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Resumo semanal: Powell sinaliza possível alta de juros à frente

Confira as principais notícias da semana, segundo a avaliação da equipe econômica do C6 Bank

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Confira as principais notícias da semana (21/8-25/8), segundo a avaliação da equipe econômica do C6 Bank. Leia a íntegra do relatório.

C6 Bank Felipe Salles. Foto: Germano Lüders

Internacional

Estados Unidos: Powell diz que processo desinflacionário ainda tem caminho a percorrer

O presidente do banco central americano (Federal Reserve - Fed), Jerome Powell, discursou no Simpósio Econômico de Jackson Hole, evento anual patrocinado pelo Fed. Powell reconheceu que a inflação passou do pico, mas permanece muito elevada e acrescentou que membros do comitê de política monetária estão preparados para manter uma política restritiva até que tenham confiança de que a inflação está caminhando para a meta. Segundo o presidente da instituição, a resiliência da economia americana pode exigir mais aumentos de juros à frente – apesar da desaceleração em alguns setores, a economia pode não estar esfriando conforme esperado. Powell reafirmou que o banco segue dependente da totalidade dos dados para a próxima decisão.

Mantemos nossa visão que o Fed promoverá uma pausa em setembro para monitorar os efeitos defasados da política monetária implementada até aqui. No entanto, acreditamos que a inflação deve demorar a ceder em razão do mercado de trabalho aquecido, o que deve levar o banco central americano a optar por mais uma alta de juros esse ano. Nossa expectativa é que o Fed manterá os juros elevados por um longo tempo. Não esperamos cortes nos juros antes de meados de 2024.

A atividade continua em expansão moderada, segundo as prévias dos índices de gerentes de compras (PMIs, na sigla em inglês) do mês de agosto. O PMI composto, que inclui o setor de manufaturas e serviços, diminuiu 1,6 ponto para 50,4. A queda no indicador ocorreu principalmente por conta da desaceleração do setor de serviços, que diminuiu 1,3 ponto para 51. O índice de manufaturas também registrou queda de 2 pontos para 47, sinalizando que o setor segue em contração. Na composição do índice, a produção segue em retração em manufaturas, mas em leve expansão em serviços. A demanda doméstica tem desacelerado, mas segue forte. A geração de empregos aumentou moderadamente em manufatura e em serviços. Preços de insumos e produtos seguem elevados.

Os pedidos de bens duráveis e de bens de capital seguem fortes e bem acima do nível pré-pandemia. O núcleo dos pedidos de bens duráveis, que exclui o setor de transportes, continuou em expansão no mês de julho em relação ao mês anterior (0,5%), segundo relatório do Departamento do Comércio dos Estados Unidos. O núcleo dos pedidos de bens de capital, que exclui aeronaves e equipamentos de defesa, registrou leve expansão (0,1%) no mês. Os dados sugerem que investimentos seguem sólidos.

Em relatório semanal, os pedidos iniciais de seguro-desemprego continuam em níveis baixos para padrões históricos, em 230 mil na semana encerrada em 19 de agosto, 10 mil abaixo da semana anterior, sinalizando que o desaquecimento do mercado de trabalho deve ser lento.

O setor imobiliário deu sinais de enfraquecimento. A venda de casas usadas teve retração de 2,2% em julho em relação ao mês anterior, segundo a Associação Nacional de Corretores de Imóveis (NAR, na sigla em inglês). Em nível, a venda de casas usadas segue abaixo da média de 2019 (pré-pandemia) e com tendência de queda desde março. Apesar das vendas mais fracas, o estoque de casas disponíveis para venda segue baixo, mantendo preços elevados. Outra pesquisa sobre o setor mostra que a venda de casas novas aumentou 4,4% em julho, segundo o Departamento de Comércio. Esse segmento representa aproximadamente 15% do total de vendas de casas. De modo geral, após apresentar dados melhores no início do ano, o setor imobiliário tem dado sinais de desaceleração.

Europa: atividade em contração

A guerra entre Rússia e Ucrânia se estende pelo segundo ano. O conflito tem se concentrado principalmente na região do Mar Negro, principal rota de escoamento de grãos ucranianos. Durante a semana, a Rússia atacou outros portos ucranianos no Rio Danúbio, que ganharam relevância depois do fim de acordo de exportação de grãos no Mar Negro. O presidente ucraniano tem buscado apoio de líderes dos Balcãs para proteção de navios que trafegam na região. O fundador do grupo Wagner, que liderou motim contra a Rússia há dois meses, faleceu em um acidente aéreo. O conflito segue sem perspectiva de fim próximo.

A atividade está mais fraca em agosto, de acordo com as prévias dos índices de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês). O índice composto, que inclui o setor de manufaturas e serviços, diminuiu para 47 pontos, ficando abaixo de 50 pelo terceiro mês seguido. A contração continua no setor de manufaturas e foi a primeira em serviços desde o início do ano. Na composição dos indicadores, a produção e a demanda continuaram diminuindo, o emprego ficou praticamente parado e a pressão inflacionária segue diminuindo, mas ainda com pressão de salários. Entre as maiores economias do bloco, os PMIs da Alemanha e da França seguem em contração, com o setor de manufaturas mais fraco que serviços em ambos os países.

A confiança do consumidor diminuiu na margem depois de uma tendência de recuperação que começou no fim de 2022, segundo dados da Comissão Europeia. O índice segue bem abaixo da média pré-pandemia.

No Reino Unido, a atividade também encolheu em agosto. A prévia do PMI da região diminuiu 2,9 pontos para 47,9, com serviços e manufaturas contraindo mais que no período anterior e vindo pior que o esperado. O índice de manufaturas recuou para 42,5 e de serviços para 48,7. Por dentro dos indicadores, a demanda continuou fraca e a pressão inflacionária segue diminuindo.

China: PBoC opta por cautela

O Banco do Povo da China (PBoC, na sigla em inglês) cortou menos do que o esperado a taxa de juros de curto prazo (LPR 1 ano) e manteve inalterada a taxa de longo prazo (LPR 5 anos). A LPR 1 ano foi para 3,45%, corte de 10 pontos-base, e a LPR 5 anos continuou em 4,2%. A expectativa era de um corte de 15 pontos-base em ambas as taxas, depois de redução dessa magnitude na taxa de médio prazo. Acredita-se que o corte menor nas taxas esteja relacionado a preocupações do PBoC com as margens dos bancos, que estão baixas e podem levar a redução nos empréstimos bancários e consequentemente menor crescimento econômico à frente.

O governo central anunciou medidas para tentar aliviar a situação do setor imobiliário. Agora governos locais poderão considerar como compradores do primeiro imóvel indivíduos que já tiveram empréstimos imobiliários no passado. Com essa redefinição, o valor dado como entrada na aquisição de imóvel diminui e as condições de empréstimo são facilitadas. A medida pode ter impacto relevante no setor se cidades grandes, como Pequim e Xangai, adotarem.

Commodities: preço do gás natural em alta volatilidade

Os preços das commodities energéticas tiveram queda. Entre os dias 17 e 24 de agosto, o preço futuro do petróleo (Brent) recuou levemente, ficando abaixo de 85 dólares por barril no fim do período. Preocupações com a desaceleração da atividade na China têm pressionado para baixo a cotação da commodity. O preço futuro do gás natural na Europa teve alta volatilidade durante a semana em meio a negociações de trabalhadores de empresas exportadoras de gás natural liquefeito na Austrália, que ameaçam entrar em greve, colocando em risco 10% da oferta global da commodity. Um grande exportador está próximo de acordo final, o que diminuiu a pressão sobre os preços. No período considerado, o preço futuro do gás natural teve queda de 13% e continua bem abaixo (menos da metade) da média de janeiro de 2022 (pré-guerra).

Os preços das commodities agrícolas tiveram leve variação. O preço futuro do trigo negociado na bolsa de Chicago subiu 2,5%, refletindo preocupações quanto a capacidade de exportação da Ucrânia, depois de ataques russos em infraestrutura ucraniana no Mar Negro. A Ucrânia é um dos maiores produtores e exportadores da commodity. O preço do milho ficou estável e o da soja subiu 2%.

Brasil

Focus: projeções estáveis de Selic

As projeções para o IPCA subiram para 2023 (de 4,84% para 4,9%), porém permaneceram estáveis para 2024 (3,86%), para 2025 (3,5%) e para 2026 (3,5%). Os números esperados para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) não tiveram alterações para 2023 (2,29%) e nem para 2024 (de 1,3% para 1,33%). A taxa Selic segue em 11,75% para 2023, em 9% para 2024 e em 8,5% para 2025 e para 2026. As projeções estão no Boletim Focus, relatório do Banco Central que reúne a expectativa das instituições financeiras em relação aos principais indicadores econômicos do país.

Inflação: IPCA-15 acima do previsto

O IPCA-15 de agosto registrou alta de 0,28%, acima da nossa projeção (0,21%) e do consenso de mercado (0,17%). O índice acumula alta de 4,2% na variação em 12 meses, número superior à alta de 3,2% registrada no mês anterior. A surpresa veio espalhada entre os segmentos de bens industriais, serviços e alimentos. A média dos núcleos da inflação calculada pelo Banco Central, uma medida mais limpa da tendência dos preços mostra desaceleração, mas segue em patamar elevado. O índice está em 5,3% em 12 meses. A inflação de serviços, na mesma métrica, está em 5,4% e a de bens industriais em 3,9%. A inflação de serviços deve permanecer pressionada em função do mercado de trabalho apertado. Nas nossas projeções, o IPCA acumulado em 12 meses deve continuar subindo e encerrar 2023 em 5,4%. Para 2024, nossa previsão é que a inflação fique em 5,5%.

Setor externo: saldo negativo na conta corrente em julho

A conta corrente registrou déficit de US$ 3,6 bilhões no mês de julho. Considerando o dado com nosso ajuste sazonal, houve déficit de US$ 2,8 bilhões. O saldo foi positivo na balança comercial, porém negativo em serviços e rendas. Em 12 meses, o saldo de transações correntes acumula déficit de 2,5% do PIB (US$ -51 bi). O Investimento Estrangeiro Direto (IED) veio em US$ 4,2 bilhões. Para 2023 e 2024, projetamos déficit de US$ 40 bi e US$ 30 bi para as transações correntes, respectivamente.

Tramitação do novo arcabouço fiscal finalizada no Congresso

A Câmara concluiu nesta terça-feira (22) a votação do novo arcabouço fiscal. Os deputados aprovaram a mudança feita no Senado que excluía do limite de gastos as despesas com o Fundeb e o FCDF, porém rejeitaram a proposta que retirava também as despesas com ciência e tecnologia deste limite. As despesas condicionadas, que permitiriam ao governo um gasto adicional de cerca de R$ 30 bi, também foram retiradas do texto final. Com isso, no lugar do teto de gastos, que travava as despesas do governo federal segundo os gastos do ano anterior mais a inflação, entra o chamado Regime Fiscal Sustentável, que vincula o crescimento das despesas às receitas.

Equipe Econômica C6 Bank

Felipe Salles Head
Claudia Moreno Head Brasil
Claudia Rodrigues Head Internacional
Felipe Mecchi Internacional
Heliezer Jacob Brasil

Este relatório foi preparado pelo Banco C6 S.A.

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