menores vendas à frente. As vendas de casas novas contraíram 11,3% no mês, segundo dados divulgados pelo Departamento do Comércio. Na semana anterior, as vendas de casas usadas também apresentaram retração. Apesar da queda, o estoque de casas disponíveis para venda segue baixo, mantendo pressão sobre os preços. Segundo dados divulgados pela Agência Federal de Financiamento da Habitação (FHFA, na sigla em inglês), os preços aumentaram 0,2% em abril em relação ao mês anterior. A alta, no entanto, foi menor do que o esperado. Em doze meses, os preços acumulam alta de 6,3%. De modo geral, os preços e as taxas de hipoteca elevados mantêm as vendas do setor abaixo do nível pré-pandemia.

Os núcleos de pedidos de bens duráveis e de bens de capital vieram abaixo do esperado em maio. O núcleo dos pedidos de bens duráveis, que exclui o setor de transportes, contraiu 0,1% em relação ao mês anterior, segundo relatório do Departamento do Comércio dos Estados Unidos. O núcleo dos pedidos de bens de capital, que exclui aeronaves e equipamentos de defesa, também registrou queda.

A confiança do consumidor diminuiu em junho comparada ao mês anterior, segundo o índice do Conference Board. O indicador segue abaixo do nível pré-pandemia. Outro dado divulgado na pesquisa, a facilidade de conseguir emprego, aumentou levemente e segue apontando um mercado de trabalho aquecido.

Em relatório semanal, os pedidos iniciais de seguro-desemprego continuam em níveis baixos para padrões históricos, em 233 mil na semana encerrada em 22 de junho.

O primeiro debate de candidatos à presidência ocorreu esta semana. O destaque, segundo a imprensa, foi o fraco desempenho do democrata, Joe Biden, suscitando dúvidas se deve ser substituído. As eleições acontecem em novembro no país. As pesquisas de opinião mostravam leve vantagem do candidato republicano, Donald Trump, nos colégios eleitorais, antes do debate.

Europa: eleições na França e no Reino Unido

A guerra entre Rússia e Ucrânia está no terceiro ano e continua sem perspectiva de fim próximo.

O índice de sentimento econômico, calculado pela Comissão Europeia, ficou praticamente estável em junho em relação ao mês anterior. Houve leve redução na confiança de serviços e da indústria, e leve melhora na confiança do consumidor, que segue abaixo da média pré-pandemia.

Mensagens recentes de membros do Banco Central Europeu (BCE) enfatizam que é necessário ganhar confiança na trajetória de queda da inflação, sinalizando que um novo corte de juros não deve ocorrer na próxima reunião em julho.

Nos próximos dias, ocorrerão eleições legislativas na França (em dois turnos, 30/6 e 7/7) e no Reino Unido (4/7). As pesquisas de opinião apontam para vitória da oposição nas duas regiões, inaugurando período de coabitação na França – quando o presidente é acompanhado de um primeiro-ministro do partido de oposição – e fim de 14 anos de liderança do partido Conservador no Reino Unido. A convocação antecipada dos pleitos aumentou a incerteza política e gera preocupações fiscais nas duas economias, que têm dívidas e déficits elevados.

China: lucro da indústria perdeu força

O lucro da indústria desacelerou para 0,7% em maio comparado ao mesmo mês do ano anterior, de acordo com o NBS, com menor crescimento da produção industrial. No ano, o lucro acumula alta de 3,4%, com forte crescimento do setor de tecnologia (computador, equipamentos eletrônicos, comunicação) apoiado em políticas públicas de inovação e sólida demanda externa.

Em meados de julho, ocorrerá a Terceira Sessão Plenária do XX Congresso do Partido Comunista Chinês. Ao todo, cada Congresso do Partido realiza sete sessões plenárias ao longo de cinco anos. A Terceira Sessão é focada na área econômica e costuma definir políticas de longo prazo. Não é esperada uma mudança direcional, deve-se continuar priorizando o crescimento com qualidade, focado na transição energética, inovação e segurança. Alguns pontos podem receber destaque, como a busca de maior equilíbrio nas políticas de suporte que, até o momento, vêm priorizando manufaturas mais avançadas, deixando de lado as convencionais e o setor de serviços; e a reforma fiscal, que pode melhorar o orçamento de governos locais, altamente endividados. Importante ressaltar que, apesar das orientações do Partido, as implementações de políticas públicas têm desapontado.

Commodities: petróleo segue em patamar elevado

No Oriente Médio, o conflito entre Israel e o Hamas completou oito meses. O primeiro-ministro de Israel anunciou uma possível mudança de foco do conflito, passando de Gaza para o sul do Líbano, devido à intensificação de ataques contra o Hezbollah. Até o momento, não houve uma escalada do conflito na região, que é a maior exportadora mundial de petróleo, mas as tensões aumentaram. O Hezbollah é um grupo mais armado e mais treinado que o Hamas. Além desse conflito, os ataques de Houthis às embarcações no Mar Vermelho também se intensificaram. Aproximadamente 70% do tráfego segue evitando a região, o que tem elevado o preço do frete marítimo principalmente das rotas entre China e o Ocidente, particularmente Estados Unidos e Europa. A crise geopolítica pode demorar algum tempo.

O preço futuro do petróleo (Brent) ficou estável, encerrando a semana (de 20/6 a 27/6) pouco acima de 86 dólares por barril. A expectativa é que o preço permaneça elevado nos próximos meses, em razão da maior demanda por combustível associada ao período de férias e da menor oferta dos países membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados, que mantém cortes na produção. Uma escalada do conflito no Oriente Médio pode pressionar mais o preço da commodity.

O preço futuro do gás natural na Europa também ficou estável na semana e segue em patamar baixo. Os estoques continuam elevados na região. O preço continua menos de 40% do que era antes do início da guerra entre Rússia e Ucrânia.

Preços de grãos seguem em queda. O preço do trigo continuou recuando: na semana, caiu 2%, com condições favoráveis para aumento da produção nos Estados Unidos. O preço do milho também recuou 5,4% e o da soja permaneceu estável.

Brasil

Focus aumenta projeção de inflação de 2025

As projeções para o IPCA registraram uma pequena alteração para 2024 (de 3,96% para 3,98%) e alta para 2025 (de 3,80% para 3,85%). Para 2026, não houve alterações (3,6%). O número esperado para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) ficou praticamente inalterado para 2024 (de 2,08% para 2,09%) e não teve mudanças para 2025 (2%). A taxa Selic permaneceu estável para 2024 (10,5%), para 2025 (9,5%) e para 2026 (9%). As projeções estão no Boletim Focus, relatório do Banco Central que reúne a expectativa das instituições financeiras em relação aos principais indicadores econômicos do país.

Atividade: mercado de trabalho aquecido

A taxa de desemprego da PNAD Contínua no trimestre terminado em maio veio em 7,1%, abaixo da nossa projeção (7,2%) e do mercado (7,3%). O indicador está em 6,9% na série com nosso ajuste sazonal, abaixo do trimestre encerrado em abril. A composição do dado mostrou crescimento no ano de 3% da ocupação, assim como da renda real habitual, que subiu 5,6%. A taxa de desemprego está em nível significativamente abaixo do neutro, o que reforça o cenário de inflação pressionada. Nossa expectativa é que a taxa de desemprego (ajustada sazonalmente) fique praticamente estável ao longo do ano, encerrando 2024 abaixo de 7%.

Inflação: segmento de serviços ainda resiliente

A inflação medida pelo IGP-M apontou alta de 0,81% em junho, abaixo da mediana das projeções do mercado (0,85%). A composição dos índices de atacado mostrou o IPA agrícola com alta de 1,8%. O núcleo do IPA industrial – que inclui apenas os itens relacionados à inflação de bens industriais do IPCA, excluindo alimentos, combustíveis e minério de ferro – subiu 0,6%. Em 12 meses, o índice está em 2,5%, o primeiro número positivo após 14 meses em deflação. O IPA agrícola acumula alta de 1,3% e o núcleo do IPA industrial expansão de 0,3%.

O IPCA-15 de junho registrou alta de 0,39%, em linha com a nossa projeção e abaixo do consenso de mercado (0,44%). Em 12 meses, o índice está em 4,1%. As principais surpresas vieram dos grupos de serviços e bens industriais, principalmente do item de passagem aérea, que contraiu quase 10% no mês.  A inflação de serviços subjacentes, categoria que exclui os itens mais voláteis e é a mais olhada pelo Banco Central, segue pressionada pelo mercado de trabalho aquecido. A média dos núcleos da inflação calculada pelo Banco Central, uma medida mais limpa da tendência dos preços, mostra desaceleração e acumula alta de 3,5% em 12 meses. Nesta mesma métrica, serviços estão em 4,6% e bens industriais em 0,6%, este último contribuindo para puxar a inflação para baixo. Nas nossas projeções, o IPCA acumulado em 12 meses deve encerrar 2024 em 4,7%. Para 2025, nossa previsão é que a inflação fique em 5%.

Fiscal: dívida pública elevada

O setor público consolidado apresentou um déficit primário de R$ 63,9 bilhões em maio. No acumulado em 12 meses, o resultado consolidado está negativo em R$ 280,2 bilhões, o equivalente a 2,5% do PIB. A dívida líquida passou de 61,5% para 62,2% e a dívida bruta de 76,3% para 76,8%. Projetamos, por ora, déficit do setor público consolidado de 0,8% do PIB para 2024 e de 0,9% para 2025.

Setor externo: conta corrente apresenta piora

A conta corrente registrou déficit de US$ 3,4 bilhões no mês de maio. Considerando o dado com nosso ajuste sazonal, houve déficit de US$ 6,3 bilhões. O saldo foi positivo na balança comercial, porém negativo em serviços e rendas. No acumulado em 12 meses, o saldo de transações correntes está em -1,8% do PIB (US$ -40,1 bi), um déficit maior do que o mês anterior (-1,6% do PIB). O Investimento Estrangeiro Direto (IED) veio positivo em US$ 3 bilhões. Para 2024, projetamos déficit de US$ 33 bilhões e para 2025 um déficit de US$ 25 bilhões para as transações correntes.

Política monetária: Ata mostra visões (quase) consensuais

O Banco Central divulgou nesta terça-feira (25) a ata das reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) dos dias 18 e 19 de junho, apresentando mais detalhes sobre a decisão de política monetária.

No comunicado em que anunciou a decisão, o Copom optou pela interrupção do ciclo de corte de juros e manteve a Selic em 10,5%. A decisão foi unânime, sinalizando coesão dentro do Comitê. No texto divulgado hoje, ao argumentar e explicar em mais detalhes a discussão sobre a decisão, o Comitê manteve essa retórica, sem indicar divisão significativa entre os seus participantes.

No âmbito doméstico, o Comitê deu destaque à dinâmica da inflação de serviços à frente. A autoridade monetária afirmou que “a inflação de serviços, que tem maior inércia, assume papel preponderante na dinâmica inflacionária no estágio atual”.  

Sobre a atividade econômica, após novas surpresas altistas nos dados, o Comitê avaliou que o hiato do produto passou de “levemente negativo” para “em torno da neutralidade”. Por último, o Copom antecipou a reavaliação da taxa de juros neutra, discussão que era esperada para a publicação o Relatório Trimestral de Inflação. O Comitê elevou marginalmente a hipótese de taxa de juros real neutra em seus modelos de 4,5% para 4,75%.  Ou seja, as projeções do Comitê desta última reunião já incorporam a atualização do hiato do produto, assim como a revisão da taxa de juros neutra. Na nossa visão, essa revisão elimina possíveis riscos que poderiam ser considerados altistas para as projeções de inflação.

Por outro lado, na discussão sobre o balanço de riscos, o texto mostrou que há opiniões diversas neste debate, com parte do Copom expressando receio que o hiato do produto continue mostrando resiliência. A conclusão foi que o Comitê “majoritariamente decidiu por manter o balanço de riscos simétrico nessa reunião”. Ou seja: não houve unanimidade sobre o balanço de riscos e uma parte minoritária do Copom considera riscos de uma inflação mais alta.

Projetamos Selic estável em 10,5% até o final de 2024 e em 9% ao final de 2025.

Equipe Econômica C6 Bank

Felipe Salles                   Head

Claudia Moreno      Head Brasil

Claudia Rodrigues    Head Internacional

Felipe Mecchi               Internacional

Heliezer Jacob            Brasil

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