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Resumo semanal: novo arcabouço fiscal é enviado ao Congresso

Confira as principais notícias da semana, segundo a avaliação da equipe econômica do C6 Bank

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C6 Bank Felipe Salles. Foto: Germano Lüders

Confira as principais notícias da semana (17/4-20/4), segundo a avaliação da equipe econômica do C6 Bank. Leia a íntegra do relatório.

Internacional

Estados Unidos: Fed deve continuar subindo juros

A atividade industrial tem apresentado sinais mistos em abril. Enquanto em Nova York o índice sinalizou forte expansão depois de quatro meses de contração, na Filadélfia o índice contraiu pelo oitavo mês consecutivo. Apesar da diferença, ambos os índices mostraram demanda e produção subindo na margem e emprego melhor, mas preços pagos por insumos recuando.

O setor imobiliário superou o pior momento, mas a recuperação deve ser lenta. O índice de construção de novas moradias teve leve queda em março em relação ao mês anterior, segundo o Departamento de Comércio. O índice de permissão para construir contraiu mais, depois de forte aceleração no mês anterior. Em ambos os índices, no entanto, os núcleos continuaram indicando crescimento. A venda de casas usadas contraiu 2,4% no mesmo período, depois de forte aumento no mês anterior, segundo a Associação Nacional de Corretores de Imóveis (NAR, na sigla em inglês). O nível de vendas segue fraco, abaixo da média de 2019 (pré-pandemia). Os estoques de casas disponíveis para venda continuam baixos e os preços com tendência de queda. Outro dado sobre o setor imobiliário, o índice de confiança das construtoras (NAHB Housing Market Index), melhorou levemente na margem, o quarto aumento consecutivo, mas o índice permanece abaixo do patamar pré-pandemia. A confiança das construtoras segue fraca, em função do aperto da política monetária do Fed, que tem impacto direto nas taxas de hipoteca.

O mercado de trabalho segue robusto, mas com sinais iniciais de desaceleração. Em relatório semanal, os pedidos iniciais de seguro-desemprego continuam em níveis baixos para padrões históricos, em 245 mil na semana encerrada em 15 de abril, 5 mil acima da semana anterior.

Membros do comitê de política monetária do banco central americano (Federal Reserve, Fed) têm sinalizado um próximo aumento de juros na reunião de maio. Nossa visão está em linha com a do Fed. Acreditamos que mais um aumento de 25 pontos-base ajudaria a assegurar a desaceleração da inflação num contexto de demanda ainda forte. Não prevemos cortes nos juros até meados de 2024. Reconhecemos, no entanto, que, caso haja um aperto de crédito decorrente do colapso de alguns bancos regionais, o início do corte de juros pelo Fed pode ser antecipado.

Europa: BCE e BoE devem continuar o aperto monetário

A guerra entre Rússia e Ucrânia está no segundo ano. Mísseis russos continuam sendo lançados principalmente no leste ucraniano. Membros do G7 reiteraram apoio por tempo indeterminado à Ucrânia, mas buscam maior estabilidade na relação com a China. O conflito segue sem perspectiva de um fim próximo.

Preços das commodities energéticas ficaram mais baixos na semana. Entre os dias 13 e 19 de abril, o preço futuro do petróleo caiu 3,5% (Brent), girando entre 80 e 85 dólares por barril. Em nossa visão, uma desaceleração da atividade em curso, em razão de juros elevados, e a manutenção de um dólar em patamar ainda forte, que tende a reduzir o preço em dólar de produtos cotados na moeda americana, devem evitar pressões adicionais no preço do petróleo. O preço do gás natural recuou 4% no mesmo período e se mantém 50% abaixo da média de janeiro de 2022 (pré-guerra), com estoque de gás elevado, o que continua sinalizando perspectivas melhores de crescimento na região.

O Banco Central Europeu (BCE) divulgou a ata da reunião de março, quando foi decidido um aumento de 50 pontos-base nas taxas de juros, conforme sinalizado na reunião anterior. A decisão teve amplo apoio dos membros do Conselho do BCE e ocorreu em meio a turbulências no setor bancário, sendo justificada pela inflação ainda muito forte. Membros consideraram importante manter a indicação prévia de aumento de juros para evitar mais incertezas nos mercados financeiros. Conforme a ata, as próximas decisões serão mais dependentes de dados,em razão do elevado nível de incerteza. Membros reforçaram que se as projeções de inflação do Banco forem confirmadas, o BCE ainda tem um caminho a percorrer para assegurar o retorno da inflação à meta.

Em evento recente, a presidente do BCE, Christine Lagarde, reiterou que algum trabalho ainda precisa ser feito para conter a inflação, sinalizando que estão próximos do fim do ciclo. Esperamos uma alta de 25 pontos-base na reunião de maio, em linha com a sinalização de membros do Conselho. Altas adicionais são prováveis e, após o término do ciclo de alta, esperamos manutenção de taxas elevadas por um período prolongado.

No Reino Unido, o mercado de trabalho segue apertado. Segundo o Departamento de Estatísticas Nacional, nos três meses até fevereiro a taxa de desemprego subiu levemente, para 3,8%, com aumento da participação na força de trabalho. Os ganhos por hora trabalhada, excluindo bônus, seguem elevados e continuaram crescendo 6,9% no período. A oferta de trabalho continua alta: o número de vagas em aberto por desempregado está forte, o que deve continuar pressionando salários à frente.

A inflação ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) no Reino Unido segue em dois dígitos, apesar de ter desacelerado. O índice subiu 0,8% em março frente ao mês anterior, com aumento em alimentos e no núcleo da inflação, que exclui alimentos, energia, álcool e tabaco. Em 12 meses, a inflação acumula alta de 10,1% e o núcleo de 6,2%. Com o mercado de trabalho aquecido e inflação persistentemente elevada, acreditamos que o Banco da Inglaterra continuará subindo juros em 25 pontos-base na próxima reunião em maio.

China: PIB forte no 1T23

O PIB teve forte aumento de 4,5% no 1T23 comparado ao mesmo período do ano anterior, segundo o Departamento Nacional de Estatísticas da China (NBS, na sigla em inglês). O crescimento, maior que o esperado, foi puxado pelo setor de serviços e indica uma retomada da economia com a reabertura e melhora significativa do quadro de Covid-19 no início do ano. O aumento no consumo doméstico e nas exportações ajudaram o crescimento da economia, além das políticas de suporte do governo. Segundo o NBS, a recuperação ainda não se firmou: a demanda externa é incerta e o consumo doméstico insuficiente para impulsionar o crescimento por ora.

Dados de atividade foram positivos em geral em março. As vendas no varejo cresceram 10,6% no mês comparado ao mesmo período de 2022, com aceleração no consumo de serviços, principalmente os relacionados a turismo, como restaurantes e acomodação. A produção industrial cresceu 3,9%, mantendo um ritmo sólido. Os investimentos seguem firmes no acumulado do ano até março, com aumento forte em infraestrutura, moderado em manufaturas, e menor contração no imobiliário. As vendas de imóveis subiram significativamente. Os preços de casas nas 70 maiores cidades do país cresceram 0,4% em março em relação ao mês anterior, o segundo aumento consecutivo depois de 17 meses de queda. Apesar de sinais de melhora, o setor imobiliário segue fraco e não deve contar com impulso do governo. A taxa de desemprego urbano no país diminuiu para 5,3%, mas permanece elevada entre jovens (19-24 anos) em 19,6%.

O Banco do Povo da China (PBoC, na sigla em inglês) manteve as taxas de juros inalteradas, conforme esperado. A taxa básica de médio prazo permaneceu em 2,75%, pelo oitavo mês consecutivo. A taxa de curto prazo (LPR 1 ano) em 3,65% e de longo prazo (LPR 5 anos) em 4,3%, ambas no mesmo patamar desde meados do ano passado. Em meados de março, o PBoC cortou o compulsório bancário com o objetivo de garantir crédito e apoiar o crescimento econômico, segundo comunicado do Banco.

Brasil

Focus: pequenas mudanças nas projeções de inflação

As projeções para o IPCA apresentaram leve alta para 2023 (de 5,98% para 6,01%) e para 2024 (de 4,14% para 4,18%) e ficaram estáveis para 2025 (4%) e para 2026 (4%). Os números esperados para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) não apresentaram mudanças para 2023 (de 0,91% para 0,9%), porém tiveram leve queda para 2024 (de 1,44% para 1,40%). A taxa Selic foi alterada apenas para 2023 (de 12,75% para 12,5%) e ficou estável para 2024 (10%), para 2025 (9%) e para 2026 (8,75%). As projeções estão no Boletim Focus, relatório do Banco Central que reúne a expectativa das instituições financeiras em relação aos principais indicadores econômicos do país.

Atividade: produção industrial fraca

A produção industrial de fevereiro registrou queda de 0,2% frente ao mês anterior. O resultado veio igual ao esperado pelas projeções do mercado e acima do esperado por nós (-0,6%). A surpresa se deu pela alta na indústria extrativa (4,6%). Já a indústria de transformação retraiu 0,5%, em linha com nossa projeção, sendo o terceiro mês seguido de queda. À frente, nossa expectativa é que a indústria fique de lado, podendo apresentar contração. A política monetária contracionista, a desaceleração global e a queda dos preços das commodities contribuem para esta tendência. Mantemos, por ora, a projeção para o PIB de 1,5% para 2023 e de 1% para 2024.

Inflação: desinflação nos preços do atacado

A inflação medida pelo IGP-10 caiu 0,58% em abril, em linha com a mediana das projeções do mercado. Em 12 meses, o índice está em -1,9%, voltando para território negativo pela primeira vez desde 2018. A composição dos índices de atacado mostrou o IPA agrícola com queda de 1,9% frente à alta de 0,6% no mês anterior. O núcleo do IPA industrial – que inclui apenas os itens relacionados à inflação de bens industriais do IPCA, excluindo alimentos, combustíveis e minério de ferro – registrou leve alta de 0,1%. Em 12 meses, o IPA agrícola está em -7,2% e o núcleo do IPA industrial em 1,2%.

Fiscal: apresentado texto do novo arcabouço fiscal

O texto da lei complementar do novo arcabouço fiscal foi entregue na terça-feira (18) ao Congresso Nacional. O projeto apresenta pontos já anunciados pelo Ministério da Fazenda, tais como definição de um limite para o crescimento das despesas segundo o crescimento das receitas passadas, necessidade de definição de meta para o resultado primário, assim como um intervalo de tolerância. As novidades estão nos detalhes. O texto impõe que gastos com aumento de capital de empresas estatais ficarão de fora da regra, porém aportes em bancos públicos como BNDES e Caixa estarão dentro do limite de gastos. O novo texto também prevê limites de despesas fixados por Poder. Na nossa visão, as metas de superávit primário são ambiciosas e, caso sejam atingidas, representarão um passo relevante rumo à estabilidade da dívida do Brasil. No entanto, o arcabouço exige uma elevação forte de receitas para funcionar, além das já anunciadas. Vale lembrar que o texto ainda precisa ser aprovado pelo Congresso e pode sofrer alterações. 

Equipe Econômica C6 Bank

Felipe Salles Head
Claudia Moreno Head Brasil
Claudia Rodrigues Head Internacional
Felipe Mecchi Internacional
Heliezer Jacob Brasil

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