Resumo semanal: Inflação de serviços resiliente

Confira as principais notícias da semana, segundo a avaliação da equipe econômica do C6 Bank

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Confira as principais notícias da semana (10/4-14/4), segundo a avaliação da equipe econômica do C6 Bank. Leia a íntegra do relatório.

Internacional

Estados Unidos: inflação desacelera, mas juros devem permanecer elevados

A inflação desacelerou pelo segundo mês consecutivo. O índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) subiu 0,1% em março frente ao mês anterior, de acordo com o Departamento do Trabalho. O núcleo do índice (exclui alimentos e energia) também desacelerou para 0,4% no mesmo período, com leve aumento no preço de bens e aumento moderado no preço de serviços, depois que o preço de aluguéis começou a perder força. A inflação de serviços, que representa mais de 73% do núcleo, tem desacelerado lentamente, em razão do forte mercado de trabalho. Em 12 meses, o núcleo do CPI acumula alta de 5,6%, ainda elevado. Outro relatório do Departamento do Trabalho também mostra sinais de desaceleração da inflação. O índice de preços ao produtor (PPI, na sigla em inglês) contraiu 0,5% em março. O núcleo (exclui alimentos e energia) teve queda de 0,1% no mesmo período. Nos últimos 12 meses, o PPI acumula alta de 2,7% e o núcleo 3,4%.

A ata da reunião de março do banco central americano (Federal Reserve – Fed) indicou que os membros do comitê de política monetária consideraram que um dos efeitos da crise, que levou ao colapso de dois bancos regionais americanos, seria um possível aperto no crédito, o que poderia reduzir a pressão inflacionária. Julgaram, no entanto, que os impactos sobre a economia ainda eram incertos e optaram por manter o ciclo de alta de juros com um aumento moderado de 25 pontos-base, em razão da inflação elevada. Apesar da incerteza, membros ponderaram que as medidas tomadas por órgãos reguladores tinham ajudado a acalmar as condições no setor bancário. O Fed também sinalizou mais aumentos de juros à frente. Segundo as projeções de membros do Banco, mais uma alta de 25 pontos-base deve ocorrer antes de terminar o ciclo de ajuste.

Nossa visão está em linha com a do Fed. Acreditamos que mais um aumento de 25 pontos-base na reunião de maio ajudaria a assegurar a desaceleração da inflação num contexto de demanda ainda forte. Não prevemos cortes nos juros até meados de 2024. Reconhecemos, no entanto, que, caso haja um aperto de crédito decorrente do colapso de alguns bancos regionais, o início do corte de juros pelo Fed pode ser antecipado.

O mercado de trabalho segue robusto, mas com sinais iniciais de desaceleração. Em relatório semanal, os pedidos iniciais de seguro-desemprego continuam em níveis baixos para padrões históricos, em 239 mil na semana encerrada em 8 de abril, 11 mil acima da semana anterior.

A atividade tem perdido fôlego. As vendas no varejo contraíram 1% em março, frente ao mês anterior, segundo o Departamento de Comércio. Apesar da queda, as vendas permanecem acima da tendência pré-pandemia. A produção industrial subiu 0,4% no mesmo mês, segundo dados do Fed, em razão do aumento na produção de eletricidade. Houve queda, maior do que o esperado, na produção de manufaturas.

O índice de confiança da Universidade de Michigan mostrou uma expectativa de inflação de curto prazo mais alta, em 4,6% ao ano, mas as expectativas de inflação de longo prazo permanecem ancoradas em 2,9% ao ano.

O dólar vem perdendo força contra as demais moedas desde o início de março com turbulências no setor bancário local e a percepção por parte de investidores de um possível corte de juros por parte do Fed antes do sinalizado por membros do comitê de política monetária.  Em nossa visão, o dólar deve se estabilizar próximo aos valores atuais. Acreditamos que os juros elevados levem a uma desaceleração da economia americana, esfriando lentamente o mercado de trabalho, mas não a uma recessão.

Europa: BCE atento à estabilidade de preços e financeira

A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, em evento do Fundo Monetário Internacional, disse que o BCE está pronto para agir se necessário para preservar a estabilidade de preços e a financeira. Acrescentou que o mercado de trabalho resiliente e o crescimento de salários em economias avançadas sugerem que a pressão inflacionária subjacente permanece forte.

A guerra entre Rússia e Ucrânia está no segundo ano. Mísseis russos continuam sendo lançados sobre várias cidades. A região leste da Ucrânia continua sendo a mais afetada. O presidente do Brasil está na China e uma conversa entre os líderes de ambos os países sobre um possível plano de paz é aguardada. Líderes ocidentais têm pedido para que a China use mais de sua influência para restaurar a paz na Ucrânia. O conflito segue sem perspectiva de um fim próximo.

Preços das commodities energéticas ficaram mais estáveis na semana. Entre os dias 6 e 13 de abril, o preço do petróleo subiu 1% (Brent), permanecendo próximo de 85 dólares por barril. A Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês) prevê um aperto no mercado de petróleo em razão do corte de produção da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (OPEP+) e de um aumento na demanda, com recuperação da China pós-pandemia. Em nossa visão, uma desaceleração da atividade em curso, em razão de juros elevados, e a manutenção de um dólar em patamar ainda forte, que tende a reduzir o preço em dólar de produtos cotados na moeda americana, deve evitar pressões adicionais no preço do petróleo. O preço do gás natural recuou 2,5% no mesmo período e se mantém 50% abaixo da média de janeiro de 2022 (pré-guerra), com estoque de gás elevado, o que continua sinalizando perspectivas melhores de crescimento na região.

As vendas no varejo contraíram 0,8% em fevereiro frente ao mês anterior, segundo o Eurostat. A tendência tem sido de queda nas vendas no varejo desde meados de 2022, com a pressão inflacionária reduzindo o poder de compra.

A produção industrial teve aumento sólido de 1,5% em fevereiro frente ao mês anterior com ajuste sazonal, segundo o Eurostat. No período, o aumento foi disseminado entre as diversas categorias com destaque para setores intensivos em energia. Por país, a produção industrial veio forte na Alemanha e na França.

No Reino Unido, o PIB ficou estável em fevereiro frente ao mês anterior e houve revisão para cima no dado de janeiro, segundo o Departamento Nacional de Estatística. Tudo indica que o PIB do 1T23 será levemente positivo na região, melhor que o esperado pelo Banco da Inglaterra. A atividade na indústria e no setor de serviços contraiu em fevereiro, ambas impactadas por greves no período, mas o setor de construção teve expansão, em razão de um clima mais favorável.

China: atividade segue ganhando força

A balança comercial teve forte superávit de 88,2 bilhões de dólares em março, bem maior que o esperado. Houve forte aumento nas exportações, sinalizando uma retomada da atividade e resiliência na demanda externa. O aumento nas exportações ocorreu tanto para economias desenvolvidas, inclusive Estados Unidos e Europa, quanto para emergentes. As importações tiveram leve queda no mês, mas com forte aumento nas importações de petróleo.

O fluxo de crédito agregado expandiu mais que o esperado em março. O volume foi de 5,41 trilhões de yuans, segundo o Banco Central da China (PBOC, na sigla em inglês). O crédito aumentou com mais empréstimos bancários de médio e longo prazo às empresas e famílias. O crédito para hipotecas subiu pelo segundo mês consecutivo, depois de 14 meses de contração.

A inflação desacelerou e segue baixa. O índice de preços ao consumidor (CPI) subiu 0,7% em março frente ao mesmo mês do ano anterior, segundo o Escritório Nacional de Estatísticas chinês (NBS, na sigla em inglês), mostrando que, apesar da recuperação da atividade, a demanda segue contida. O índice de preços ao produtor (PPI) teve queda de 2,5% no mesmo período, a sexta consecutiva, refletindo menor preço de commodities no mercado internacional.

Brasil

Focus: projeções de inflação e Selic estáveis

A projeção para o IPCA ficou estável para 2023 (de 5,96% para 5,98%), para 2024 (de 4,13% para 4,14%), para 2025 (4%) e para 2026 (4%). Os números esperados para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) não apresentaram mudanças para 2023 (de 0,9% para 0,91%), porém tiveram leve queda para 2024 (de 1,48% para 1,44%). A taxa Selic não foi alterada para 2023 (12,75%), para 2024 (10%), para 2025 (9%) e nem para 2026 (8,75%). As projeções estão no Boletim Focus, relatório do Banco Central que reúne a expectativa das instituições financeiras em relação aos principais indicadores econômicos do país.

Atividade: dados de janeiro corroboram PIB de 1,5% no ano

A Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) de janeiro mostrou expansão de 0,2% frente ao mês anterior no volume de vendas no comércio varejista ampliado, resultado levemente abaixo do que nós projetávamos. A composição do indicador mostrou que tanto os segmentos sensíveis ao crédito registraram expansão (1,1%) quanto aqueles mais sensíveis à renda (3,3%). Apesar da alta no mês, mantemos nossa visão de que os setores mais sensíveis ao crédito devem ter um desempenho mais fraco nos próximos meses.

A Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) de janeiro mostrou volume de serviços contraindo 3,1% na comparação mensal, após registrar alta de 2,9% em dezembro. O dado veio abaixo das expectativas do mercado e da nossa projeção. Entretanto, o segmento de serviços prestados às famílias, que tem um peso relevante no PIB, registrou alta de 1% no mês. O setor de serviços deve continuar em ritmo fraco ao longo de 2023. 

Os resultados de janeiro corroboram nossa visão de perda de ritmo da atividade, porém seguimos vendo chance de um PIB forte no primeiro trimestre de 2023, impulsionado principalmente pelo setor agropecuário. À frente, a alta de juros e a desaceleração global devem comprometer a expansão da atividade até o final do ano que vem. Projetamos crescimento do PIB de 1,5% para 2023 e de 1% para 2024.

Inflação: núcleos de inflação seguem elevados

O IPCA de março registrou alta de 0,71% – abaixo do que nós (0,74%) e o mercado (0,77%) esperávamos. O IPCA acumula alta em 12 meses de 4,7% e mostra desaceleração nessa métrica. Nossa projeção é que o IPCA continue caindo nessa métrica até chegar próximo de 4% em junho. Entretanto, o IPCA deve voltar a acelerar no segundo semestre, quando o efeito da redução de impostos adotada pelo governo em 2022 tiver saído completamente da base de cálculo. A inflação de serviços segue elevada, registrou alta de 7,6% em 12 meses e deve continuar desacelerando a passos lentos devido à inércia inflacionária. A inflação de bens industriais mostra clara tendência de queda nos últimos meses e deve seguir recuando à frente. Projetamos IPCA de 6% para 2023 e de 5,5% para 2024.

A inflação medida pelo IGP-DI caiu 0,34% em março, abaixo da mediana das projeções do mercado de -0,13%. Em 12 meses, o índice está em -1,2%, voltando para território negativo pela primeira vez desde 2018. A composição dos índices de atacado mostrou o IPA agrícola com queda de 1,04% frente à alta de 0,26% no mês anterior. O núcleo do IPA industrial – que inclui apenas os itens relacionados à inflação de bens industriais do IPCA, excluindo alimentos, combustíveis e minério de ferro – voltou a registrar deflação (-0,27%). Em 12 meses, o IPA agrícola está em -6,9% e o núcleo do IPA industrial em 1,6%.

Equipe Econômica C6 Bank

Felipe Salles Head
Claudia Moreno Head Brasil
Claudia Rodrigues Head Internacional
Felipe Mecchi Internacional
Heliezer Jacob Brasil

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