Confira as principais notícias da semana, segundo a avaliação da equipe econômica do C6 Bank
Atualizado em
Confira as principais notícias da semana (20/6-24/6), segundo a avaliação da equipe econômica do C6 Bank. Leia a íntegra do relatório.
O presidente do banco central americano (Federal Reserve - Fed), Jerome Powell, em depoimento semestral ao Congresso, reiterou que o objetivo do banco é estabilizar preços e manter o máximo emprego. Afirmou que, ao aumentar a taxa de juros, o Fed pretende trazer a inflação de volta à meta e seu compromisso com esse objetivo é incondicional. Espera um pouso suave, e não uma recessão.
A economia americana desacelerou mais em junho, de acordo com as prévias dos índices de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês). O PMI composto, que combina os índices PMI do setor de manufaturas e do setor de serviços, diminuiu 2,4 pontos para 52,4, principalmente em razão de uma desaceleração no setor de manufaturas. No geral, o índice composto refletiu um crescimento menor da demanda e da produção e uma persistência da pressão inflacionária. No detalhe, o PMI de manufaturas diminuiu 4,6 pontos para 52,4, enquanto o PMI de serviços diminuiu 1,8 ponto para 51,6.
O setor imobiliário tem apresentado retração na atividade. A venda de casas usadas contraiu 3,4% em maio frente ao mês anterior, segundo a Associação Nacional de Corretores de Imóveis (NAR, na sigla em inglês). Este foi o quarto mês consecutivo de queda, trazendo o nível de vendas para próximo à média de 2019. Apesar da queda, o estoque de casas usadas disponíveis para venda permanece baixo e continua pressionando preços.
O conflito entre Rússia e Ucrânia se estende e entra no quinto mês. A Rússia avançou no leste do país, mas a batalha continua para tomar a região de Donbas. A Ucrânia mostra resistência e segue recebendo ajuda militar, financeira e humanitária do Ocidente. Negociações diretas entre Rússia e Ucrânia estão praticamente paradas. O conflito se estende por mais tempo do que era previsto. A União Europeia aceitou a candidatura da Ucrânia como membro do bloco, iniciando um processo que pode demorar anos, mas que aproxima o país do Ocidente.
Os preços das commodities continuam com alta volatilidade. Entre os dias 17 e 23 de junho o petróleo cedeu (-3%), em meio a preocupações com uma desaceleração do crescimento global. O gás natural continuou subindo (13%), em razão de menor fornecimento russo à Alemanha e à Itália, importantes distribuidores do produto para a região. A redução no abastecimento tem levado alguns países do bloco a iniciarem uma reativação de usinas à carvão.
A confiança do consumidor diminuiu mais em junho e está próxima do nível alcançado em abril de 2020 quando a região passava por um surto de Covid-19. O índice da Comissão Europeia diminuiu 2,4 pontos, alcançando -23,6, possivelmente em razão de uma inflação elevada e da continuidade do conflito na Ucrânia.
A atividade desacelerou no mês de junho, de acordo com as prévias dos índices de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês). O índice diminuiu para o menor nível em 16 meses, com queda no setor de manufaturas e serviços. O PMI de manufaturas diminuiu 2,6 pontos, para 52, com menor demanda. O PMI de serviços caiu 3,3 pontos, para 52,8. Ambos os índices continuam sinalizando pressão inflacionária.
No Reino Unido, a atividade permaneceu estável em junho, com o setor de serviços mostrando resiliência. A prévia do PMI de serviços ficou em 53,4 e a do PMI de manufaturas diminuiu 1,2 ponto para 53,4. O PMI composto, que combina componentes dos dois índices, permaneceu em 51,3, menor nível desde março de 2021 quando terminava um lockdown relacionado à Covid-19.
A inflação ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) desacelerou em maio conforme esperado. O índice subiu 0,7% frente ao mês anterior, com menor aumento no preço de energia (0,3%) e alta no preço de alimentos (1,5%). O núcleo (exclui alimentos e energia) desacelerou para 0,5%, com moderação no preço de bens. Apesar da queda na margem, a inflação em 12 meses acumula a maior alta em 40 anos, 9,1%, com o núcleo subindo robustos 5,9%.
A confiança do consumidor recuou mais 1 ponto para -41 em junho, segundo a empresa de pesquisa GfK. O índice está no menor nível desde o início da série em 1974, em meio a um aumento do custo de vida. Apesar da deterioração da confiança, preocupações com desemprego, calculadas pelo mesmo instituto, diminuíram e estão longe de níveis que indicariam recessão. As vendas no varejo diminuíram 0,5% em maio frente ao mês anterior, mostrando uma perda de impulso do consumo. Apesar da queda, vendas no varejo permanecem pouco acima do nível pré-pandemia.
O presidente Xi Jinping, em evento dos BRICS, reafirmou que a meta de crescimento do país para o ano, de algo em torno de 5,5%, será alcançada. Esta foi primeira vez desde abril que o presidente fez referência à meta, que se tornou desacreditada por economistas em meio ao enfraquecimento do setor imobiliário e da desaceleração da atividade provocada por medidas restritivas associadas à estratégia de Covid zero. O presidente disse que o país irá fortalecer ajustes na política macroeconômica e aplicar medidas mais efetivas para alcançar as metas de crescimento econômico e social e minimizar os impactos do vírus.
O número diário de novos casos de Covid-19 continuou diminuindo. As duas maiores cidades do país, Xangai e Pequim, continuam realizando testagens frequentes e o número de casos segue baixo. A mobilidade tem aumentado, o que deve dar força à atividade.
O banco central da China (PBOC, na sigla em inglês) manteve inalteradas as taxas de juros de curto prazo (LPR 1 ano) e de longo prazo (LPR 5 anos) em 3,70% e 4,45% ao ano, respectivamente, conforme esperado. O PBOC tem mostrado preferência por medidas de crédito direcionadas a alguns setores ao invés de uma redução nas taxas de juros em meio a um aperto de política monetária em várias economias desenvolvidas.
O IPCA-15 de junho registrou expansão de 0,69%, em linha com o mercado (0,68%) e acima do que nós projetávamos (0,60%). O índice acumula alta de 12,04% na variação em 12 meses. Houve surpresa para cima em serviços e na média dos núcleos do Banco Central, enquanto bens industriais vieram mais fracos. A composição do índice mostra inflação desses segmentos desacelerando em relação aos últimos meses, mas ainda em patamar elevado. Em 12 meses, a inflação de serviços acumula alta de 8,8%, e a de bens industriais de 14%. A inflação de serviços deve continuar alta nos próximos meses, sob efeito da inércia inflacionária. A inflação de bens industriais também deve seguir elevada devido aos novos choques nas cadeias globais de produção (Guerra na Ucrânia e lockdowns na China). A inflação de serviços e bens industriais devem desacelerar a passos lentos.
Vale notar que, a partir de julho, as divulgações do IPCA geral devem sofrer impacto da implementação do PLP 18/2022, Projeto de Lei Complementar que limita o ICMS de energia elétrica, combustíveis e telecomunicações e afetam em cheio a inflação de bens administrados. O timinge a magnitude do repasse aos preços são variáveis que aumentam a incerteza para as próximas divulgações.
O Banco Central divulgou nesta terça (21) a ata da reunião da semana passada do Copom e respondeu a perguntas em coletiva de imprensa na quinta-feira.
As projeções de inflação do BCB no cenário de referência subiram de 7,3% para 8,8% para 2022 e de 3,4% para 4% para 2023. Para 2024, o modelo indica inflação de 2,7%. Este cenário supõe a trajetória de juros prevista na Pesquisa Focus, que se eleva até 13,25% ao final de 2022, reduz-se para 10% ao final de 2023 e 7,5% em 2024. Na coletiva de imprensa, o BCB ainda informou que no cenário com Selic estável em 13,25%, a projeção de inflação de 2023 cairia de 4% para 3,7%.
O texto da ata trouxe uma novidade importante. O comitê esclareceu que a estratégia de convergência para o redor da meta no horizonte relevante exige a “manutenção da taxa de juros em território significativamente contracionista por um período mais prolongado que o utilizado no cenário de referência”, sinalizando que a Selic deve permanecer alta por período prolongado.
Entretanto, o Copom reconheceu que, dada a persistência dos choques recentes, “somente a perspectiva de manutenção da taxa básica de juros por um período suficientemente longo não asseguraria, neste momento, a convergência da inflação para o redor da meta no horizonte relevante”. Portanto, o comitê optou por sinalizar um novo ajuste de igual (50 pontos-base) ou menor magnitude para a próxima reunião.
A questão que se coloca é: quantas altas adicionais da Selic são necessárias para que o objetivo de trazer a inflação para o redor da meta seja cumprido? Na nossa visão, existe uma incerteza em relação a este ponto pelos seguintes motivos: (i) o comitê não detalhou o que “para o redor da meta” significa, disse apenas que é abaixo de 4%; (ii) o Copom sinalizou que suas projeções para 2023 devem subir acima dos atuais 4% com a incorporação do impacto das medidas tributárias em tramitação, mas não indicou o quanto; e por fim (iii) acreditamos que as expectativas de inflação de 2023 devem voltar a subir ao longo das próximas semanas.
Vale lembrar que, nas duas próximas reuniões (agosto e setembro), o BCB deve estender seu horizonte relevante de política monetária, passando a olhar também para o ano de 2024, ainda que com peso menor do que o ano de 2023. De qualquer forma, o ano de 2023 seguirá sendo o foco principal da política monetária. Nas duas reuniões subsequentes (outubro e dezembro), a probabilidade de elevações adicionais de juros diminui, dado que os anos de 2023 e 2024 passarão a ter pesos iguais e as projeções do Copom já indicam IPCA de 2024 abaixo da meta mesmo com queda de juros.
Em resumo, acreditamos, por ora, que a ata, as projeções do BCB e o cenário são condizentes com a continuação do ciclo de alta de juros por mais duas reuniões, em ritmo de 50 pontos-base, mas existe incerteza elevada com relação a esse ponto. Aguardamos a divulgação do Relatório de Inflação de junho no dia 30 para termos mais detalhes sobre os rumos futuros da política monetária.
Equipe Econômica C6 Bank
Felipe Salles Head
Claudia Moreno Head Brasil
Claudia Rodrigues Head Internacional
Felipe Mecchi Internacional
Heliezer Jacob Brasil
Este relatório foi preparado pelo Banco C6 S.A.
Os números contidos nos gráficos de desempenho referem-se ao passado; o desempenho passado não é garantia de resultados futuros.
Cada analista de Macro Research é o principal responsável pelo conteúdo deste relatório e atesta que:
(i) todas as opiniões expressas refletem com precisão suas opiniões pessoais e eventual recomendação foi elaborada de forma independente, inclusive em relação ao Banco C6 S.A. e / ou suas afiliadas;
(ii) nenhuma parte de sua remuneração foi, está ou estará, direta ou indiretamente, relacionada a quaisquer recomendações específicas realizadas pelo analista.
Parte da remuneração do analista vem dos lucros do Banco C6 S.A. e / ou de suas afiliadas e, consequentemente, as receitas decorrem de transações mantidas pelo Banco C6 S.A. e / ou suas coligadas.
Este relatório foi preparado pelo Banco C6 S.A., uma instituição regulada por autoridades brasileiras.
O Banco C6 S.A. é responsável pela distribuição deste relatório no Brasil.