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Resumo semanal: Brasil – pacote de cortes de gastos decepciona

Leia a íntegra da análise da equipe econômica do C6 Bank.

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Tempo de leitura · 11 min

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Internacional

Estados Unidos: inflação permanece acima da meta

A inflação veio em linha com o esperado. Em outubro, o índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês) subiu 0,2% em relação ao mês anterior, segundo dados do Departamento do Comércio americano. Houve queda no preço de bens e aceleração no preço de serviços. O núcleo do indicador, que exclui alimentos e energia, teve aumento de 0,3%. Em doze meses, o núcleo do PCE acumula alta de 2,8%, pouco acima do mês anterior, permanecendo firme, acima da meta de 2% do banco central americano (Federal Reserve – Fed).

Nossa expectativa é que o Fed corte a taxa de juros novamente em dezembro, em razão da inflação estar controlada e do mercado de trabalho continuar esfriando lentamente. Para 2025, no entanto, é possível que o ritmo de cortes desacelere, com incertezas associadas às medidas a serem implementadas pelo próximo governo americano e seus impactos na economia.

O setor imobiliário permanece frágil. As vendas de casas novas contraíram 17,3% em outubro frente ao mês anterior, segundo dados divulgados pelo Departamento do Comércio. Os preços de casas subiram em setembro frente a agosto, de acordo com dados divulgados pela Agência Federal de Financiamento da Habitação (FHFA, na sigla em inglês). Em doze meses, os preços de casas acumulam alta de 4,4%. De modo geral, os preços e as taxas de hipoteca seguem elevados, mantendo as vendas abaixo do nível pré-pandemia.

A confiança do consumidor continuou melhorando em novembro, mas segue abaixo do nível pré-pandemia, segundo o índice do Conference Board. A dificuldade de conseguir emprego, dado divulgado na pesquisa, diminuiu no mês, sugerindo que o desemprego deve permanecer baixo à frente.

A renda e o consumo das famílias aumentaram em outubro frente a setembro, segundo dados do Departamento do Comércio. O aumento da renda é resultado do crescimento maior de salários no período. O aumento do consumo ocorreu principalmente com maior demanda por serviços. Ambos os indicadores seguem sólidos.

Em relatório semanal, os pedidos iniciais de seguro-desemprego continuaram em níveis baixos para padrões históricos, em 213 mil na semana encerrada em 23 de novembro.

Os pedidos de bens duráveis e de capital ficaram praticamente estáveis em outubro. O núcleo dos pedidos de bens duráveis, que exclui o setor de transportes, subiu 0,1% frente ao mês anterior, segundo o relatório do Departamento do Comércio dos Estados Unidos. O núcleo dos pedidos de bens de capital, que exclui aeronaves e equipamentos de defesa, contraiu 0,2% no período.

A ata da reunião de novembro do Fed mostrou que membros do comitê de política monetária continuam confiantes com a trajetória de desaceleração da inflação em direção à meta e veem sinais de esfriamento gradual no mercado de trabalho. Na ocasião, o Fed optou por reduzir os juros em 25 pontos-base (pb), o segundo corte consecutivo, levando o intervalo para 4,5% e 4,75% ao ano, ainda elevado. O documento indicou também que membros acreditam que os cortes devem ser graduais, à medida que os juros se aproximam do nível neutro. Alguns membros notaram que uma pausa nos cortes é possível, caso a inflação permaneça elevada, enquanto outros citaram uma possível aceleração dos cortes se o mercado de trabalho esfriar rapidamente ou a atividade tropeçar.

Europa: inflação recua na margem

A guerra entre Rússia e Ucrânia está no terceiro ano e continua sem perspectiva de fim próximo.

A inflação veio em linha com o esperado e com composição benigna. O índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) recuou 0,3% em novembro em relação ao mês anterior, segundo a prévia do Eurostat. No acumulado em doze meses, o índice cheio subiu 2,3%, enquanto o núcleo manteve crescimento similar ao mês de outubro, 2,7%. Apesar de elevado e acima da meta do Banco Central Europeu (BCE), o núcleo da inflação tem desacelerado e apresentado melhor composição em relação ao primeiro semestre, com crescimento menor no preço de bens e serviços. Em nossa visão, o BCE deve dar continuidade aos cortes de juros, com mais um corte na reunião de dezembro (12/12), em razão do baixo desempenho da atividade econômica e do controle da inflação.

O índice de sentimento econômico teve leve aumento em novembro em relação ao mês anterior, segundo a Comissão Europeia, depois de revisão do dado divulgado anteriormente. Apesar do aumento, o índice permanece abaixo da média pré-pandemia. Detalhes da composição mostram melhora na confiança da indústria, que segue baixa, mas piora na confiança de serviços e do consumidor.

Na França, turbulências políticas associadas ao orçamento fiscal de 2025 aumentaram o risco dos títulos públicos. O plano orçamentário, apresentado pelo primeiro-ministro Michel Barnier, que prevê cortes de gastos e aumento de impostos para reduzir o déficit público, enfrenta forte oposição de parlamentares, que podem destituí-lo. Alterações no plano de Barnier estão sendo consideradas pelo governo. No fim de 2024, o déficit público francês, como a proporção do PIB, deve ultrapassar 6%, o dobro da regra estabelecida pela União Europeia.

China: lucro da indústria em contínua retração

O lucro da indústria diminuiu 4,3% de janeiro a outubro, comparado ao mesmo período do ano anterior, de acordo com o Escritório Nacional de Estatísticas chinês (NBS, na sigla em inglês). Apesar do aumento da demanda em outubro, tanto doméstica quanto externa, o baixo poder de precificação da indústria (índice de preços ao produtor segue em deflação) e os elevados custo de produção, continuam pesando no resultado. Setores relacionados à mineração continuam reportando prejuízo, enquanto setores de manufaturas de alta tecnologia, impulsionados por políticas de apoio à inovação e sólida demanda externa, mantêm lucro sólido.

O Banco do Povo da China (PBoC, na sigla em inglês) manteve a taxa de juros de médio prazo (MLP, na sigla em inglês) em 2%, conforme esperado.

Commodities: petróleo próximo de 70 dólares

O conflito entre Israel e Hamas está no segundo ano. Um acordo de cessar-fogo por 60 dias foi assinado entre Israel e o Hezbollah, diminuindo tensões na região e abrindo a porta para iniciativa semelhante na Faixa de Gaza. A crise geopolítica na região deve demorar algum tempo.

O preço futuro do petróleo (Brent) diminuiu 1% de 21/11 a 28/11, fechando o período em 73 dólares por barril. Desde o início de novembro, o preço da commodity tem oscilado entre 70 e 75 dólares, depois de um primeiro semestre forte quando o preço chegou a superar os 90 dólares por alguns dias. A expectativa é que a Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (OPEP+) postergue novamente os planos de aumentar a produção da commodity para o segundo trimestre de 2025. A decisão deve ocorrer na próxima semana (5/12). A demanda moderada, principalmente da China, e a oferta ampla de países fora da OPEP+ continua pesando sobre o preço do barril.

Os preços futuros de trigo e milho recuaram na semana, depois de aumento na semana anterior. O preço do trigo diminuiu 2% e o do milho 2,5%. O preço da soja subiu 1%. No ano, os preços dessas commodities vêm apresentando tendência de queda.

Brasil

Focus: inflação mais alta no horizonte

As projeções para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador de inflação oficial do país, ficaram praticamente estáveis para 2024 (de 4,64% para 4,63%), porém subiram para 2025 (de 4,12% para 4,34%) e para 2026 (de 3,7% para 3,78%). O número esperado para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) subiu para 2024 (de 3,1% para 3,17%) e não teve mudanças relevantes para 2025 (de 1,94% para 1,95%). A taxa Selic segue em 11,75% para 2024, subiu de 12% para 12,25% para 2025 e se manteve em 10% para 2026. Vale mencionar que a taxa Selic subiu também para 2027, de 9,25% para 9,5%. As projeções estão no Boletim Focus, relatório do Banco Central que reúne a expectativa das instituições financeiras em relação aos principais indicadores econômicos do país.

Inflação: IPCA-15 acelera em doze meses

O IPCA-15 de novembro registrou alta de 0,62%, acima da nossa projeção e do consenso de mercado (0,49%). Em doze meses, o índice está em 4,8%, um número superior ao mês anterior (4,5%). O principal fator de pressão para o resultado do mês veio da alimentação no domicílio (1,65%). Dentro dessa categoria, o destaque vai para o aumento nos preços do óleo de soja (8,4%) e das carnes (7,5%). Esses itens têm sido impactados por fatores sazonais potencializados pela seca que afeta o plantio de diversas safras e prejudica a alimentação do gado. No grupo de transportes, a principal surpresa foi a alta de 22,6% no preço das passagens aéreas que, sozinha, teve um impacto de 0,14 pontos percentuais no IPCA-15 mensal. A média dos núcleos da inflação, que é uma medida mais limpa da tendência dos preços, calculada pelo Banco Central, está em 4% em doze meses, acima dos 3,8% registrados em outubro. Nesta mesma métrica, serviços estão em 4,5% e bens industriais em 2%. Nas nossas projeções, o IPCA acumulado em doze meses deve encerrar 2024 em 4,7%. Para 2025, nossa previsão é que a inflação fique em 5%.

A inflação medida pelo IGP-M apontou alta de 1,3% em novembro, acima da mediana das projeções do mercado (1,15%). A composição dos índices de atacado mostrou o IPA agrícola com alta de 4%. O núcleo do IPA industrial – que inclui apenas os itens relacionados à inflação de bens industriais do IPCA, excluindo alimentos, combustíveis e minério de ferro – subiu 0,4%. Em doze meses, o índice do IGP-M está em 6,3%, o maior valor desde outubro de 2022. O IPA agrícola acumula uma alta de 17,5% e o núcleo do IPA industrial mostra expansão de 4,7%.

Atividade: desemprego na mínima histórica

A taxa de desemprego da PNAD Contínua no trimestre terminado em outubro veio em 6,3%. O indicador com nosso ajuste sazonal está em 6,4%, abaixo do trimestre encerrado em setembro (6,5%). A composição do dado mostrou crescimento em doze meses de 3,4% da ocupação, assim como da renda real habitual, que subiu 3,9%. A taxa de desemprego está em nível significativamente abaixo do neutro, o que reforça o cenário de inflação pressionada, especialmente a de serviços. Nossa expectativa é que a taxa de desemprego (ajustada sazonalmente) encerre 2024 próxima de 6%.

Setor externo: conta corrente registra aumento do déficit

A conta corrente registrou um déficit de US$ 5,9 bilhões no mês de outubro. Considerando o dado com o nosso ajuste sazonal, houve déficit de US$ 6,2 bilhões. O saldo foi positivo na balança comercial, porém negativo em serviços e rendas. No acumulado em 12 meses, o saldo de transações correntes está em -2,2% do PIB (US$ -49,2 bilhões), um déficit maior do que o mês anterior (-1,9% do PIB). Para 2024, projetamos um déficit de US$ 52 bilhões e para 2025 um déficit de US$ 29 bilhões para as transações correntes.

Fiscal: dívida pública elevada

O setor público consolidado apresentou um superávit primário de R$ 36,9 bilhões em outubro, pior do que o superávit projetado pelo mercado de R$40,1 bi. No acumulado em doze meses, o resultado consolidado está negativo em R$ 223,5 bilhões, o equivalente a 1,9% do PIB. A dívida líquida passou de 62,4% para 62,1% e a dívida bruta de 78,2% para 78,6%. Projetamos, por ora, déficit do setor público consolidado de 0,8% do PIB para 2024 e de 0,9% para 2025.

Haddad anuncia pacote de corte de gastos

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou nesta semana as medidas contidas no pacote de gastos, com impacto de cerca de R$ 70 bilhões até 2026, de acordo com estimativas oficiais. Entretanto, analistas de mercado calculam um impacto menor – os números têm circulado entre R$40 e R$55 bilhões aproximadamente. Propostas englobam a criação de uma idade mínima para aposentadoria de militares, correção do salário-mínimo dentro da nova regra fiscal, limitação do crescimento das emendas parlamentares à regra geral do arcabouço, limitação do abono salarial para quem ganha até R$ 2.640, correções para os “supersalários” e a proibição da criação e prorrogação de benefícios tributários em caso de déficit primário. A novidade que acabou ofuscando a divulgação do pacote de corte de gastos, foi o anúncio da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, com a compensação através de uma tributação maior de quem ganha acima de R$ 50 mil por mês. Mas a medida deve tramitar apenas no ano que vem para valer em 2026.

O corte de despesas anunciado apresenta algum avanço para que o arcabouço fiscal seja viável nos próximos anos. Lembrando que as medidas ainda precisam ser aprovadas no Congresso. No entanto, são medidas que não impedem o aumento do endividamento do governo, que já é bastante elevado. O ajuste necessário para estabilizar a dívida líquida no médio prazo é muito maior do que o pacote prevê. Diante disso, a percepção de risco em relação às contas do governo segue ruim, o que pode manter o câmbio pressionado. 

Equipe Econômica C6 Bank

Felipe Salles                   Head

Claudia Moreno      Head Brasil

Claudia Rodrigues    Head Internacional

Felipe Mecchi               Internacional

Heliezer Jacob            Brasil

Este relatório foi preparado pelo Banco C6 S.A.

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Este relatório foi preparado pelo Banco C6 S.A., uma instituição regulada por autoridades brasileiras.

O Banco C6 S.A. é responsável pela distribuição deste relatório no Brasil.

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