Resumo semanal: PIB forte, indústria fraca

Confira as principais notícias da semana, segundo a avaliação da equipe econômica do C6 Bank

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Confira as principais notícias da semana (29/5-2/6), segundo a avaliação da equipe econômica do C6 Bank. Leia a íntegra do relatório.

Internacional

Estados Unidos: geração de empregos elevada

O mercado de trabalho segue aquecido. O Departamento de Trabalho publicou dados referentes ao mês de maio. De acordo com o Establishment Survey, houve criação de 339 mil empregos no período, acima do mês anterior e da expectativa de mercado. Nos últimos 3 meses, a média de contratações está em 283 mil, bem acima da média pré-pandemia de 163 mil em 2019. O ganho médio por hora trabalhada desacelerou para 0,3% em relação ao mês anterior, mas nos últimos doze meses acumula alta de 4,3%, indicando que pressão de salários sobre a inflação continua. Outra pesquisa, o Household Survey, no entanto, mostrou que a taxa de desemprego subiu para 3,7%, maior nível nos últimos 7 meses, apesar da força de trabalho ter permanecido no mesmo patamar. A despeito dos sinais mistos das pesquisas, o dado de criação de emprego (pesquisa Establishment Survey) tem menos volatilidade e, portanto, é um termômetro mais preciso da temperatura do mercado de trabalho, que segue alta. Outro relatório do Departamento de Trabalho, o Jolts, mostrou aumento do número de vagas de emprego em aberto no mês de abril, com o total de 10,1 milhões de vagas não preenchidas no mês. A proporção de vagas disponíveis por desempregado subiu para 1,8 no mês e segue bastante elevada, pressionando a inflação. Em relatório semanal, os pedidos iniciais de seguro-desemprego continuam em níveis baixos para padrões históricos, em 232 mil na semana encerrada em 27 de maio, 2 mil acima da semana anterior. Em resumo, os dados publicados indicam que o mercado de trabalho segue forte.

Apesar do mercado de trabalho aquecido, acreditamos que o Fed irá optar por uma pausa na próxima reunião em junho, para observar os efeitos da transmissão da política monetária já implementada sobre a economia. Isso não significa, no entanto, o fim do ciclo de alta de juros. Em nossa visão, o Fed ainda deve subir os juros à frente, em razão da inflação persistente em meio a um mercado de trabalho aquecido. Além disso, acreditamos que os juros não começarão a cair antes de meados de 2024. Reconhecemos, no entanto, que os cortes podem ser antecipados caso haja um aperto de crédito decorrente do colapso de alguns bancos regionais nos EUA, o que parece pouco provável no momento.

Atividade na indústria segue fraca. O índice de gerentes de compras do setor de manufaturas (PMI, na sigla em inglês) do Instituto ISM caiu 0,2 ponto em maio frente ao mês anterior, para 46,9, permanecendo abaixo de 50 (nível neutro) pelo sétimo mês consecutivo e sinalizando contração. Na composição do índice, demanda permaneceu fraca, mas o emprego e a produção tiveram expansão.

O setor imobiliário superou o pior momento, mas a recuperação deve ser lenta. Os preços de casas subiram 0,6% no mês de março em relação ao mês anterior, segundo dados da Agência Federal de Financiamento da Habitação (FHFA, na sigla em inglês). Em 12 meses, o indicador acumula alta de 3,6%. Os preços têm voltado a subir desde o final do ano passado, acompanhando o ritmo lento de recuperação nas vendas e construções imobiliárias.

Europa: BCE reforça mensagem de juros mais altos à frente

A guerra entre Rússia e Ucrânia está no segundo ano. Mísseis russos continuam sendo lançados principalmente no leste e sul ucraniano, mas também atingiram novamente a capital, Kiev. Drones foram abatidos em Moscou.  O conflito segue sem perspectiva de um fim próximo.

Preços das commodities energéticas seguem baixos. Entre os dias 25 de maio e 1 de junho, o preço futuro do petróleo (Brent) diminuiu na margem, permanecendo próximo de 74 dólares por barril. Em nossa visão, a atividade fraca, em razão de juros elevados, e a manutenção de um dólar em patamar forte, que tende a reduzir o preço em dólar de produtos cotados na moeda americana, devem evitar pressões adicionais no preço do petróleo. O preço do gás natural continuou trajetória de queda e diminuiu 9% no mesmo período, registrando a maior sequência de semanas em queda desde 2007. A commodity está 70% abaixo da média de janeiro de 2022 (pré-guerra), com fraca demanda, estoques elevados, maior importação de gás natural liquefeito e produção de energia alternativa por fontes renováveis. A menor pressão de preços de energia favorece as perspectivas de melhor crescimento na região.

A inflação ao consumidor desacelerou, mas segue alta. O índice (CPI, na sigla em inglês) diminuiu de 7% para 6,1% nos últimos doze meses até maio, segundo a prévia do Eurostat, com queda no preço de energia e desaceleração no preço de alimentos. O núcleo da inflação, que exclui alimentos, energia, álcool e tabaco também diminuiu para 5,3% no período, permanecendo bem acima da meta. Entre as maiores economias do bloco, a inflação perdeu força na Alemanha (6,3%), França (6%), Itália (8,1%) e Espanha (2,9%). 

A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, disse que ainda não existe uma evidência clara que o pico do núcleo da inflação ficou para trás. Lagarde reforçou que o BCE ainda tem um caminho a percorrer para conter a inflação, levando os juros a níveis restritivos.

A ata da reunião de maio mostrou que membros do Conselho estavam preocupados com a tendência do núcleo da inflação e divergiram quanto ao aumento nos juros. A decisão de aumento de 25 pontos-base foi apoiada por quase todos os membros, mas teve dissidentes, alguns preferiam 50 pontos-base. Apesar do aumento menor, a comunicação do Banco deixou claro um viés de alta para as decisões futuras de juros. Em nossa visão, os juros devem continuar subindo e permanecer elevados por um período prolongado, em razão da inflação que deve ceder lentamente.

O mercado de trabalho continua aquecido. A taxa de desemprego alcançou novo mínimo histórico, em 6,5% em abril, e deve manter pressão sobre salários. O índice divulgado pelo Eurostat mostra heterogeneidade entre as economias do bloco. O desemprego permanece baixo na Alemanha (2,9%), mas alto na Espanha (12,7%).

A confiança na economia diminuiu na margem. O índice de sentimento econômico, calculado pela Comissão Europeia, caiu 2,5 pontos na prévia de maio para 96,5. A queda na confiança ocorreu no setor de manufaturas e serviços, enquanto a confiança do consumidor segue abaixo do nível pré-pandemia.  A piora do índice pode estar relacionada à elevada taxa de juros. O índice diminuiu em vários países, como Alemanha (-2,9 pontos), Itália (-2,3 pontos) e Espanha (-3 pontos).

China: atividade perde fôlego

A atividade veio mais fraca que o esperado em maio, depois da forte recuperação no 1T23 com a volta à normalidade pós-Covid. De acordo com os índices de gerentes de compras (PMIs, na sigla em inglês), calculados pelo Escritório Nacional de Estatísticas chinês (NBS, na sigla em inglês), o PMI composto, que considera o setor de manufaturas, construção e serviços, foi para 52,9 pontos, abaixo do mês anterior, mas ainda sinalizando crescimento moderado. A diminuição do índice composto foi causada por uma redução no índice de manufaturas, que caiu e segue abaixo de 50 pontos pelo segundo mês consecutivo, indicando contração. Os setores de serviços e construção também desaceleraram, mas continuaram sinalizando expansão.

Brasil

Focus: projeções de inflação caem após divulgação do IPCA-15 de maio

As projeções para o IPCA apresentaram queda para 2023 (de 5,80% para 5,71%) e permaneceram estáveis para 2024 (4,13%), para 2025 (4%) e para 2026 (4%). Os números esperados para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) subiram para 2023 (de 1,2% para 1,26%), porém não tiveram mudanças para 2024 (1,3%). A taxa Selic está em 12,5% para 2023, em 10% para 2024, em 9% para 2025 e em 9% para 2026, com revisão apenas para este último ano (de 8,75%). As projeções estão no Boletim Focus, relatório do Banco Central que reúne a expectativa das instituições financeiras em relação aos principais indicadores econômicos do país.

Atividade: Agricultura impulsiona crescimento do PIB no 1º Tri

O PIB do 1T23 registrou alta de 1,9% na comparação com o 4T22, em linha com o esperado por nós (2,1%) e acima do mercado (1,2%). Do lado da oferta, o setor de agropecuária registrou uma alta expressiva (+21,6%), enquanto a indústria registrou leve contração (-0,1%). Serviços contribuíram positivamente com um crescimento de 0,6%. Do lado da demanda, houve leve alta no consumo das famílias (+0,2%), ainda que em ritmo mais lento e retração nos investimentos (-3,4%). À frente, a atividade deve desacelerar, impactada pelos juros altos e pela desaceleração global. A prévia para o PIB do 2T22 é de um leve crescimento de 0,4%.

A produção industrial de abril registrou queda de 0,6% frente ao mês anterior. O resultado veio levemente abaixo do esperado pelas projeções do mercado e acima do esperado por nós. A indústria de transformação e a indústria extrativa registraram retração de 0,6% e 1,1%, respectivamente. À frente, nossa expectativa é que a indústria apresente contração. A política monetária contracionista, a desaceleração global e a queda dos preços das commodities contribuem para esta tendência. A confirmação de um PIB forte no primeiro trimestre e os dados mais fortes que esperado irão impactar nossas projeções. Devemos elevar nossa projeção para o PIB de 1,5% para algo próximo de 2% em 2023 na próxima revisão de cenário. Para 2024, projetamos alta de 1%.

A taxa de desemprego da PNAD Contínua no trimestre terminado em abril veio abaixo da nossa projeção e do esperado pelo mercado, atingindo 8,5%. Na série com nosso ajuste sazonal, o indicador está em 8,1% contra 8,3% no trimestre encerrado em março. A composição do dado mostrou leve redução da PEA (população economicamente ativa) e estabilidade na ocupação. O encolhimento da PEA indica uma piora na dinâmica do mercado de trabalho na medida em que caiu o número de pessoas que buscam emprego. A renda real habitual do trabalhador acumulou alta de 7,4% em relação ao trimestre encerrado em abril de 2022. O crescimento da economia até agora foi suficiente para levar a taxa de desemprego para níveis próximos do neutro ou um pouco abaixo dele, o que reforça o cenário de queda lenta da inflação. Para 2023, a taxa deve encerrar o ano em 8,5%. Nossa expectativa é que a taxa de desemprego (ajustada sazonalmente) suba de forma moderada até 2024.

Inflação: IGP-M em deflação recorde

A inflação medida pelo IGP-M caiu 1,84% em maio, abaixo da mediana das projeções do mercado. Em 12 meses, o índice está em -4,5%, o menor nível da série histórica. A composição dos índices de atacado mostrou o IPA agrícola com queda de 4,4% frente à contração de 2,5% no mês anterior. O núcleo do IPA industrial – que inclui apenas os itens relacionados à inflação de bens industriais do IPCA, excluindo alimentos, combustíveis e minério de ferro – registrou queda de 0,16%. Em 12 meses, o IPA agrícola está em -11,2% e o núcleo do IPA industrial em -1%.

Fiscal: resultado positivo do setor público consolidado, porém tendência é negativa

O Setor Público Consolidado registrou um superávit de R$ 20,3 bi em abril. Os governos regionais contribuíram para o resultado com um superávit de R$ 4 bi. No acumulado em 12 meses, o resultado consolidado está positivo em R$ 56 bi (0,6% do PIB). A dívida líquida encerrou o mês em 57,2% e a dívida bruta em 73,2%. Projetamos déficit do setor público consolidado de 1% do PIB para 2023, devido ao aumento de gastos e queda na arrecadação em função da desaceleração da atividade.

Equipe Econômica C6 Bank

Felipe Salles Head
Claudia Moreno Head Brasil
Claudia Rodrigues Head Internacional
Felipe Mecchi Internacional
Heliezer Jacob Brasil

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