Relatório mensal – Brasil: atividade ganha força

A equipe econômica do C6 Bank, liderada por Felipe Salles, divulgou nesta quinta-feira (1) mais uma edição do seu relatório macroeconômico.

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Internacional

EUA

O mercado de trabalho continua desaquecendo. A inflação está em tendência de queda, embora permaneça acima da meta. O núcleo do índice (medido pelo PCE) acumulou alta de 2,6% em junho. O banco central americano (Federal Reserve – Fed) manteve a taxa de juros no intervalo de 5,25% e 5,5%, mas reconheceu que a inflação e o mercado de trabalho parecem caminhar em direção aos seus objetivos. Um corte de juros em setembro não foi descartado – a decisão, no entanto, vai depender dos dados. Na nossa visão, o Fed deve dar o primeiro passo no ciclo de flexibilização monetária ainda neste ano, após a reunião de setembro.

Europa

A atividade econômica permanece fraca, com desaceleração de boa parte da indústria dos países da região. Apesar disso, o desemprego está em 6,5%, se mantendo próximo da mínima histórica. Em julho, o núcleo da inflação europeia permaneceu em 2,9%, mas a composição melhorou, com a menor persistência de preços de serviços. O Banco Central Europeu (BCE) manteve as taxas de juros inalteradas, depois de um primeiro corte na reunião anterior. A presidente do BCE, Christine Lagarde, reforçou que o comitê segue dependente de dados para decisões futuras. Em nossa visão, o BCE deve cortar juros mais vezes este ano, em razão da perda de força da atividade e da desaceleração da inflação em curso.

Japão

A inflação permaneceu elevada em junho. O núcleo do índice, que exclui alimentos frescos, acelerou para 2,6%, com a redução de subsídios de energia. A desvalorização do iene é mais um fator que pressiona a inflação. O Banco do Japão surpreendeu ao subir a taxa de juros e anunciar a redução da compra de ativos na última reunião. O presidente da instituição afirmou que os juros devem continuar subindo gradualmente e acrescentou que, apesar do aumento recente que elevou a taxa para 0,25%, a política monetária segue bastante acomodativa.

China

O PIB cresceu 4,7% no 2T24, colocando em dúvida o cumprimento da meta de crescimento de cerca de 5% determinada pelo governo para 2024. A atividade econômica chinesa vem perdendo força, em razão de um esfriamento do consumo e dos investimentos no setor imobiliário. O Banco do Povo da China reduziu as taxas de juros de curto, médio e longo prazo, em mais uma medida de suporte à economia. Em reunião da cúpula do Partido Comunista da China, líderes apontaram a necessidade de aumentar a demanda interna. Nenhum grande estímulo foi anunciado, mas os membros do governo reforçaram o compromisso de alcance da meta de crescimento para o ano. Medidas já adotadas para apoiar o setor imobiliário ainda não tiveram efeito significativo.

Brasil

O avanço da economia brasileira neste ano pode ser atribuído, em boa parte, ao impulso dos gastos públicos e ao aumento da massa salarial. As enchentes que afetaram o Rio Grande do Sul parecem ter influenciado o PIB de forma limitada: os indicadores de atividade mostram que a queda sofrida pela economia da região Sul, em maio, foi seguida de uma recuperação. Os dados de atividade referentes aos meses de junho e julho, já divulgados, vieram mais fortes do que o esperado, indicando bom crescimento na margem. Revisamos nossa projeção de crescimento do PIB de 2,2% para 2,5% em 2024.  No ano que vem, a economia deve ter um avanço mais moderado, com alta de 1,2% do PIB.

O crescimento acima do potencial (estimamos cerca de 1,5%) contribui para a queda da taxa de desemprego. Projetamos taxa de desemprego para o final de 2024 e de 2025 levemente abaixo de 7%. A forte expansão da renda real corrobora nossa visão de mercado de trabalho aquecido.

Do lado fiscal, o setor público registrou déficit de 2,3% do PIB em 2023. Projetamos déficit primário de 0,8% do PIB neste ano. Os programas de ajuda e recuperação do Rio Grande do Sul e o congelamento de R$ 15 bilhões, anunciados no contexto do 3º relatório bimestral de avaliação de receitas e despesas primárias, já foram incorporados na projeção. Para 2025, projetamos déficit de 0,9%. Acreditamos que o crescimento dos gastos obrigatórios pode comprometer o limite das despesas. 

Na nossa visão, apesar de o novo arcabouço ser um passo importante para a sustentabilidade fiscal, na ausência de outras reformas que permitam reduzir os gastos obrigatórios, será necessária uma forte queda dos juros reais para impedir o crescimento da dívida do país.

A tendência de alta da dívida líquida do setor público deve prosseguir, mas ajustamos nossa projeção em função, principalmente, de um PIB nominal mais elevado. A projeção caiu de 63,5% do PIB para 63,2% em 2024 e de 66,4% para 65,9% em 2025.

Com o esperado início do ciclo de cortes de juros nos Estados Unidos, o dólar deve perder força globalmente. Entretanto, na nossa visão, o nível e a trajetória da dívida pública brasileira podem limitar a valorização do real. Acreditamos que os fatores domésticos devem prevalecer sobre os fatores externos. Projetamos um dólar de R$ 5,50 ao final de 2024 e de R$ 5,80 ao final de 2025.

Em relação às transações correntes, o Banco Central anunciou uma revisão na metodologia para a balança comercial. Os criptoativos, que até então eram tratados como bens, passaram a ser considerados como registro na conta de capital. Devido a essa mudança, revisamos nossa projeção de um déficit de US$ 33 bilhões para um déficit de US$ 27 bilhões em 2024. Já para 2025, a revisão foi de um déficit de US$25 bilhões para um déficit de US$9 bilhões

A prévia da inflação, medida pelo IPCA-15, registrou alta de 4,4% nos 12 meses até julho, voltando a acelerar. O alívio trazido pela queda das cotações de commodities no exterior e pela consequente desaceleração dos preços de alimentos e de bens industriais deve ter ficado no passado. A maior preocupação continua a ser com o avanço dos preços de serviços. Com o mercado de trabalho brasileiro aquecido, os salários tendem a aumentar além dos ganhos de produtividade. Essa é a principal razão para ainda enxergarmos um quadro de inflação pressionada à frente. Na nossa visão, o IPCA encerrará 2024 em 4,7% e 2025 em 5%.

Em julho, o Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a taxa Selic estável em 10,5%, pela segunda reunião consecutiva. O comunicado adotou um tom relativamente suave, a despeito da deterioração nas expectativas de inflação, da depreciação cambial e da piora no balanço de riscos. As projeções de inflação do Comitê para o início de 2026 estão próximas da meta, sinalizando, na nossa visão, que a autoridade não enxerga, por ora, a necessidade de aperto monetário adicional. Acreditamos que a Selic terminará 2024 em 10,5%. Para 2025, mantemos a expectativa para a taxa de juros em 9%.  

Projeções macroeconômicas do C6 Bank

 201920202021202220232024P2025P
Atividade   
Crescimento Real do PIB1,2%-3,3%4,8%3,0%2,9%2,5%1,2%
PIB Nominal (R$ bi)7.3897.6109.01210.08010.85611.62612.490
Fiscal 
Resultado Primário (% PIB)-0,8%-9,2%0,7%1,2%-2,3%-0,8%-0,9%
Dívida Líquida (% PIB)54,7%61,4%55,1%56,1%60,9%63,2%65,9%
Dívida Bruta (% PIB)74,4%86,9%77,3%71,7%74,4%78,7%82,0%
Setor Externo 
R$/US$ (final de período)4,035,205,585,284,865,55,8
Balança Comercial (US$ bi)303642529286100
Conta Corrente (US$ bi)-65-25-40-41-22-27-9
Conta Corrente (% PIB)-3,5%-1,7%-2,4%-2,1%-1,0%-1,2%-0,4%
Inflação 
IPCA (Var. a/a)4,3%4,5%10,1%5,8%4,6%4,7%5,0%
Juros 
Selic (dez)4,50%2,00%9,25%13,75%11,75%10,50%9,00%

P=Projeção
Fontes: IBGE, BCB, Bloomberg, C6 Bank.
                      

Equipe Econômica C6 Bank

Felipe Salles                   Head

Claudia Moreno      Head Brasil

Claudia Rodrigues    Head Internacional

Felipe Mecchi               Internacional

Heliezer Jacob            Brasil

Este relatório foi preparado pelo Banco C6 S.A.

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