• Início
  • Economia
  • Relatório mensal – Brasil: juros estáveis, câmbio volátil

Relatório mensal – Brasil: juros estáveis, câmbio volátil

A equipe econômica do C6 Bank, liderada por Felipe Salles, divulgou nesta terça-feira (2) mais uma edição do seu relatório macroeconômico.

Atualizado em

Tempo de leitura · 8 min

Publicado em

Internacional

EUA

A economia segue robusta e o mercado de trabalho aquecido, mas esfriando lentamente. A inflação continua persistente, com sinais de estar estabilizando acima da meta de 2%. O núcleo da inflação (medido pelo PCE) acumulou alta de 2,6% em maio. O banco central americano (Federal Reserve – Fed) manteve a taxa de juros estável e sugeriu menos cortes de juros este ano: antes eram 3, agora 1. Em nossa visão, fundamentos macroeconômicos são inconsistentes com corte de juros este ano, mas a comunicação do Fed sugere que um corte é provável.

Europa

A atividade econômica permanece fraca, particularmente a indústria, que voltou a perder força. Apesar disso, o desemprego está em 6,4%, se mantendo na mínima histórica. A inflação diminuiu em junho, mas o núcleo se manteve estável em 2,9%. O Banco Central Europeu (BCE) cortou juros em junho pela primeira vez desde o início do ciclo de alta em julho de 2022. Apesar do corte, membros do BCE têm sinalizado pausa na próxima decisão em julho, para avaliar o progresso da desinflação. A França deve eleger um primeiro-ministro de oposição a Macron, aumentando incertezas quanto aos ajustes fiscais do país.  

Japão

A inflação acelerou em maio, em linha com o esperado, com o aumento da tarifa de energia; a expectativa é de mais aumentos à frente com a retirada de alguns subsídios. A desvalorização do iene é mais um fator que deve continuar atuando sobre a inflação. O Banco do Japão (BoJ) surpreendeu ao deixar para próxima reunião, em julho, o anúncio de um plano de redução de seu balanço. Tal medida está em linha com uma normalização gradual da política monetária. O BoJ, que segue um ajuste cauteloso, não deve subir juros na próxima reunião.

China

A produção industrial desacelerou em maio e os investimentos vieram abaixo do esperado, em razão de um encolhimento contínuo do setor imobiliário. As exportações, no entanto, seguem robustas. A expectativa é que a economia siga apoiada por iniciativas do governo para alcançar a meta de crescimento de “cerca de 5%” em 2024. Este mês, ocorre uma sessão importante do Partido Comunista para definir objetivos de médio e longo prazo.

Brasil

A economia continua registrando expansão em 2024, impulsionada pelo aumento das despesas do governo. Os dados divulgados referentes a abril e maio sinalizaram uma continuidade da expansão da atividade. As enchentes que afetaram o Rio Grande do Sul podem ter influenciado o PIB, mas de forma limitada. Até o momento, os indicadores de atividade mostram que a queda sofrida pela economia da região Sul, em maio, foi seguida de uma recuperação. Mantemos nossa projeção de crescimento do PIB em 2,2% neste ano e de 1,2% em 2025.

O crescimento acima do potencial (estimamos cerca de 1,5%) contribui para a queda da taxa de desemprego. Projetamos taxa de desemprego para o final de 2024 e de 2025 de cerca de 7%. A forte expansão da renda real corrobora nossa visão de mercado de trabalho aquecido.

Do lado fiscal, o setor público registrou déficit de 2,3% do PIB em 2023. Projetamos déficit primário de 0,8% do PIB neste ano. Os programas de ajuda e recuperação do Rio Grande do Sul já foram incorporados na projeção. Para 2025, projetamos déficit de 0,9%. Acreditamos que o crescimento dos gastos obrigatórios pode comprometer o limite de despesas para os próximos anos. 

Na nossa visão, apesar de o novo arcabouço ser um passo importante para a sustentabilidade fiscal, na ausência de outras reformas que permitam reduzir os gastos obrigatórios, será necessária uma forte queda dos juros reais para impedir o crescimento da dívida do país.

A tendência de alta da dívida líquida do setor público deve prosseguir, mas ajustamos nossa projeção em função da perspectiva de um câmbio mais depreciado. A projeção caiu de 63,9% do PIB para 63,5% em 2024 e de 66,6% para 66,4% em 2025.

O câmbio registrou forte depreciação nos últimos meses. Acreditamos que este movimento reflete, em parte, uma percepção de maiores riscos fiscais pelos agentes de mercado. Em função desse movimento, revisamos nossa projeção para o câmbio de R$ 5,30 para R$ 5,50 ao final de 2024 e de R$ 5,50 para R$ 5,80 ao final de 2025. A perspectiva de elevação da dívida líquida deve continuar pressionando o real à frente.

Em relação às transações correntes, o Banco Central anunciou uma revisão na metodologia para a balança comercial a partir da próxima divulgação. Os criptoativos, que até então eram tratados como bens, passarão a ser considerados como registro na conta de capital. Essa mudança deve reduzir o déficit da conta corrente para este e o próximo ano. Por ora, não incorporamos essa mudança. Projetamos um déficit de US$ 33 bi em 2024 e de US$25 bi para 2025.

O IPCA-15, a prévia da inflação oficial, acumula uma alta de 4,1% em 12 meses até junho e voltou a registrar aceleração. O alívio trazido pela queda das cotações de commodities no exterior e pela consequente desaceleração dos preços de alimentos e de bens industriais deve ter terminado.  Além disso, o mercado de trabalho aquecido e o crescimento dos salários devem continuar pressionando a inflação de serviços. Essa dinâmica impõe desafios à trajetória da inflação à meta. Projetamos alta de 4,7% para o IPCA em 2024 e de 5% em 2025.

O Comitê de Política Monetária (Copom) interrompeu o ciclo de corte de juros em junho e manteve a Selic estável em 10,5%.  A decisão foi unânime. A coesão do Comitê contribuiu para atenuar a volatilidade do mercado, mas a incerteza em relação à condução da política monetária deve permanecer elevada até o anúncio do próximo presidente do Banco Central.

No comunicado da reunião de junho, a novidade foi a apresentação de um cenário alternativo, no qual a taxa Selic é mantida constante. Nesse cenário, as projeções de inflação situam-se em 4% para 2024 e 3,1% para 2025. Ou seja, se a Selic for mantida neste patamar, a projeção do BC é que a inflação fique em torno da meta de 3%. Projetamos Selic em 10,5% ao final de 2024 e de 9% ao final de 2025. Caso o cenário continue se deteriorando (expectativas de inflação em alta e câmbio se desvalorizando), não descartamos uma possível retomada da alta de juros em 2024.

Projeções macroeconômicas do C6 Bank

 201920202021202220232024P2025P
Atividade   
Crescimento Real do PIB1,2%-3,3%4,8%3,0%2,9%2,2%1,2%
PIB Nominal (R$ bi)7.3897.6109.01210.08010.85611.52512.327
Fiscal 
Resultado Primário (% PIB)-0,8%-9,2%0,7%1,2%-2,3%-0,8%-0,9%
Dívida Líquida (% PIB)54,7%61,4%55,1%56,1%60,9%63,5%66,4%
Dívida Bruta (% PIB)74,4%86,9%77,3%71,7%74,4%79,1%83,0%
Setor Externo 
R$/US$ (final de período)4,035,205,585,284,95,55,8
Balança Comercial (US$ bi)27323644817474
Conta Corrente (US$ bi)-68-28-46-48-31-33-25
Conta Corrente (% PIB)-3,6%-1,9%-2,8%-2,5%-1,4%-1,4%-1,1%
Inflação 
IPCA (Var. a/a)4,3%4,5%10,1%5,8%4,6%4,7%5,0%
Juros 
Selic (dez)4,50%2,00%9,25%13,75%11,75%10,50%9,00%
        
        

P=Projeção
Fontes: IBGE, BCB, Bloomberg, C6 Bank.
                      

Equipe Econômica C6 Bank

Felipe Salles                   Head

Claudia Moreno      Head Brasil

Claudia Rodrigues    Head Internacional

Felipe Mecchi               Internacional

Heliezer Jacob            Brasil

Este relatório foi preparado pelo Banco C6 S.A.

Cada analista de Macro Research é o principal responsável pelo conteúdo deste relatório e atesta que:

Os números contidos nos gráficos de desempenho referem-se ao passado; o desempenho passado não é garantia de resultados futuros.

(i) todas as opiniões expressas refletem com precisão suas opiniões pessoais e eventual recomendação foi elaborada de forma independente, inclusive em relação ao Banco C6 S.A. e / ou suas afiliadas;

(ii) nenhuma parte de sua remuneração foi, está ou estará, direta ou indiretamente, relacionada a quaisquer recomendações específicas realizadas pelo analista.

Parte da remuneração do analista vem dos lucros do Banco C6 S.A. e / ou de suas afiliadas e, consequentemente, as receitas decorrem de transações mantidas pelo Banco C6 S.A. e / ou suas coligadas.

Este relatório foi preparado pelo Banco C6 S.A., uma instituição regulada por autoridades brasileiras.

O Banco C6 S.A. é responsável pela distribuição deste relatório no Brasil.