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Resumo semanal: inflação alta mantém pressão sobre o Fed

Confira as principais notícias da semana (22/4-26/4), segundo a avaliação da equipe econômica do C6 Bank. Leia a íntegra do relatório.

Atualizado em

Felipe Salles, head da equipe de economia.

Internacional

Estados Unidos: inflação permanece elevada

A inflação subiu em março e segue persistente em serviços. Em março, o índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês) aumentou 0,3% em relação ao mês anterior, segundo dados do Departamento do Comércio americano. O núcleo do indicador, que exclui alimentos e energia, também aumentou 0,3%. Em doze meses, o núcleo do PCE continua acumulando alta de 2,8%, permanecendo acima da meta de 2% do banco central americano (Federal Reserve – Fed). Houve revisão para cima do índice para os meses de janeiro e fevereiro. Os preços de serviços mantêm uma pressão elevada sobre o indicador e os preços de bens recentemente voltaram ao terreno positivo. Outros indicadores de inflação subjacente calculados pelo Fed, que excluem do índice efeitos temporários, também seguem elevados, sugerindo inflação em torno de 3,5%. 

O PIB registrou expansão de 1,6% no 1T24 em relação ao trimestre anterior, anualizado e com ajuste sazonal, de acordo com a primeira estimativa do Departamento do Comércio americano. O crescimento desacelerou em relação ao 4T23 e veio bem abaixo do esperado. No entanto, a indicação é de economia aquecida, com consumo e investimento fortes e em parte atendidos por aumento nas importações.

A renda e o consumo das famílias permaneceram elevados em março, a renda e os gastos do consumidor subiram 0,5% e 0,8%, respectivamente, frente a fevereiro, segundo dados do Departamento do Comércio. Gastos com bens e serviços aumentaram no período.

Os pedidos de bens duráveis e de bens de capital tiveram aumento moderado em março. O núcleo dos pedidos de bens duráveis, que exclui o setor de transportes, subiu 0,2% em relação ao mês anterior, segundo relatório do Departamento do Comércio dos Estados Unidos. O núcleo dos pedidos de bens de capital, que exclui aeronaves e equipamentos de defesa, registrou alta similar. Ambos os pedidos reverteram a queda do mês anterior, mas seguem tendência de estagnação.

As vendas de casas novas aumentaram significativamente em março (8,8%) em relação ao mês anterior, segundo dados divulgados pelo Departamento do Comércio. As vendas de casas novas, que representam menos de 20% das vendas totais de casas, tiveram forte aumento durante a pandemia (meados de 2020-2021), mas já voltaram a média anterior. Já as vendas de casas existentes seguem abaixo da média pré-pandemia. Os preços de imóveis continuam elevados, apoiados nos baixos estoques de casas disponíveis para venda. De modo geral, os preços e as taxas de hipoteca elevados mantêm as vendas do setor fracas. O indicador de vendas pendentes de casas subiu 3,4% no mesmo período, sugerindo possível aumento das vendas à frente.

A atividade continua em expansão moderada em abril, segundo as prévias dos índices de gerentes de compras (PMIs, na sigla em inglês). O PMI composto, que inclui o setor de manufaturas e serviços, diminuiu 1,2 ponto para 50,9 pontos. Houve redução no índice de serviços (50,9) e manufaturas (49,9). A demanda diminuiu em ambos os setores e as empresas contrataram menos no período. A inflação desacelerou.

Em relatório semanal, os pedidos iniciais de seguro-desemprego continuam em níveis baixos para padrões históricos, em 207 mil na semana encerrada em 20 de abril, 5 mil abaixo da semana anterior.

Em nossa visão, o cenário atual (inflação elevada e persiste e mercado de trabalho aquecido) não é condizente com o início do ciclo de cortes de juros no primeiro semestre. Os dados divulgados esta semana aumentam as chances de não haver nenhuma redução de juros neste ano.

Europa: atividade segue em melhora gradual

A guerra entre Rússia e Ucrânia completou dois anos e continua sem perspectiva de fim próximo.

A atividade continuou melhorando em abril, de acordo com as prévias dos índices de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês). O índice composto, que considera o setor de manufaturas e serviços, subiu 1,1 ponto para 51,4 no mês, apresentando melhora pelo quarto mês seguido, e se firmando em território expansionista, acima da marca dos 50 pontos, pelo segundo mês consecutivo. O aumento do índice continua sendo puxado pelo setor de serviços (52,9), enquanto o setor de manufaturas voltou a perder força (45,6). A demanda por serviços segue crescente, mas a demanda por bens permanece frágil. O tempo de entrega de mercadorias continua diminuindo depois de subir no início do ano quando houve interrupções no fluxo de navios pelo Mar Vermelho. A criação de emprego acelerou; os preços de insumos e de vendas permanecem pressionados. Entre as maiores economias do bloco, o PMI da Alemanha subiu (50,5), entrando em território expansionista neste mês, com melhora em manufaturas (42,2) e serviços (53,3). O PMI da França também aumentou (49,9) e ficou próximo da estabilidade, com melhora de serviços, enquanto manufaturas seguem fracas.

O índice de confiança do consumidor segue fraco. O índice calculado pela Comissão Europeia teve aumento modesto de 0,2 ponto em abril, mas segue abaixo da média pré-pandemia.

No Reino Unido, o indicador de atividade segue apontando expansão. A prévia do PMI alcançou 54 pontos, 1,2 ponto acima de março, permanecendo em expansão pelo sexto mês seguido, com forte desempenho do setor de serviços (54,9). O setor de manufaturas recuou e voltou a sinalizar contração (48,7). Houve sólido aumento na demanda por serviços e nas contratações do setor; os preços de insumos, como mão de obra, tiveram forte alta. O emprego subiu moderadamente, em razão da maior atividade no período.

Japão: BoJ mantém cautela

O Banco do Japão (BoJ, na sigla em inglês) manteve o intervalo de flutuação de juros entre 0 e 0,1%, conforme esperado. Os juros deixaram o território negativo em março, depois de 8 anos em -0,1%. O controle da curva de juros, que definia uma meta para a taxa do título público de 10 anos, também foi abolido em março, mas o Banco avisou na ocasião que manteria a compra dos títulos para evitar um rápido aumento nos retornos. Na decisão desta semana, a compra de títulos públicos também foi mantida, podendo ficar levemente abaixo do mês anterior. O presidente da instituição, Kazuo Ueda, afirmou que os juros podem subir se a trajetória da economia e da inflação continuarem consistentes com as previsões do Banco, no entanto, acrescentou que é preciso ter cautela, já que a economia parece ser frágil em cenário de juros altos. A previsão do BoJ para o núcleo da inflação (que exclui alimentos frescos) subiu de 2,4% para 2,8% neste ano fiscal e se mantém próximo da meta em 2025 e 2026. 

Em março, o núcleo da inflação cresceu 2,6% no acumulado em 12 meses, desacelerando em relação ao mês anterior. O país tem histórico de deflação, mas desde 2022 tem apresentado inflação acima da meta de 2%. 

China: juros permanecem inalterados

O Banco do Povo da China (PBoC, na sigla em inglês) manteve as taxas de juros de curto prazo (LPR 1 ano) e de longo prazo (LPR 5 anos) inalteradas, conforme esperado. A LPR 1 ano permaneceu em 3,45% e a LPR 5 anos em 3,95% na decisão de abril, depois de corte de 25 pontos-base na LPR 5 anos em fevereiro.

Commodities: petróleo estabiliza em patamar elevado

O conflito entre Israel e o Hamas completou seis meses. A crise geopolítica pode demorar algum tempo. Depois de eventos recentes envolvendo Irã e Israel, a situação parece contida. Até o momento não houve uma escalada do conflito na região, que é a maior exportadora mundial de petróleo.

O preço futuro do petróleo (Brent) encerrou a semana (25/4) pouco abaixo de 90 dólares por barril, com aumento de 2% em relação à semana anterior. O preço da commodity segue em torno de 90 dólares desde o início do mês, sem apresentar grande variação depois de crise entre Israel e Irã.

O preço futuro do gás natural na Europa recuou na semana. No período de 18 a 25 de abril, o preço diminuiu 8%, depois de alta na semana anterior. Os estoques seguem elevados na região e o fim da temporada de aquecimento se aproxima. O preço segue baixo, menos de 40% do que era antes do início da guerra entre Rússia e Ucrânia.

Os preços futuros das commodities agrícolas na Bolsa de Chicago tiveram altas esta semana. Entre os dias 18 e 25 de abril, o preço do trigo, do milho e da soja avançaram 12%, 3% e 2,5%, respectivamente. O aumento expressivo no preço do trigo está relacionado a preocupações quanto a seca em grandes produtores, como Rússia e Estados Unidos.

Brasil

Focus: projeções da Selic sobem pela segunda semana seguida

As projeções para o IPCA registraram alta para 2024 (de 3,71% para 3,73%) e para 2025 (de 3,56% para 3,60%), mas não houve mudanças para 2026 (3,5%). O número esperado para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) teve uma elevação para 2024 (de 1,95% para 2,02%) e ficou estável para 2025 (2%). Para 2024, a taxa Selic subiu de 9,13% para 9,5%. Já para 2025, subiu de 8,5% para 9%. Para 2026, a taxa permaneceu em 8,5%. As projeções estão no Boletim Focus, relatório do Banco Central que reúne a expectativa das instituições financeiras em relação aos principais indicadores econômicos do país.

Gráfico de linhas sobre projeções focus do IPCA porcentagem ano a ano. Analise das medianas desde janeiro de 2022 a abril de 2024 em comparação com a meta de inflação para 2024 e 2025, evidenciando projeções que se distanciam da meta.

Inflação: segmento de serviços ainda resiliente

O IPCA-15 de abril registrou alta de 0,21%, abaixo da nossa projeção (0,28%) e do consenso de mercado (0,29%). Em 12 meses, o índice está em 3,8%. A principal surpresa veio do grupo de serviços, concentrado em itens como conserto de automóvel e alimentação fora do domicílio. Entretanto, a inflação de serviços subjacentes, categoria que exclui os itens mais voláteis e é a mais olhada pelo Banco Central, segue pressionada pelo mercado de trabalho aquecido. A média dos núcleos da inflação calculada pelo Banco Central, uma medida mais limpa da tendência dos preços, mostra desaceleração e acumula alta de 3,6% em 12 meses. Nesta mesma métrica, serviços estão em 4,7% e bens industriais em 0,3%. Nas nossas projeções, o IPCA acumulado em 12 meses deve encerrar 2024 em 4,7%. Para 2025, nossa previsão é que a inflação fique em 5%.

Gráfico de linhas sobre IPCA 15 acumulado em 12 meses, apresentando  informações sobre IPCA 15, serviços e bens industrias de abril de 2013 e abril 2024.

Regulamentação da reforma tributária avança no Congresso

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, entregou ontem ao Congresso Nacional o primeiro projeto de lei complementar para regulamentar a reforma tributária do consumo. A proposta não traz uma alíquota dos novos tributos, que deve ficar, em média, em 26,5%, sendo 8,8% de CBS (a parcela federal) e 17,7% de IBS (a parcela dos estados e municípios), de acordo com o secretário Bernard Appy. O texto prevê a criação de uma cesta básica nacional com alíquotas zeradas de apenas 15 itens, e uma cesta mais ampla com redução de 60% no imposto. Apesar do calendário apertado por contas das eleições municipais, lideranças da Câmara dos Deputados e do Senado Federal defendem a aprovação já neste ano.

Equipe Econômica C6 Bank

Felipe Salles Head
Claudia Moreno Head Brasil
Claudia Rodrigues Head Internacional
Felipe Mecchi Internacional
Heliezer Jacob Brasil

Este relatório foi preparado pelo Banco C6 S.A.

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