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Resumo semanal: novo arcabouço fiscal demanda aumento da arrecadação

Confira as principais notícias da semana, segundo a avaliação da equipe econômica do C6 Bank

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Tempo de leitura · 11 min

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Confira as principais notícias da semana (27/3-31/3), segundo a avaliação da equipe econômica do C6 Bank. Leia a íntegra do relatório.

Internacional

Estados Unidos: inflação desacelera, mas segue pressionada

O índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês) desacelerou para 0,3% em fevereiro em relação ao mês anterior, segundo dados do Departamento do Comércio americano. O núcleo do indicador, que exclui alimentos e energia, também desacelerou para 0,3% no mês e em doze meses acumula alta de 4,6%, ainda acima da meta de 2% do Banco Central americano (Federal Reserve – Fed). A composição do índice de fevereiro mostra que os preços dos bens seguem desacelerando, mas os preços dos serviços continuam pressionando o índice, apesar de em menor intensidade. A desaceleração em serviços deve ser lenta, pois o setor continua sofrendo com o forte impacto do mercado de trabalho aquecido.

Mantemos nossa visão de que o Fed deve continuar com o ciclo de ajuste de juros, com mais um aumento de 25 pontos-base na próxima reunião, para combater a inflação. Também não prevemos cortes nos juros até meados de 2024. Reconhecemos, no entanto, que a incerteza, causada pelo colapso de alguns bancos regionais americanos no início deste mês, segue elevada e, caso haja uma crise financeira no país, o Fed pode responder com cortes de juros

A renda e o consumo das famílias seguem em alta. Houve aumento da renda de 0,3% em fevereiro frente ao mês anterior, em razão de aumentos de salários, principalmente no setor de serviços e no governo. Os gastos com consumo subiram 0,2% e houve revisão para cima do mês anterior. Os gastos com bens permaneceram estáveis (0%) e os com serviços tiveram leve aumento (0,2%), segundo dados do Departamento do Comércio.

Setor imobiliário supera o pior momento. As vendas pendentes de casas aumentaram 0,8% em fevereiro frente ao mês anterior, segundo a Associação Nacional de Corretores de Imóveis (NAR, na sigla em inglês), mas seguem em níveis baixos. Os preços de casas tiveram leve queda em janeiro, segundo a Agência Federal de Financiamento da Habitação (FHFA, na sigla em inglês). O índice acumula alta de 5,27% em 12 meses, ainda elevado, mas abaixo do pico no início de 2022. O desaquecimento do setor ajudou a reduzir preços de venda de imóveis, que tem efeito defasado sobre os aluguéis, componente importante dos índices de inflação. Menores preços de aluguéis devem contribuir para desacelerar a inflação em 2023 e 2024.

O mercado de trabalho segue aquecido. Em relatório semanal, os pedidos iniciais de seguro-desemprego continuam em níveis baixos para padrões históricos, em 198 mil na semana encerrada em 25 de março, 7 mil acima da semana anterior.

Três semanas após o colapso de dois bancos regionais no país, o cenário parece mais calmo. O acesso de bancos comerciais ao crédito oferecido pelo Fed diminuiu esta semana em relação às duas anteriores, mas segue bem acima da média pré-crise. A atuação de reguladores e de gestores dos bancos envolvidos está sendo investigada. O vice-presidente de supervisão bancária do Federal Reserve, Michael Barr, reconheceu que supervisores poderiam ter feito mais para controlar o colapso do Sillicon Valley Bank (SVB). A Casa Branca quer regras mais duras para bancos de médio porte. A secretária do Tesouro, Janet Yellen, alertou que esforços de desregulação, que eliminaram algumas reformas pós-2008, podem ter ido longe demais.

Europa: inflação persistente

O conflito entre Rússia e Ucrânia está no segundo ano. Mísseis russos continuam sendo lançados sobre cidades, principalmente no leste da Ucrânia. Zelensky alertou para a possível tomada da cidade de Bakhmut, sitiada há algum tempo por russos. O presidente Putin anunciou que colocará armas nucleares na Belarus, levando líderes da União Europeia a pensar em sanções sobre o país. O conflito segue sem perspectiva de um fim próximo.

Preços das commodities energéticas seguem voláteis esta semana. Entre os dias 24 e 30 de março, o preço do petróleo subiu 6%, estendendo o aumento da semana anterior. Problemas na produção do Iraque têm afetado a cotação. O preço segue girando abaixo de 80 dólares por barril (Brent). O preço do gás natural também subiu 6% no mesmo período, mas se mantém 50% abaixo da média de janeiro de 2022 (pré-guerra), com estoque de gás elevado, o que continua sinalizando perspectivas melhores de crescimento na região. A União Europeia fechou um acordo para aumentar a produção de energia renovável nesta década. Até 2030, a meta de produção será de 42,5% do total da energia consumida na região. A energia nuclear terá uma pequena participação.

A inflação ao consumidor segue alta. O índice (CPI, na sigla em inglês) desacelerou bem de 8,5% para 6,9% nos últimos doze meses até março, segundo a prévia do Eurostat, em razão de queda no preço de energia. No entanto, o núcleo da inflação, que exclui alimentos, energia, álcool e tabaco alcançou novo recorde de 5,7% no período. Entre as maiores economias do bloco, a inflação desacelerou na Alemanha (7,8%), França (6,6%), Itália (8,2%) e Espanha (3,1%).

A confiança na economia teve leve queda na margem e segue fraca. O índice de sentimento econômico, calculado pela Comissão Europeia, diminuiu 0,3 ponto em março para 99,3. A leve redução ocorreu com uma piora na confiança da indústria, que continua abaixo da média de longo prazo. A confiança do consumidor segue abaixo do nível pré-pandemia.

O mercado de trabalho segue aquecido. A taxa de desemprego continuou baixa, no mínimo da série, em 6,6% em fevereiro. O índice divulgado pelo Eurostat mostra heterogeneidade entre as economias do bloco. O desemprego permanece baixo na Alemanha (3%), mas alto na Espanha (13%).

China: atividade sólida

A atividade continuou ganhando força em março, indicando uma retomada da economia pós-Covid. De acordo com os índices de gerentes de compras (PMIs, na sigla em inglês), calculados pelo Escritório Nacional de Estatísticas chinês (NBS, na sigla em inglês), o PMI composto, que considera o setor de manufaturas, construção e serviços, subiu novamente e alcançou 57 pontos, maior nível em mais de uma década. O aumento no índice foi puxado por crescimento em serviços e construção e sólido desempenho de manufaturas.

Brasil

Focus: projeções de Selic inalteradas na semana pós-Copom

A projeção para o IPCA ficou praticamente estável para 2023 (de 5,95% para 5,93%) e para 2024 (de 4,11% para 4,13%). Já para 2025, o número registrou alta (de 3,9% para 4%), enquanto para 2026 não teve alterações (4%). Os números esperados para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) não apresentaram mudanças relevantes para 2023 (de 0,88% para 0,9%), porém tiveram queda para 2024 (de 1,47% para 1,4%). A taxa Selic não foi alterada para 2023 (12,75%), 2024 (10%), 2025 (9%) e nem para 2026 (9%). As projeções estão no Boletim Focus, relatório do Banco Central que reúne a expectativa das instituições financeiras em relação aos principais indicadores econômicos do país.

Atividade: queda na participação traz redução no desemprego

A taxa de desemprego da PNAD Contínua no trimestre terminado em fevereiro veio abaixo da nossa projeção e do esperado pelo mercado, atingindo 8,6%. Na série com nosso ajuste sazonal, o indicador está em 8,5%, contra 8,6% no trimestre encerrado em janeiro. A pesquisa mostrou queda na população economicamente ativa (PEA) no mês e sinaliza população ocupada praticamente estável, evidenciando perda de dinamismo. A renda real habitual ficou estável após seguidas altas consecutivas. O crescimento da economia até agora foi suficiente para levar a taxa de desemprego para níveis próximos do neutro ou um pouco abaixo dele, o que reforça o cenário de queda lenta da inflação. Para 2023, a taxa deve encerrar o ano em 9%. Nossa expectativa é que a taxa de desemprego (ajustada sazonalmente) continue subindo de forma moderada até 2024.

A produção industrial do mês de janeiro registrou queda de 0,3% frente ao mês anterior e alta de 0,3% na comparação anual. O resultado veio abaixo das projeções do mercado, porém vale mencionar que houve uma atualização metodológica por parte do IBGE – o que justifica o atraso na divulgação da pesquisa. A composição do índice apresentou alta na indústria extrativa (+1,8%), porém queda na indústria de transformação (-0,8). À frente, nossa expectativa é que a indústria fique de lado, podendo apresentar contração. A política monetária contracionista, a desaceleração global e a queda dos preços das commodities contribuem para esta tendência. Mantemos, por ora, projeção para o PIB de 1% (com viés de alta) para 2023 e de 0,5% para 2024.

Inflação: IGP-M segue desacelerando

O IGP-M expandiu 0,05% em março, abaixo das expectativas do mercado, e acumulou alta de 0,2% em 12 meses. A composição dos índices de atacado mostrou o IPA agrícola estável frente à queda de 0,47% no mês anterior. O núcleo do IPA industrial – que inclui apenas os itens relacionados à inflação de bens industriais do IPCA, excluindo alimentos, combustíveis e minério de ferro – apresentou retração de 0,25% ante alta de 0,05% em fevereiro. Em 12 meses, o núcleo dos bens industriais está em 2,5% e o IPA agrícola em -6%.

Setor externo: saldo negativo na conta corrente em fevereiro

A conta corrente registrou déficit de US$ 2,8 bilhões no mês de fevereiro. Considerando o dado com nosso ajuste sazonal, houve déficit de US$ 3,2 bilhões. O saldo foi positivo na balança comercial, porém negativo em serviços e rendas. Em 12 meses, o saldo de transações correntes acumula déficit de 2,8% do PIB. O Investimento Estrangeiro Direto (IED) veio em US$ 6,4 bilhões. Para 2023 e 2024, projetamos déficit de US$ 56 bi e US$ 67 bi para as transações correntes, respectivamente.

Fiscal: Ministério da Fazenda apresenta arcabouço com novas regras

O novo arcabouço fiscal apresentado na quinta-feira (30) prevê crescimento das despesas limitado a 70% da variação da receita primária em 12 meses (de julho a junho do ano anterior). O teto de gastos passa a ter um intervalo de crescimento real entre 0,6% e 2,5%. Foram definidas metas para o resultado primário, de déficit de 0,5% do PIB para este ano, 0% para 2024, 0,5% para 2025 e 1% para 2026, com bandas de tolerância de 0,25%. Além disso, há um piso mínimo para investimentos a partir do valor de 2023, entre R$ 70 bi e R$ 75 bi, com ajuste pela inflação. O texto oficial só deve ser apresentado na próxima semana, ou até mesmo na semana seguinte, devido ao feriado. Na nossa visão, o arcabouço fiscal apresentado indica a busca pela elevação do superávit primário ao longo do tempo via aumento da arrecadação. No entanto, ainda faltam detalhes de como os objetivos serão alcançados.

O Setor Público Consolidado registrou um déficit de R$ 26 bi em fevereiro. No acumulado em 12 meses, o resultado está positivo em R$ 93 bi (0,9% do PIB). A dívida líquida encerrou o mês em 56,6% e a dívida bruta em 73%. Os governos regionais contribuíram para o resultado com um superávit de R$ 11,8 bi. Entretanto, projetamos déficit do setor público consolidado de 1,4% do PIB para 2023, devido ao aumento de gastos e queda na arrecadação em função da desaceleração da atividade.

Política monetária: ata do Copom mantém tom duro

A ata do Copom, divulgada nesta terça-feira (28), trouxe um texto didático ao detalhar e esclarecer os mecanismos de política monetária.

O Comitê continuou dando ênfase à elevação das expectativas de inflação, em especial as de prazos mais longos, afirmando que este movimento está “em parte relacionado ao questionamento sobre uma possível alteração das metas de inflação futuras”. Nesse sentido, ele afirmou que “as alterações nas projeções de inflação do Copom seguem sendo primordialmente afetadas pelas alterações nas expectativas, tal como na última reunião”.

Sobre o cenário fiscal, o Comitê reconheceu que “o compromisso com a execução do pacote fiscal demonstrado pelo Ministério da Fazenda, […], atenua os estímulos fiscais sobre a demanda, reduzindo o risco de alta sobre a inflação no curto prazo”. Adicionou que “a materialização de um cenário com um arcabouço fiscal sólido e crível pode levar a um processo desinflacionário mais benigno”. Entretanto, frisou que “não há relação mecânica entre a convergência de inflação e a apresentação do arcabouço fiscal”.

Por último, conforme sinalizado no comunicado da semana passada, o texto reiterou que o “Comitê segue vigilante, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período prolongado será capaz de assegurar a convergência da inflação”. O Comitê reforça que “a execução da política monetária, neste momento, requer serenidade e paciência para incorporar as defasagens inerentes ao controle da inflação através da taxa de juros e, assim, atingir os objetivos no horizonte relevante de política monetária.” Com isso, ele sugere que a Selic deve, no mínimo, ficar estável em 13,75% até 2024.

Em suma, o comunicado e a ata sugerem que o Banco Central manterá a Selic em 13,75% ao ano por período prolongado e não deu abertura para corte de juros no futuro próximo.

Equipe Econômica C6 Bank

Felipe Salles Head
Claudia Moreno Head Brasil
Claudia Rodrigues Head Internacional
Felipe Mecchi Internacional
Heliezer Jacob Brasil

Este relatório foi preparado pelo Banco C6 S.A.

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