Resumo semanal: mercado de trabalho desacelerando no EUA

Confira as principais notícias da semana (1/7-5/7), segundo a avaliação da equipe econômica do C6 Bank. Leia a íntegra do relatório.

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Internacional

Estados Unidos: aumenta a probabilidade de cortes de juros neste ano

O mercado de trabalho está desaquecendo lentamente. O Departamento de Trabalho publicou dados referentes ao mês de junho. De acordo com o Establishment Survey, houve criação de 206 mil empregos no período, abaixo do esperado considerando que os dois meses anteriores foram revisados para baixo em 111 mil vagas. O ganho médio por hora trabalhada desacelerou no mês e acumula alta de 3,9% nos 12 meses até junho. O Household Survey mostrou que a taxa de desemprego aumentou para 4,1%, acompanhada de um crescimento na participação da força de trabalho – é importante ressaltar que dados desta pesquisa apresentam maior volatilidade e, portanto, os resultados do Establishment Survey recebem maior atenção. Outro relatório do Departamento de Trabalho, o Jolts, mostrou aumento do número de vagas de emprego em aberto no mês de maio. A proporção de vagas disponíveis por desempregado se manteve em 1,2, um patamar ainda elevado e que mantém uma pressão sobre salários. A taxa de pedidos de demissão (saídas voluntárias) segue alta e consistente com um mercado de trabalho aquecido. Em relatório semanal, os pedidos iniciais de seguro-desemprego continuam em níveis baixos para padrões históricos, em 238 mil na semana encerrada em 29 de junho. Em nossa visão, o mercado de trabalho segue forte, mas desaquecendo lentamente, aumentando a probabilidade de que o banco central americano realize um corte de juros neste ano.

A ata da reunião de junho do banco central americano (Federal Reserve – Fed) sinalizou cautela antes de iniciar o ciclo de cortes. Na ocasião, o Fed optou por uma pausa, a sétima consecutiva, mantendo os juros entre 5,25% e 5,5% ao ano – maior patamar em mais de 20 anos. Membros do FOMC comentaram que os últimos dados voltaram a mostrar progresso na redução da inflação, mas que não deve ser apropriado cortar os juros antes de mais informações que assegurem que a inflação está convergindo para a meta. Alguns membros comentaram, no entanto, que o Fed deve se manter em prontidão para responder a uma fraqueza inesperada da economia ou do mercado de trabalho.

O setor de serviços mostrou moderação da atividade. O índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) do Instituto ISM registrou queda de 5 pontos, alcançando 48,8 em junho. O subíndice de demanda teve forte queda no mês, passando a registrar contração pela primeira vez desde o final de 2022. O indicador de emprego segue em contração. Os preços pagos recuaram, mas continuam indicando pressão inflacionária.

A atividade na indústria continuou em contração. O PMI do setor de manufaturas diminuiu 0,2 ponto em junho frente ao mês anterior, diminuindo para 48,5. Desde o fim de 2022, o índice está em território contracionista, com exceção de março deste ano. Na composição, demanda, produção e emprego seguem em retração. Os preços pagos permanecem elevados.

Europa: inflação resiliente

A inflação voltou a mostrar persistência em junho. O índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) subiu 0,2% em relação ao mês anterior, segundo a prévia do Eurostat. No acumulado em 12 meses, o índice cheio registrou variação de 2,5%. O núcleo, que exclui energia, alimentos, álcool e tabaco, se manteve estável em 2,9%. Na composição, os preços de bens continuam contribuindo para redução do núcleo da inflação, mas os preços de serviços seguem elevados e pressionando o índice. Os salários negociados na Europa têm tido aumento significativo neste ano, mantendo elevados os custos de serviços.  A expectativa dos economistas do BCE é de que a pressão salarial se reduza à frente, especialmente em 2025, dando alívio aos preços.

A ata da reunião de junho do Banco Central Europeu (BCE) mostrou que, apesar de alguns membros mencionarem preocupação com pressões inflacionárias, a grande maioria votou a favor do corte de juros na ocasião – apenas um membro votou pela estabilidade dos juros. O documento mostra que dentre os motivos que embasaram a decisão estão: o progresso alcançado com a inflação até o momento e as projeções de inflação ancoradas em 2% no ano de 2025, dando confiança para iniciar o ciclo de cortes. Em nossa visão, o BCE deve esperar mais algum tempo antes de um novo corte de juros para ganhar mais confiança na trajetória de desinflação. A comunicação recente dos membros do BCE reforça que as taxas de juros devem se manter inalteradas na próxima decisão em julho.

Os preços ao produtor (PPI, na sigla em inglês) diminuíram 0,2% em maio frente ao mês anterior, sétima queda consecutiva, de acordo com dados do Eurostat. Em 12 meses, o PPI apresenta deflação de 4,2%, o que pode ajudar a diminuir a pressão sobre os preços ao consumidor.

As vendas no varejo registraram expansão moderada, o índice aumentou 0,1% em maio, com revisão para cima do mês anterior, segundo o Eurostat. O indicador segue abaixo da tendência pré-pandemia.

As eleições no Reino Unido resultaram em uma ampla vitória da oposição, que conquistou maioria na câmara para o Labour Party em meio ao pior resultado histórico para o Conservative Party, partido de Rishi Sunak. Na França, o resultado do primeiro turno mostrou vitória do partido liderado por Marine Le Pen. O segundo turno das eleições francesas será no domingo (7/7). Pesquisas eleitorais mostram que o partido de Le Pen não deve conquistar a maioria na câmara.

China: atividade perdendo força

A atividade mostrou sinais de moderação, de acordo com os PMIs do mês de junho, calculados pelo Escritório Nacional de Estatísticas chinês (NBS, na sigla em inglês). O PMI composto, que considera o setor de manufaturas, construção e serviços, diminuiu 0,5 ponto para 50,5. Na quebra por setores, manufaturas registra retração (49,5), serviços registra crescimento frágil (50,2) e construções seguem em expansão, mas desacelerando (52,3).

Commodities: petróleo segue em patamar elevado

No Oriente Médio, o conflito entre Israel e Hamas completou oito meses. A tensão tem aumentado entre Israel e Hezbollah, que é um grupo mais armado e bem treinado do que o Hamas. Até o momento, não houve uma escalada do conflito na região, que é a maior exportadora mundial de petróleo. Os ataques de Houthis às embarcações no Mar Vermelho seguem afetando o frete marítimo global. Aproximadamente 70% do tráfego segue evitando a região, o que tem elevado o preço do frete marítimo principalmente das rotas entre China e o Ocidente e entre Estados Unidos e Europa. A crise geopolítica pode demorar algum tempo.

O preço futuro do petróleo (Brent) aumentou, encerrando a semana (de 27/6 a 04/7) em torno de 89 dólares por barril. A expectativa é de que o preço permaneça elevado nos próximos meses, em razão da maior demanda por combustível associada ao período de férias, e da menor oferta dos países membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados, que mantém cortes na produção. Uma escalada do conflito no Oriente Médio pode aumentar a pressão sobre o preço da commodity.

O preço futuro do gás natural na Europa teve queda na semana e segue em patamar baixo. Os estoques continuam elevados na região. O preço continua menos de 40% do que era antes do início da guerra entre Rússia e Ucrânia.

Preços de grãos apresentam dados mistos. Os preços do trigo continuaram recuando: na semana, caiu 0,9%, com condições favoráveis para aumento da produção nos Estados Unidos. O preço do milho também recuou 2,5%. Os preços da soja aumentaram 2,1% na semana.

Brasil

Focus: projeções sem mudanças relevantes

As projeções para o IPCA registraram uma pequena alteração para 2024 (de 3,98% para 4%) e para 2025 (de 3,85% para 3,87%). Para 2026, não houve alterações (3,6%). O número esperado para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) não teve mudanças para 2024 (2,09%) e ficou praticamente inalterado para 2025 (de 2% para 1,98%). A taxa Selic permaneceu estável para 2024 (10,5%), para 2025 (9,5%) e para 2026 (9%). As projeções estão no Boletim Focus, relatório do Banco Central que reúne a expectativa das instituições financeiras em relação aos principais indicadores econômicos do país.

Atividade: produção industrial registra queda em maio, mês em que ocorreram as enchentes no Rio Grande do Sul

A produção industrial de maio contraiu 0,9% frente ao mês anterior. O resultado veio melhor do que as projeções do mercado (-1,6%). A queda foi impulsionada pela indústria de transformação, que contraiu 2,2%, enquanto a indústria extrativa subiu 2,6%. Todas as categorias de uso (bens intermediários, bens de consumo e bens de capital) que compõem a indústria caíram, demonstrando uma perda generalizada no setor.  O resultado de maio deve ter sido influenciado pelas enchentes no Rio Grande do Sul. Para junho, os indicadores preliminares sinalizam recuperação. Acreditamos que o impacto da tragédia no Sul para a atividade deve ser limitado. Os números divulgados hoje não alteram nossa visão de que a PIM deve fechar o ano com crescimento próximo de 1%. Dessa forma, a contribuição da indústria para o PIB de 2024 deve ser pequena. Projetamos crescimento do PIB de 2,2% em 2024 e de 1,2% em 2025.

Equipe Econômica C6 Bank

Felipe Salles                   Head

Claudia Moreno      Head Brasil

Claudia Rodrigues    Head Internacional

Felipe Mecchi               Internacional

Heliezer Jacob            Brasil

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