Resumo semanal: inflação recua nos EUA

Confira as principais notícias da semana (8/7-12/7), segundo a avaliação da equipe econômica do C6 Bank. Leia a íntegra do relatório.

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Internacional

Estados Unidos: inflação desacelera e abre caminho para corte de juros

A inflação ao consumidor veio abaixo do esperado. O índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) contraiu 0,1% em junho frente ao mês anterior, de acordo com o Departamento do Trabalho. O núcleo do índice, que exclui alimentos e energia, registrou leve aumento de 0,1%. Além de perder força, a inflação apresentou melhor composição, com queda contínua dos preços de bens e desaceleração dos preços de serviços. Em 12 meses, o núcleo do CPI desacelerou para 3,3%. Apesar da menor inflação ao consumidor, o índice de preços ao produtor (PPI, na sigla em inglês) seguiu forte no mês, registrando aumento de 0,2%. Nos últimos 12 meses, o núcleo do PPI, que exclui alimentos e energia, acumula alta de 3% e pode manter alguma pressão sobre a inflação ao consumidor.   

O presidente do banco central americano (Federal Reserve – Fed), Jerome Powell, em depoimento semestral ao Congresso, mencionou o progresso considerável da inflação em direção à meta e o esfriamento gradual do mercado de trabalho. Segundo Powell, mais dados de inflação podem aumentar a confiança na trajetória de desaceleração dos preços, contribuindo para uma decisão de corte de juros. O presidente do Fed acrescentou também que uma demora em cortar juros coloca em risco a economia.

Em nossa visão, dados econômicos mais fracos como mercado de trabalho menos aquecido, atividade moderada e desaceleração da inflação devem levar o Fed a cortar juros este ano.

O índice de otimismo das pequenas empresas, medido pela Federação Nacional de Empresas Independentes (NFIB, na sigla em inglês), subiu 1 ponto para 91,5 em junho, mas permanece abaixo da média pré-pandemia. Segundo a pesquisa, a inflação continua sendo o principal problema das pequenas empresas.

Em relatório semanal, os pedidos iniciais de seguro-desemprego continuam em níveis baixos para padrões históricos, em 222 mil na semana encerrada em 6 de julho.

Europa: atividade em expansão no Reino Unido

A guerra entre Rússia e Ucrânia está no terceiro ano e continua sem perspectiva de fim próximo.

As eleições legislativas na França (7/7) resultaram em um “parlamento suspenso”, com a Câmara dividida. A grande surpresa foi o desempenho mais fraco da extrema direita, apontada como favorita por pesquisas de opinião. Nenhum partido alcançou maioria absoluta. O presidente do país, Emmanuel Macron, falou que deve esperar a formação de uma grande coalizão antes de indicar um novo primeiro-ministro.

No Reino Unido, a atividade cresceu em maio frente ao mês anterior, de acordo com o Escritório Nacional de Estatísticas (ONS, na sigla em inglês). O resultado foi acima do esperado. Houve expansão em todos os setores, com o setor de serviços crescendo 0,3% no período, a quinta alta consecutiva apesar do consumo permanecer moderado. A indústria expandiu 0,2%, e a construção 1,9%, ajudada pelo melhor clima. Nos últimos três meses até maio, a atividade acelerou e registrou expansão de 0,9%. 

China: exportações seguem robustas

A balança comercial teve superávit recorde de 99 bilhões de dólares em junho, mais que o esperado e acima do mês anterior. As exportações de mercadorias continuaram a apresentar um crescimento sólido, com aumento 8,6% comparado ao mesmo mês do ano passado, enquanto as importações recuaram mais que o esperado, -2,3%. Por região, as exportações expandiram nos países desenvolvidos – Estados Unidos, Europa, Japão – e contraíram levemente na América Latina. A exportação de produtos mais sofisticados, como eletrônicos e celulares cresceu no mês, enquanto a de veículos voltou a diminuir. A participação da China nas exportações globais deu um salto em 2020 e segue elevada, em torno de 14%. As importações chinesas de produtos americanos e europeus aumentaram significativamente no mês, enquanto as importações da Ásia emergente e do Japão contraíram.

O crescimento do crédito agregado desacelerou em junho, com crescimento de 8,1% comparado ao mesmo mês do ano anterior. O aumento, que corresponde a 3,3 trilhões em relação a maio, segundo o Banco Central da China (PBOC, na sigla em inglês) ocorreu em razão da maior emissão de títulos públicos e de empréstimos a empresas. O crédito às famílias permaneceu baixo, em meio à fraqueza na venda de imóveis e no consumo.

A inflação ao consumidor desacelerou para 0,2% no acumulado em 12 meses até junho, ficando abaixo do esperado, segundo o Escritório Nacional de Estatísticas chinês (NBS, na sigla em inglês). O preço de alimentos segue em queda, enquanto o preço de energia continua acompanhando o movimento das commodities energéticas do mercado internacional. O núcleo da inflação, que exclui alimentos e energia, subiu 0,6% no período. O índice de preços ao produtor (PPI) continuou recuando pelo vigésimo primeiro mês, com queda de 0,8%. A inflação deve continuar baixa no país, em razão do excesso de capacidade instalada e da fraca demanda doméstica.

Na próxima semana ocorrerá a Terceira Sessão Plenária do XX Congresso do Partido Comunista Chinês. O foco do evento é economia e reformas estruturais devem ser apresentadas para apoiar o crescimento de médio e longo prazo. É possível que seja anunciada uma reforma financeira e fiscal para equilibrar o orçamento de governos locais, além de políticas de suporte a novas indústrias (energia limpa, inovação, segurança) e à urbanização. Não é esperada uma mudança direcional, já que o líder do partido, que é o presidente Xi Jinping, está estendendo seu mandato pelo terceiro período.

Commodities: petróleo permanece em patamar elevado

No Oriente Médio, o conflito entre Israel e Hamas completou nove meses. Até o momento, não houve uma escalada do conflito na região, que é a maior exportadora mundial de petróleo. Os ataques de Houthis às embarcações no Mar Vermelho seguem afetando o frete marítimo global. Aproximadamente, 70% do tráfego segue evitando a região, o que tem elevado o preço do frete marítimo, principalmente das rotas entre a China e o Ocidente e entre os Estados Unidos e a Europa. A crise geopolítica pode demorar algum tempo.

O preço futuro do petróleo (Brent) recuou, mas segue elevado, encerrando a semana (de 4/7 a 11/7) em torno de 85 dólares por barril. A expectativa é que continue nesse patamar, em razão da maior demanda por combustível associada ao período de férias e verão no hemisfério norte, e da menor oferta dos países membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados, que mantém cortes na produção.

O preço futuro do gás natural na Europa diminuiu na semana e segue em patamar baixo. Os estoques continuam elevados na região. O preço continua menos de 40% do que era antes do início da guerra entre Rússia e Ucrânia.

Os preços de grãos também cederam. O preço do trigo diminuiu 3%, com condições favoráveis para aumento da produção nos Estados Unidos. O preço do milho e da soja contraíram 1% e 4%, respectivamente.

Brasil

Focus: projeções sem mudanças relevantes

As projeções para o IPCA registraram uma pequena alteração para 2024 (de 4% para 4,02%) e para 2025 (de 3,87% para 3,88%). Para 2026, não houve alterações (3,6%). O número esperado para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) ficou praticamente estável para 2024 (de 2,09% para 2,10%) e para 2025 (de 1,98% para 1,97%). A taxa Selic permaneceu estável para 2024 (10,5%), para 2025 (9,5%) e para 2026 (9%). As projeções estão no Boletim Focus, relatório do Banco Central que reúne a expectativa das instituições financeiras em relação aos principais indicadores econômicos do país.

Atividade: dados de atividade surpreendem positivamente em maio

A Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) de maio apontou que o volume de serviços ficou estável na comparação mensal, acima do esperado pelo mercado (-0,8%) e por nós (-0,3%). Os destaques positivos foram os serviços prestados às famílias, que têm um peso importante no cálculo do PIB, os serviços de transportes e outros serviços. Por outro lado, os serviços de informação e comunicação surpreenderam negativamente.

A Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) de maio registrou alta de 0,8% frente ao mês anterior no volume de vendas do comércio varejista ampliado, melhor do que o esperado por nós (0,3%) e pelo mercado (-0,5%). Em relação ao nosso número, a surpresa positiva foi amplamente disseminada nas séries que compõem o índice. No varejo restrito, as vendas registraram expansão de 1,2% na comparação mensal e subiram 8,1% na anual. Para 2024, projetamos que o varejo ampliado deva subir em torno de 5%

Havia uma preocupação com o efeito que as chuvas no Rio Grande do Sul poderiam causar para atividade econômica. Os dados do comércio e de serviços mostraram que o impacto foi menor do que o esperado. Na nossa visão, os dados mais recentes de atividade sugerem que o PIB do 2º trimestre pode crescer mais de 1%. Adicionamos viés de alta para nossa projeção de crescimento de 2,2% para o PIB de 2024. 

Inflação: abaixo do esperado, mas serviços seguem resilientes

O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), indicador de inflação oficial do país, subiu 0,21% em junho, segundo dados divulgados hoje pelo IBGE. Esse resultado veio abaixo da nossa projeção e da projeção do mercado. Nos últimos 12 meses, o IPCA acumula uma alta de 4,2%. A surpresa veio concentrada no grupo de alimentação no domicílio, que desacelerou de 0,66% para 0,47% na passagem de maio para junho, indicando que o impacto das chuvas no Rio Grande do Sul na inflação desse grupo começa a se diluir. Em Porto Alegre, a inflação do domicílio caiu 0,88% após alta de 3,64% no mesmo comparativo. As inflações de serviços e de bens industriais vieram em linha com o esperado. A inflação de serviços subjacentes, número que é acompanhado com mais atenção pelo Banco Central, acumula alta de 4,5% no acumulado em 12 meses e segue sem sinais de desaceleração. A resiliência da inflação de serviços corrobora nossa visão de que não há mais espaço para o Banco Central cortar juros neste ano. Projetamos alta de 4,7% para o IPCA de 2024 e taxa Selic estável em 10,5% até o fim do ano.

Equipe Econômica C6 Bank

Felipe Salles                   Head

Claudia Moreno      Head Brasil

Claudia Rodrigues    Head Internacional

Felipe Mecchi               Internacional

Heliezer Jacob            Brasil

Este relatório foi preparado pelo Banco C6 S.A.

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