Leia a íntegra da análise da equipe econômica do C6 Bank.
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O mercado de trabalho dá sinais de solidez. O Departamento de Trabalho publicou dados referentes ao mês de dezembro. De acordo com o Establishment Survey, houve criação de 256 mil empregos no período, acima do esperado. O ganho médio por hora trabalhada se mantém elevado, acumulando alta de 3,9% nos doze meses até dezembro, o que deve manter pressão sobre os preços. O Household Survey mostrou que a taxa de desemprego diminuiu para 4,1%, seguindo baixa para padrões históricos. A participação na força de trabalho se manteve estável em 62,5%. Outro relatório do Departamento de Trabalho, o Jolts, mostrou que o número de vagas de emprego em aberto subiu no mês de novembro. A proporção de vagas disponíveis por desempregado segue em 1,1, consistente com um mercado robusto. Em relatório semanal, os pedidos iniciais de seguro-desemprego continuaram em níveis baixos para padrões históricos, em 201 mil na semana encerrada em 4 de janeiro. Em nossa visão, o mercado de trabalho resiliente e a inflação ainda acima da meta deve levar o banco central americano (Federal Reserve, Fed) a manter os juros elevados por mais tempo.
O setor de serviços continua em expansão. O índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) do Instituto ISM registrou aumento de 2 pontos, alcançando 54,1 em dezembro. Na composição do indicador, a tendência continua sendo de crescimento na demanda e na produção. Houve expansão também no emprego. Os preços se mantêm em patamar elevado, indicando permanência de pressão inflacionária no setor.
A ata da reunião de dezembro do Fed mostrou que os membros do comitê de política monetária devem ser mais cautelosos nas próximas decisões. Na ocasião, o banco central americano optou por reduzir os juros em 25 pontos-base (pb), o terceiro corte consecutivo, levando o intervalo de juros para o intervalo entre 4,25% e 4,5% ao ano. Desde o início do ciclo, os juros foram reduzidos em 100 pb. O endurecimento da postura dos membros em relação a redução de juros à frente, foi justificado no documento pela resiliência da atividade econômica e do mercado de trabalho, bem como pela persistência da inflação ainda acima da meta e pelo elevado grau de incerteza do cenário econômico – sendo as medidas a serem implementadas pelo novo governo uma das possíveis fontes.
A guerra entre Rússia e Ucrânia está no terceiro ano e continua sem perspectiva de fim próximo.
As vendas no varejo tiveram leve aumento. O índice subiu 0,1% em novembro, segundo o Eurostat, depois de contrair no mês anterior. O indicador continua abaixo da tendência pré-pandemia.
O índice de sentimento econômico permanece fraco e abaixo da média pré-pandemia. O indicador diminuiu em dezembro em relação ao mês anterior, segundo a Comissão Europeia. Detalhes mostram deterioração na confiança da indústria e piora na confiança do consumidor. Já a confiança no setor de serviços melhorou na margem.
O mercado de trabalho segue robusto. A taxa de desemprego permaneceu em 6,3% em novembro, mínimo da série histórica, também alcançado no mês anterior. O índice divulgado pelo Eurostat mostra heterogeneidade entre as economias do bloco. O desemprego continua em 3,4% na Alemanha, e 11,2% na Espanha.
A inflação ao consumidor veio em linha com o esperado. O índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) subiu 0,4% em dezembro em relação ao mês anterior, segundo a prévia do Eurostat. No acumulado em doze meses, o índice cheio acelerou para 2,4%, enquanto o núcleo, que exclui energia, alimentos, álcool e tabaco, apresentou certa estabilidade, com crescimento de 2,7% nas últimas 4 leituras, permanecendo acima da meta. Na composição do indicador, os preços de bens mantêm aumento moderado, enquanto serviços crescem em patamar elevado. A fraca demanda interna deve contribuir para uma desaceleração da inflação à frente. Em nossa visão, o BCE deve dar continuidade aos cortes de juros, em razão do baixo desempenho da atividade econômica e do controle da inflação.
No Reino Unido, o custo da dívida pública vem subindo e já é o maior desde 1998. O câmbio também teve forte depreciação (1%) na semana. Fatores internos e externos ajudam a explicar o cenário. Internamente, houve piora na percepção da sustentabilidade da trajetória da dívida pública, medida pela razão dívida-PIB. Isso porque o equilíbrio entre gastos e arrecadação do plano fiscal apresentado no fim de 2024 parece mais frágil do que o esperado anteriormente, em meio a uma deterioração das expectativas de crescimento da economia local (o que piora o denominador da razão dívida-PIB). No cenário externo, o aumento do custo da dívida pública americana – em parte causado por incertezas quanto a políticas do próximo governo que podem ser inflacionárias e levar o Fed a manter juros altos por mais tempo – acaba tendo impacto nos mercados globais, pressionando o preço dos demais ativos.
A inflação ao consumidor desacelerou e segue baixa. O CPI acumulou alta de 0,1% nos doze meses até dezembro, segundo o Escritório Nacional de Estatísticas chinês (NBS, na sigla em inglês). As quebras do indicador mostram queda nos preços de alimentos e de bens e uma leve alta de serviços. O núcleo da inflação, que exclui alimentos e energia, manteve um aumento moderado, subiu 0,4% no período. O índice de preços ao produtor (PPI) continuou recuando pelo vigésimo sétimo mês consecutivo, com retração de 2,3%. Houve desaceleração nos preços de metais e materiais de construção, em razão da menor atividade no fim do ano. A inflação deve continuar baixa no país, em razão do excesso de capacidade instalada e da fraca demanda local.
A instabilidade política no Oriente Médio continua. Em Gaza, o conflito entre Israel e Hamas está no segundo ano. A crise geopolítica na região ainda deve demorar algum tempo.
O preço futuro do petróleo (Brent) subiu 2% de 2/1 a 9/1, fechando o período pouco acima de 77 dólares por barril. Desde o fim de dezembro, o preço tem apresentado tendência de alta. Preocupações quanto as novas restrições americanas sobre as exportações de petróleo russo e possíveis sanções sobre a produção do Irã têm afetado os preços. Apesar do aumento na semana, os preços permanecem abaixo da média de 2024 e a expectativa continua sendo de mercado com ampla oferta da commodity este ano.
Os preços futuros de commodities agrícolas tiveram redução na semana. O preço futuro do trigo caiu 2%, enquanto o da soja e do milho tiveram queda moderada. De modo geral, os preços destas commodities diminuíram ao longo de 2024.
As projeções para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador de inflação oficial do país, ficaram praticamente estáveis para 2025 (de 4,96% para 4,99%) e para 2026 (de 4,01% para 4,03%), porém registraram alta para 2027 (de 3,83% para 3,9%). O número esperado para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) não teve alterações relevantes para 2024 (3,49%), para 2025 (de 2,01% para 2,02%) e nem para 2026 (1,8%). A taxa Selic subiu para 2025 (de 14,75% para 15%), porém não teve mudanças para 2026 (12%) e nem para 2027 (em 10%). As projeções estão no Boletim Focus, relatório do Banco Central que reúne a expectativa das instituições financeiras em relação aos principais indicadores econômicos do país.
O IPCA subiu 0,52% em dezembro, segundo dados divulgados hoje pelo IBGE. Esse resultado veio em linha com as projeções do mercado (0,53%). No ano, a inflação foi impulsionada, principalmente, pelos preços dos combustíveis, da alimentação no domicílio e dos serviços como um todo, que aumentaram 10,1%, 8,2% e 4,8%, respectivamente. De maneira geral, houve uma piora na composição do IPCA de 2024 em relação a 2023. A inflação de serviços subjacentes, por exemplo, acelerou de 4,8% para 5,8% no ano passado – patamar bastante elevado.
Na nossa visão, o cenário seguirá desafiador em 2025: o mercado de trabalho aquecido e a perspectiva de câmbio depreciado pressionarão ainda mais a inflação. Nossa projeção é de que o IPCA feche o ano em 5,7%, novamente acima do limite superior da meta.
Os dados divulgados hoje reforçam nossa visão de que o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) deve manter o ritmo de alta dos juros já sinalizado para tentar controlar a inflação. Esperamos um aumento de 1 ponto percentual na Selic no final do mês e novos ajustes nas reuniões seguintes, com a Selic chegando a 15% em junho.
A inflação medida pelo IGP-DI apontou alta de 0,87% em dezembro, acima da mediana das projeções do mercado (0,8%). A composição dos índices de atacado mostrou o IPA agrícola com elevação de 0,6%. O núcleo do IPA industrial – que inclui apenas os itens relacionados à inflação de bens industriais do IPCA, excluindo alimentos, combustíveis e minério de ferro – subiu 0,4%. Em 2024, o índice do IGP-DI acumulou alta de 6,9%, o maior valor desde 2021 (17,7%). O IPA agrícola encerrou o ano em 14,4% e o núcleo do IPA industrial mostrou expansão de 5,3%.
A produção industrial recuou 0,6% em novembro na comparação com outubro, resultado ligeiramente melhor do que projetávamos (-1%). A indústria extrativa expandiu 0,1%, enquanto a indústria de transformação apresentou uma queda de 1%. O segmento de bens de capital - categoria ligada a investimentos em máquinas e equipamentos – caiu 1,7%. A despeito da contração no mês, os números sugerem que a indústria brasileira avançou em 2024, mesmo com a alta da taxa Selic. Faltando apenas a divulgação dos dados de dezembro, nossa expectativa é de que a produção industrial tenha fechado o ano com expansão próxima a 3%.
A Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) de novembro apontou queda de 1,8% frente ao mês anterior no volume de vendas do comércio varejista ampliado, mais fraco do que o esperado por nós e pelo mercado (-0,3%). Na comparação com novembro de 2023, o setor teve um crescimento de 2,1%. Destaque negativo para os itens que classificamos como sensíveis ao crédito. Entre esses itens, a categoria de veículos e motocicletas surpreendeu com uma contração de 7,6%, queda que praticamente compensou a alta no mês anterior (8%). No varejo restrito, as vendas registraram elevação de 0,4% na comparação mensal e subiram 6,5% na anual. Nossa expectativa é de que o setor feche o ano com um crescimento de 4%
Os dados de novembro divulgados até agora corroboram nossa visão de uma desaceleração na atividade econômica no último trimestre de 2024. Projetamos um crescimento do PIB no período de apenas 0,2% em relação ao trimestre anterior. Para 2025, nossa expectativa é que o PIB avance 2%, abaixo dos 3,5% que esperamos para 2024.
Felipe Salles Head
Claudia Moreno Head Brasil
Claudia Rodrigues Head Internacional
Felipe Mecchi Internacional
Heliezer Jacob Brasil
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