Equipe econômica do C6 Bank, liderada por Felipe Salles, divulga projeções
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O banco central americano (Federal Reserve - Fed) começou o ciclo de flexibilização monetária em setembro, com um corte de 50 pontos-base (pb) nos juros, colocando o intervalo da taxa entre 4,75% a 5% ao ano. A redução dos juros foi maior do que a esperada, mas membros do Fed falam em cortes menores nas próximas decisões. A inflação continua desacelerando, mas permanece acima da meta de 2%: o núcleo do índice (medido pelo PCE) está em 2,7%. A principal preocupação do Fed, agora, é com o esfriamento do mercado de trabalho: a taxa de desemprego subiu nos últimos meses, alcançando 4,2%. Apesar das empresas não estarem demitindo, indivíduos têm reportado mais dificuldade em conseguir emprego. Na nossa visão, o Fed deve cortar os juros nas próximas reuniões em 25 pb. Entretanto, caso o desemprego aumente, um novo corte de 50 pb torna-se mais provável.
A atividade econômica permanece fraca, com mau desempenho de boa parte da indústria dos países da região. Apesar disso, o desemprego permanece em 6,4%, mínimo histórico, mas há menos sinais de pressão salarial. Em setembro, o núcleo da inflação diminuiu de 2,8% para 2,7%, ainda acima da meta, mas em desaceleração. O Banco Central Europeu (BCE) reduziu as taxas de juros em setembro, depois de iniciar o ciclo de corte na reunião de junho. Falas recentes de membros do BCE mostram confiança do retorno da inflação à meta, sinalizando que mais cortes estão por vir. Em nossa visão, o BCE deve voltar a reduzir as taxas neste ano, em razão da fraqueza da atividade econômica e do controle da inflação em curso.
O Banco do Japão (BoJ) decidiu por manter a taxa de juros inalterada na reunião de setembro, depois de elevar a taxa para 0,25% em julho. O presidente do banco, Kazuo Ueda, disse que não há pressa para um novo aumento já que os riscos de alta da inflação diminuíram com a apreciação da moeda local. A inflação permaneceu elevada em agosto. O núcleo do índice, que exclui alimentos frescos, acelerou para 2,8%, pressionado pela retirada de subsídios de energia, como eletricidade e gás, e persistência de preços de serviços. Em nossa visão, um novo aumento de juros pode ocorrer na reunião de dezembro, quando mais dados sobre a inflação e sobre os salários estarão disponíveis.
O governo chinês mostrou preocupação com a desaceleração da economia. O consumo doméstico, a indústria e os investimentos seguem módicos, e o setor imobiliário marca um longo período de encolhimento. O governo anunciou mais esforços para que a meta de crescimento do ano (de cerca de 5%) seja alcançada. Um novo pacote de estímulos econômicos foi apresentado, com medidas como a ampliação de gastos fiscais, redução de taxas de juros e incentivo para a compra de imóveis. Apesar do pacote de estímulos, o crescimento deve ser inferior a 5% neste ano.
Após crescer 1,4% no segundo trimestre deste ano, a economia brasileira deve seguir em expansão no terceiro trimestre. O avanço da atividade econômica em 2024 pode ser atribuído, em boa parte, ao impulso dos gastos públicos e ao aumento da massa salarial. Por ora, mantemos nossa projeção de 3% para o crescimento do PIB neste ano, mas há chance do desempenho ser ainda melhor. Em 2025, a economia brasileira deve ter um avanço mais moderado, com crescimento de 1,2%. O crescimento acima do potencial (estimamos cerca de 1,5%) contribui para a queda da taxa de desemprego. Projetamos taxa de desemprego para o final de 2024 e de 2025 perto de 7%. A forte expansão da renda real corrobora nossa visão de mercado de trabalho aquecido.
Projetamos déficit primário de 0,8% do PIB neste ano. Vale ressaltar que estão incorporadas nessa projeção o valor de R$ 40,5 bilhões de despesas não sujeitas à meta, tais como os programas de ajuda e recuperação do Rio Grande do Sul. Para 2025, projetamos déficit de 0,9%. Acreditamos que o crescimento dos gastos obrigatórios pode comprometer o limite das despesas.
Na nossa visão, apesar do novo arcabouço ser um passo importante para a sustentabilidade fiscal, na ausência de outras reformas que permitam reduzir os gastos obrigatórios, será necessária uma forte queda dos juros reais para impedir o crescimento da dívida do país.
A tendência de alta da dívida líquida do setor público deve prosseguir. A projeção para 2024 passou de 63,1% do PIB para 62,9% em função, principalmente, da divulgação dos dados correntes. Para 2025, ajustamos a projeção de 66,1% para 66%.
O ciclo de cortes de juros nos Estados Unidos começou mais intenso do que o esperado, com uma redução de 0,5 ponto percentual em setembro. Esse movimento reforça a tendência de enfraquecimento global do dólar. No entanto, incertezas geopolíticas globais podem se contrapor a este fator e frear a desvalorização da moeda americana. Além disso, o nível e a trajetória da dívida pública brasileira tendem a limitar a valorização do real. Como resultado dessas forças, acreditamos que a taxa de câmbio deve ficar estável nos próximos anos. Projetamos um dólar de R$ 5,50 ao final de 2024 e de 2025. Em relação às transações correntes, ajustamos nossa projeção para 2024, que passou de déficit de US$ 31 bilhões para um déficit de US$ 42 bilhões, devido à perspectiva de um saldo de balança comercial menor. Já para 2025, a revisão foi de um déficit de US$19 bilhões para um déficit de US$25 bilhões.
A prévia da inflação, medida pelo IPCA-15, veio abaixo do esperado e registrou alta de 4,1% nos 12 meses até setembro. Apesar disso, acreditamos que a inflação deve voltar a acelerar até o final do ano. Alguns fatores podem voltar a pressionar o IPCA, como o custo da conta de luz, que é influenciado pela queda do nível dos reservatórios das usinas hidrelétricas. Além disso, o avanço dos preços de serviços continua a ser a maior preocupação. Com o mercado de trabalho brasileiro aquecido, os salários tendem a aumentar além dos ganhos de produtividade. Essa é a principal razão para ainda enxergarmos um quadro de inflação pressionada à frente. Na nossa visão, o IPCA encerrará 2024 em 4,7%. Para 2025, projetamos uma inflação de 4,8%.
Em setembro, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu elevar a taxa Selic de 10,5% para 10,75%. A autoridade sinalizou, em comunicado, que esse foi o começo de um novo ciclo de alta dos juros, embora o ritmo e a magnitude dos próximos cortes sigam indefinidos. As projeções de inflação do Banco Central para o início de 2026 subiram, o que justificou a necessidade do aperto monetário. Revisamos nossa expectativa para a Selic de 10,5% para 11,75% ao final de 2024, com mais dois aumentos de 0,5 ponto percentual (p.p.) nas próximas reuniões do Copom. Ao fim de 2025, nossa projeção para a taxa passou de 9% para 10%.
2021 | 2022 | 2023 | 2024P | 2025P | |
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Atividade | |||||
Crescimento Real do PIB | 4,8% | 3,0% | 2,9% | 3,0% | 1,2% |
PIB Nominal (R$ bi) | 9.012 | 10.080 | 10.856 | 11.675 | 12.561 |
Fiscal | |||||
Resultado Primário (% PIB) | 0,7% | 1,2% | -2,3% | -0,8% | -0,9% |
Dívida Líquida (% PIB) | 55,1% | 56,1% | 60,9% | 62,9% | 66,0% |
Dívida Bruta (% PIB) | 77,3% | 71,7% | 74,4% | 78,1% | 81,6% |
Setor Externo | |||||
R$/US$ (final de período) | 5,58 | 5,28 | 4,86 | 5,5 | 5,5 |
Balança Comercial (US$ bi) | 42 | 52 | 92 | 73 | 87 |
Conta Corrente (US$ bi) | -40 | -41 | -22 | -42 | -25 |
Conta Corrente (% PIB) | -2,4% | -2,1% | -1,0% | -1,8% | -1,1% |
Inflação | |||||
IPCA (Var. a/a) | 10,1% | 5,8% | 4,6% | 4,7% | 4,8% |
Juros | |||||
Selic (dez) | 9,25% | 13,75% | 11,75% | 11,75% | 10,00% |
P=Projeção
Fontes: IBGE, BCB, Bloomberg, C6 Bank.
Equipe Econômica C6 Bank
Felipe Salles Head
Claudia Moreno Head Brasil
Claudia Rodrigues Head Internacional
Felipe Mecchi Internacional
Heliezer Jacob Brasil
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