Resumo semanal: medidas fiscais buscam reduzir o déficit

Confira as principais notícias da semana, segundo a avaliação da equipe econômica do C6 Bank

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Confira as principais notícias da semana (9/1-13/1), segundo a avaliação da equipe econômica do C6 Bank. Leia a íntegra do relatório.

Internacional

Estados Unidos: Fed considera reduzir ritmo de alta de juros

A inflação desacelerou. O índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) caiu 0,1% em dezembro frente ao mês anterior, de acordo com o Departamento do Trabalho. O núcleo do índice (exclui alimentos e energia) cresceu 0,3% no mesmo período, com queda no preço de bens (-0,3%) e aumento no preço de serviços (0,5%). Preços de serviços continuam sendo pressionados por salários elevados em razão de um mercado de trabalho aquecido(demanda por trabalhador acima da oferta de mão de obra disponível) e pela alta dos preços dos aluguéis. O CPI terminou o ano de 2022 em 6,5% e o núcleo em 5,7%.

Membros do Banco Central americano (Federal Reserve – Fed) têm sinalizado diminuição no ritmo de ajustes nas taxas de juros para 25 pontos-base na próxima reunião no início de fevereiro. Esta visão ganhou força com dados indicando desaceleração dos salários – em particular o Atlanta Fed's Wage Growth Tracker de dezembro, que desacelerou de 6,4% para 6,1% no acumulado em doze meses, e o Average Hourly Earnings divulgado na semana passada. Em nossa visão, o mercado de trabalho aquecido e a inflação de serviços ainda elevada justificariam um ajuste de 50 pontos-base.

Os pedidos iniciais de seguro-desemprego continuam em níveis baixos para padrões históricos, em 205 mil na semana encerrada em 7 de janeiro, mil abaixo da semana anterior.

O índice de otimismo das pequenas empresas, medido pela Federação Nacional de Empresas Independentes (NFIB, na sigla em inglês), caiu 2,1 pontos para 89,8 em dezembro, permanecendo abaixo do nível pré-pandemia. Segundo o índice, a pressão sobre preços e salários tem diminuído, mas continua elevada.

Europa: perspectivas melhores para atividade

O conflito entre Rússia e Ucrânia está no décimo primeiro mês. Bombardeios continuam concentrados no leste e sul do país, focando em infraestrutura de energia. O apoio da comunidade internacional à Ucrânia continua, com anúncios de auxílios feitos pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos, de que treinará em torno de 100 soldados ucranianos para a operação e manutenção de sistemas de defesa aéreos; Canadá, Reino Unido, Itália e Polônia também anunciaram intenção de enviar equipamentos militares para o país. Segundo comunicado do governo britânico, ministros da justiça de diversos países irão se reunir em março para investigações de crimes de guerra russos. A União Europeia e a OTAN assinaram nesta semana um tratado de cooperação para identificação de vulnerabilidade de infraestrutura crítica diante de potenciais ameaças na região.

Preços do petróleo mais altos. Entre os dias 6 e 12 de janeiro o preço do petróleo subiu 6,9%, em meio ao otimismo em relação à recuperação econômica da China após alívio das restrições em relação à Covid-19.

O preço do gás natural apresentou queda de 3,9% no mesmo período, apesar da volatilidade dos preços em função de expectativas de temperaturas mais frias na Europa na próxima semana - o preço da commodity está 21,6% abaixo da média de janeiro 2022 (pré-guerra). Os estoques elevados de gás da Europa, graças à forte importação de LNG vinda dos Estados Unidos, têm diminuído os riscos de uma recessão profunda e duradoura na região.

A produção industrial apresentou expansão de 1% em novembro frente ao mês anterior, com melhora na produção da Alemanha (+0,2%) e França (+2,0%) enquanto houve retração na produção da Itália (-0,3%) e Espanha (-0,7%).

O mercado de trabalho segue aquecido. A taxa de desemprego continuou no mínimo da série, em 6,5% em novembro. O índice divulgado pela Eurostat mostra heterogeneidade entre as economias do bloco. O desemprego permanece baixo na Alemanha (3%), mas alto na Espanha (12,4%) e na Grécia (11,4%).

No Reino Unido, a atividade teve expansão de 0,1% em novembro frente ao mês anterior. Enquanto o setor de serviços mostrou expansão de 0,2%, a produção industrial teve retração de 0,2%. Apesar do dado positivo no mês, outros indicadores sugerem atividade em contração.

China: flexibilização das medidas contra a Covid-19

Em linha com comunicações anteriores, o Comitê Nacional de Saúde (NHC, na sigla em inglês) anunciou ações de flexibilização das medidas de controle e prevenção da Covid-19. A partir desta semana (8 de janeiro), a quarentena e as testagens deixaram de ser obrigatórias, os números de infecções deixaram de ser divulgados diariamente e não existem mais áreas consideradas de risco no país.

O fluxo de crédito agregado diminuiu para RMB 1,3 trilhão em dezembro, segundo o Banco Central da China (PBOC, na sigla em inglês), depois de melhora expressiva em novembro, ficando abaixo do esperado. Empréstimos a empresas subiram, mas empréstimos às famílias continuaram fracos refletindo baixa demanda por imóveis. A emissão de títulos corporativos contraiu e de títulos públicos desacelerou.

A inflação ao consumidor segue baixa. O índice de preços ao consumidor (CPI) acelerou para 1,8% em novembro frente ao mesmo mês do ano anterior, segundo o Escritório Nacional de Estatísticas chinês (NBS, na sigla em inglês), refletindo aceleração nos preços de alimentos. O núcleo do índice (que exclui alimentos e energia) continuou baixo com fraca demanda doméstica em meio a impactos de surtos ainda recentes de Covid-19. O índice de preços ao produtor (PPI) teve queda de 0,7% no mesmo período, a terceira consecutiva. A balança comercial registrou superávit maior do que o esperado, ficando em US$ 78 bilhões em dezembro, com queda nas exportações e importações. Exportações encolheram 9,9% frente ao mesmo mês do ano anterior, com menor fluxo comercial para vários destinos e produtos em meio à desaceleração das economias. As importações contraíram 7,5% no mesmo período.

Brasil

Focus: expectativas de inflação continuam subindo

A projeção para o IPCA apresentou alta para 2023 (de 5,31% para 5,36%), para 2024 (de 3,65% para 3,7%) e para 2025 (de 3,25% para 3,3%). Os números esperados para o Produto Interno Bruto (PIB) permaneceram praticamente inalterados para 2022 (de 3,04% para 3,03%), registraram leve queda para 2023 (de 0,8% para 0,78%) e ficaram estáveis para 2024 (1,5%). A taxa Selic permaneceu em 12,25% para 2023 e subiu de 9% para 9,25% para 2024. As projeções estão no Boletim Focus, relatório do Banco Central que reúne a expectativa das instituições financeiras em relação aos principais indicadores econômicos do país.

Atividade: dados fracos no mês de novembro

A Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) de novembro mostrou retração de 0,6% frente ao mês anterior no volume de vendas no comércio varejista ampliado, resultado abaixo do que nós projetávamos. A composição do indicador mostra que os segmentos sensíveis ao crédito registraram expansão de 1,2%, enquanto aqueles mais sensíveis à renda registraram queda (0,7%). Apesar da leve recuperação no mês, mantemos nossa visão de que os setores mais sensíveis ao crédito devem ter um desempenho mais fraco nos próximos meses.

A Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) de novembro mostrou volume de serviços estagnado na comparação mensal. O dado veio um pouco abaixo das expectativas do mercado e da nossa projeção. O segmento de serviços prestados às famílias – o mais afetado pelas restrições de mobilidade – registrou queda de 0,3% no mês. Os resultados de novembro corroboram nossa visão de perda de ritmo da atividade e seguimos vendo chance de um PIB negativo no quarto trimestre de 2022. À frente, a alta de juros e a desaceleração global devem comprometer a expansão da atividade até o final do ano que vem. Projetamos alta de 3% para o PIB de 2022, de 1% para 2023 e de 0,5% para 2024.

Inflação: IPCA surpreende em dezembro e encerra 2022 em 5,8%

O IPCA de dezembro registrou alta de 0,62% - acima do que nós (0,47%) e o mercado (0,45%) esperávamos. A maior surpresa em relação a nossa projeção foi concentrada em bens industriais. O índice acumulou alta de 5,8% em 2022 e mostra desaceleração. A inflação de serviços ficou em 7,6% e já dá sinais incipientes de moderação. A inflação de bens industriais registrou alta no mês, mas mostra clara tendência de queda nos últimos meses e deve seguir recuando à frente. Em 2022, houve alta de 9,6% para este segmento (contra 12% em 2021). Projetamos IPCA de 5,8% para 2023 e de 4,5% para 2024. A inflação de preços livres deve continuar desacelerando a passos lentos.

Fiscal: governo anuncia medidas fiscais para reduzir déficit de 2023

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou no dia 12/1 medidas fiscais para reduzir o déficit projetado para este ano. O impacto potencial de todas as medidas é de R$ 200 bi, o que somado à reestimativa de receitas (R$ 36 bi) zeraria o déficit hoje projetado em R$ 230 bi do orçamento de 2023. O ministro afirmou que há incertezas em relação a algumas delas e considera razoável conseguir reduzir o déficit para algo entre R$ 90 e R$ 100 bi.

Na nossa visão, as medidas relevantes são aquelas que trazem ganhos permanentes, seja pelo lado da receita ou das despesas. Esse subconjunto de medidas soma um total de R$ 145 bi para 2024, sendo a maior parte do lado das receitas (R$120 bi) e o restante do lado das despesas (R$25 bi). As medidas do lado da receita incluem o fim da desoneração de combustíveis (R$55 bi), o aproveitamento do crédito do ICMS (R$ 40 bi), entre outras (R$ 25 bi). Vale ressaltar que a medida de maior impacto, a do fim da isenção de combustíveis, ainda não foi confirmada e, portanto, o impacto permanente das medidas oficializadas é de apenas R$ 90 bi. O anúncio de ontem pode nos levar a reduzir levemente a projeção de déficit para 2024, hoje em 1,3% do PIB.

Equipe Econômica C6 Bank

Felipe Salles Head
Claudia Moreno Head Brasil
Claudia Rodrigues Head Internacional
Felipe Mecchi Internacional
Heliezer Jacob Brasil

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