Resumo semanal: atividade desaponta na China

Confira as principais notícias da semana, segundo a avaliação da equipe econômica do C6 Bank

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Confira as principais notícias da semana (15/8-19/8), segundo a avaliação da equipe econômica do C6 Bank. Leia a íntegra do relatório.

Internacional

Estados Unidos: Fed sinaliza possível redução no ritmo de aumento de juros

O banco central americano (Federal Reserve – Fed) divulgou a ata da última reunião, realizada em meados de julho. O texto mostrou que a decisão de um aumento na taxa de juros em 75 pontos-base foi unânime. Os membros do comitê de política monetária reafirmaram forte compromisso em trazer a inflação para a meta de 2% ao ano. Reconhecem que a política monetária firme pode reduzir o ritmo de crescimento econômico por um tempo, mas consideram que a volta da inflação para a meta é chave para alcançar o máximo emprego de forma sustentável. Indicaram que mais aumentos nos juros serão apropriados, mas pode ser desejável reduzir o ritmo e avaliar os efeitos da política monetária já implementada. Sinalizaram que para a próxima reunião, em 21 de setembro, o aumento nos juros dependerá dos dados.

Setor imobiliário segue com sinais de contração. Os índices de permissão para construir novas unidades e de construção de novas moradias encolheram 1,3% e 9,6%, respectivamente, em julho, segundo o Departamento de Comércio, sinalizando menor demanda em meio às taxas de hipoteca elevadas. A venda de casas usadas contraiu 5,9% no mesmo período, segundo a Associação Nacional de Corretores de Imóveis (NAR, na sigla em inglês). Este foi o sexto mês consecutivo de queda, trazendo o nível de vendas para o menor patamar em 2 anos. Os estoques de casas disponíveis para venda têm aumentado, mas seguem baixos, e ainda pressionam preços. A confiança das construtoras (NAHB Housing Market Index) teve queda de 6 pontos, recuando para 49 em agosto. Desde o início do ano, o setor tem desacelerado, indicando que taxas de hipotecas mais altas tem pesado sobre vendas e otimismo das empresas.

As vendas no varejo permaneceram estáveis em julho em relação ao mês anterior, segundo o Departamento de Comércio. As vendas continuam acima da tendência pré-pandemia. A produção industrial cresceu 0,6% em julho, segundo o banco central americano, mantendo-se acima do nível pré-pandemia. Houve crescimento melhor do que o esperado em manufaturas, depois de 2 meses de contração.

Os indicadores regionais de atividade industrial do Federal Reserve (Fed) vieram com sinais mistos em agosto. O índice do Fed da Filadélfia cresceu 11,2 pontos, saindo do território negativo, com melhora na produção e demanda. O índice do Fed de Nova York contraiu 42,4 pontos, entrando em território negativo, com piora significativa na produção e na demanda. Em ambos os índices os preços seguem uma tendência de queda, mas continuam elevados e o tempo de entrega de mercadorias permaneceu razoável para o histórico da série.

Em relatório semanal do Departamento de Trabalho, os pedidos iniciais de seguro-desemprego seguem em níveis baixos, em 250 mil na semana encerrada em 13 de agosto, 2 mil abaixo da semana anterior.

Europa: inflação do Reino Unido alcança 2 dígitos

O conflito entre Rússia e Ucrânia se estende pelo sexto mês. A Rússia continua com ações ofensivas principalmente no leste do país e segue para tomar a região de Donbas. A Ucrânia mostra resistência e segue recebendo ajuda militar, financeira e humanitária do Ocidente. O conflito se estende por mais tempo do que era previsto. O presidente da Turquia e o secretário-geral das Nações Unidas se encontraram com o presidente ucraniano para discutir possíveis passos para um acordo de paz. Uma reunião com o presidente russo deve ocorrer em seguida.

Os preços das commodities continuam com alta volatilidade. Entre os dias 12 e 18 de agosto, o petróleo cedeu um pouco, com preocupações quanto a uma desaceleração global. O gás natural continuou elevado em meio ao maior consumo de energia em razão das altas temperaturas durante o verão e ao baixo fornecimento russo. O gasoduto de Nord Stream, principal canal de gás entre Rússia e Alemanha, permanece operando com apenas 20% da capacidade mesmo depois de concluída a manutenção. Os grãos (milho e trigo) cederam com as exportações da Ucrânia ganhando força, depois de acordo para reabertura de portos no Mar Negro, que estavam fechados desde o início da guerra, firmado há três semanas com a Rússia.

No Reino Unido, o mercado de trabalho permaneceu firme, segundo o Departamento de Estatísticas Nacional do Reino Unido: os salários, excluindo bônus, cresceram 5,1% nos três meses até junho e o emprego aumentou 160 mil no mesmo período, 136 mil a menos que no período anterior, mas ainda assim robusto. A taxa de desemprego permaneceu baixa em 3,8%, próxima do menor nível alcançado desde 2000, de 3,7%. Houve leve diminuição da participação na força de trabalho (63,3%), que continua abaixo do nível pré-pandemia. As vendas no varejo cresceram 0,3% em julho frente ao mês anterior, depois de queda de 0,2% em junho. A tendência nos últimos três meses foi de queda, mas o índice permanece acima do nível pré-pandemia.

A inflação ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) no Reino Unido subiu mais que o esperado em julho, com maior aceleração nos preços de serviços. O índice subiu 0,6% frente ao mês anterior, com aumento no preço de energia (0,2%) e alimentos (2,2%).  O núcleo (exclui alimentos e energia) desacelerou para 0,3%. Em 12 meses, a inflação acumula a maior alta em 40 anos, 10,1%, sendo a primeira vez que alcança dois dígitos no período. O núcleo subiu robustos 6,2%. A inflação ao produtor também acelerou, sugerindo que preços ao consumidor devem continuar subindo.

A confiança do consumidor inglês diminuiu 3 pontos para -44 em agosto, segundo a empresa de pesquisa GfK. O índice alcançou novo mínimo na série histórica que começou em 1974, em meio a um aumento do custo de vida. Apesar da deterioração da confiança, preocupações com desemprego, calculadas pelo mesmo instituto, seguem baixas.

China: atividade perde impulso

O primeiro-ministro Li Keqiang pediu a governos locais de algumas províncias que aumentem apoio fiscal à produção e demanda. Reconheceu uma desaceleração maior que o esperado causada por lockdowns e pediu às autoridades maior equilíbrio entre medidas de controle de Covid-19 e a economia.

O número diário de casos de Covid-19 continua aumentando, próximos de 3.000 no fim desta semana. Os casos estão concentrados em províncias mais ao sul – ilha de Hainan -, e noroeste do país, que possuem aproximadamente 90% dos novos casos. O número de áreas de risco está elevado, mas boa parte está concentrada na ilha de Hainan. O governo chinês, seguindo a política de Covid zero, tem priorizado isolamentos, com criação de áreas de risco e empresas funcionando em loop fechado tão logo o número de casos aumenta nas proximidades. Em Xangai, o número de casos diários continua baixo, mas testagens seguem ocorrendo semanalmente até o fim de agosto. 

A atividade desacelerou e desapontou as expectativas para o mês de julho, segundo dados do Escritório Nacional de Estatística (NBS, na sigla em inglês). A demanda mais moderada e uma persistente fraqueza no setor imobiliário pesaram sobre a economia: a produção industrial cresceu moderadamente, 3,8% frente ao mesmo mês do ano anterior, impulsionada por exportações e por melhora contínua na produção de veículos; a produção de serviços perdeu força e subiu 0,6% em meio a menor demanda doméstica; as vendas no varejo cresceram mais moderadamente, 2,7%. A taxa de desemprego urbano diminuiu de 5,5% para 5,4%, mas permanece elevada entre jovens (19,9% na faixa de 16 a 24 anos).

O investimento em ativos fixos (FAI, na sigla em inglês) desacelerou para 5,7% nos sete primeiros meses do ano frente ao mesmo período do ano anterior. Os investimentos em infraestrutura seguem sólidos e investimentos em manufatura moderaram. No entanto, investimentos imobiliários continuam diminuindo em razão de dificuldades enfrentadas pelo setor. As vendas de imóveis residenciais contraíram 31,4% no período. O preço médio de casas novas em 70 cidades chinesas continuou cedendo 0,1% em julho frente ao mês anterior, décima-primeira queda consecutiva do índice, apesar de menores taxas de hipotecas anunciadas em maio, sinalizando menor confiança de potenciais proprietários com empresas do setor.

O banco central chinês (PBOC) reduziu a taxa de juros de referência para crédito de médio prazo de 1 ano em 10 pontos-base para 2,75%, em meio a dados de crédito e atividade mais fracos, sinalizando uma perda de impulso da economia.

Brasil

Focus: expectativa de inflação para 2024 registra nova deterioração

A projeção para o IPCA apresentou queda para 2022 (de 7,11% para 7,02%), alta para 2023 (de 5,36% para 5,38%) e para 2024 (de 3,3% para 3,41%). O número esperado para o PIB ficou praticamente estável para 2022 (passou de 1,98% para 2%) e para 2023 (de 0,40% para 0,41%). A taxa Selic ficou estável em 13,75% para o final deste ano, em 11% para 2023 e em 8% para 2024. As projeções estão no Boletim Focus, relatório do Banco Central que reúne a expectativa das instituições financeiras em relação aos principais indicadores econômicos do país.

Inflação: bens industriais mostram desaceleração

O IGP-10 registrou deflação de 0,69% em agosto e acumula alta de 8,82% em 12 meses. A composição dos índices de atacado mostrou o IPA agrícola com leve alta de 0,19% frente à alta de 0,16% no mês anterior. O núcleo do IPA industrial – que inclui apenas os itens relacionados à inflação de bens industriais do IPCA, excluindo alimentos, combustíveis e minério de ferro – registrou elevação de 0,18% ante 0,15% em julho. No acumulado em 12 meses, ambos indicadores apresentam desaceleração, ainda que em patamar elevado, em 14,5% para o núcleo dos bens industriais e em 9,6% para o IPA agrícola. À frente, esperamos que o núcleo do IPA industrial siga desacelerando em ritmo lento no acumulado em 12 meses, enquanto o IPA agrícola pode apresentar volatilidade.

Equipe Econômica C6 Bank

Felipe Salles Head
Claudia Moreno Head Brasil
Claudia Rodrigues Head Internacional
Felipe Mecchi Internacional
Heliezer Jacob Brasil

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