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Resumo semanal: Fed sinaliza pausa e Copom ainda não indica queda

Confira as principais notícias da semana, segundo a avaliação da equipe econômica do C6 Bank

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Tempo de leitura · 11 min

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Confira as principais notícias da semana (1/5-5/5), segundo a avaliação da equipe econômica do C6 Bank. Leia a íntegra do relatório.

Internacional

Estados Unidos: ciclo de alta de juros pode ter chegado ao fim

O banco central americano (Federal Reserve – Fed) subiu os juros em 25 pontos-base e sinalizou uma possível pausa. Em decisão unânime, o intervalo de juros aumentou para 5% a 5,25%, o maior nível alcançado em 2007. O aumento foi justificado por uma inflação ainda elevada e um mercado de trabalho robusto, apesar de uma expansão moderada da atividade. Membros do comitê de política monetária reconheceram que as condições de crédito provavelmente irão apertar, como consequência dos eventos recentes no sistema bancário, mas reafirmaram que os efeitos permanecem incertos. O sinal de possível pausa veio com a afirmação no comunicado que o comitê determinará se um aperto adicional será apropriado. A taxa de juros atual está em linha com a taxa terminal prevista pelos membros do comitê em março. O presidente do Fed, Jerome Powell, reafirmou um possível fim do ciclo de alta, mas alertou que ainda não prevê corte nos juros já que a inflação deve demorar a ceder.

A comunicação do Fed corrobora nossa visão de que a taxa de juros americana deve permanecer elevada, no nível atual, ou um pouco acima, por longo tempo. A demanda segue forte e deve demorar algum tempo para ceder. O mercado de trabalho deve continuar desacelerando lentamente. A inflação segue pressionada por elevações de salários acima dos ganhos de produtividade. Não esperamos que os juros americanos caiam antes de meados de 2024. No entanto, reconhecemos que o início do corte de juros pelo Fed pode ser antecipado caso haja um aperto de crédito mais intenso decorrente do colapso de alguns bancos regionais nos EUA.

O mercado de trabalho segue aquecido. O Departamento de Trabalho publicou dados referentes ao mês de abril. De acordo com o Establishment Survey, houve criação de 253 mil empregos no período, acima do mês anterior e da expectativa de mercado. Nos últimos 3 meses, a média de contratações está em 222 mil, bem acima da média pré-pandemia de 163 mil em 2019. O ganho médio por hora trabalhada também acelerou para 0,5% em relação ao mês anterior e, nos últimos doze meses, acumula alta de 4,4%, indicando pressão de salários sobre a inflação. Segundo o Household Survey, a taxa de desemprego caiu para 3,4%, menor nível em 50 anos, também alcançado em janeiro deste ano. A taxa de participação da força de trabalho se manteve constante em 62,6%. Outro relatório do Departamento de Trabalho, o Jolts, mostrou diminuição do número de vagas de emprego em aberto, com total de 9,6 milhões em março. Apesar da redução, o número é elevado e mantém a razão de vagas em aberto por desempregado em 1,64, nível que ainda pressiona a inflação. Em relatório semanal, os pedidos iniciais de seguro-desemprego continuam em níveis baixos para padrões históricos, em 242 mil na semana encerrada em 29 de abril, 13 mil acima da semana anterior. Todos os indicadores sugerem que o mercado de trabalho segue robusto. Mantemos nossa visão de que um desaquecimento do mercado de trabalho deve ser lento, o que deve manter a inflação pressionada por algum tempo.

Atividade na indústria segue fraca. O índice de gerentes de compras do setor de manufaturas (PMI, na sigla em inglês) do Instituto ISM aumentou 0,8 ponto em abril frente ao mês anterior, para 47,1, permanecendo abaixo de 50 (nível neutro) e sinalizando contração pelo sexto mês consecutivo. Na composição do índice, produção e demanda permanecem fracos, o emprego subiu com aumento das contratações. Outro índice, o de pedidos à indústria, divulgado pelo Departamento do Comércio americano, registrou queda de 0,7% no núcleo (exclui transporte), sinalizando demanda menor para indústria.

O setor de serviços segue em expansão moderada. O índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) do Instituto ISM teve alta de 0,9 ponto para 51,9, com forte aceleração da demanda, mas desaceleração na atividade e emprego. Os preços tiveram leve aumento no mês e permanecem elevados.

O dólar vem perdendo força contra as demais moedas desde o início de março, quando começaram turbulências no setor bancário local. No início desta semana, houve o colapso de um terceiro banco regional no país. O risco de contágio mais amplo parece contido, com órgãos reguladores atuando rapidamente. Em nossa visão, o dólar deve se estabilizar próximo aos valores atuais. Não esperamos uma recessão na economia americana, mas uma desaceleração da atividade causada pelos juros elevados.

Europa: BCE indica juros mais altos à frente

O Banco Central Europeu (BCE) aumentou as taxas de juros em 25 pontos-base, reduzindo o ritmo de aumento, conforme esperado, depois de 3 altas de 50 pontos-base. Este foi o sétimo aumento consecutivo. A taxa de depósito foi para 3,25% ao ano – alcançando o pico de 2008 – e deve continuar subindo. Em comunicado, o Banco manteve a justificativa do aumento em razão de uma inflação ainda muito alta e que deve demorar a ceder. Próximas decisões continuam dependentes dos dados. A presidente do Banco, Christine Lagarde, disse que o ciclo de alta de juros não terminou e que todos os membros estão determinados a trazer a inflação para a meta de 2% no médio prazo. Concordamos com a visão do BCE que ainda há um caminho a percorrer em termos de política monetária. Acreditamos que os juros devem continuar subindo e permanecer elevados por um período prolongado.

A guerra entre Rússia e Ucrânia está no segundo ano. Mísseis russos continuam sendo lançados principalmente no leste e sul ucraniano, mas com explosões ocorrendo também na capital, Kiev. Um ataque a drones ocorreu no Kremlin, sem causar feridos. A Ucrânia nega participação. A Rússia acredita que os Estados Unidos ajudaram no ataque, mas não ofereceu provas. O conflito segue sem perspectiva de um fim próximo.

Preços das commodities energéticas seguem diminuindo. Entre os dias 28 de abril e 4 de maio, o preço futuro do petróleo caiu 9% (Brent), ficando próximo de 70 dólares por barril no fim do período. Em nossa visão, a atividade fraca, em razão de juros elevados, e a manutenção de um dólar em patamar ainda forte, que tende a reduzir o preço em dólar de produtos cotados na moeda americana, devem evitar pressões adicionais no preço do petróleo. O preço do gás natural recuou 7% no mesmo período e está quase 60% abaixo da média de janeiro de 2022 (pré-guerra), com estoque de gás elevado, o que continua sinalizando perspectivas melhores de crescimento na região. O preço do trigo subiu, refletindo preocupações quanto a extensão do acordo entre Rússia e Ucrânia de exportação pelo Mar Negro, que termina em 18 de maio.

A inflação ao consumidor segue alta. O índice (CPI, na sigla em inglês) voltou a subir na margem de 6,9% para 7% nos últimos doze meses até abril, segundo a prévia do Eurostat, com aumento no preço de energia depois de queda no mês anterior. O núcleo da inflação, que exclui alimentos, energia, álcool e tabaco teve leve redução, de 5,7% para 5,6% no período, mas segue elevado. Entre as maiores economias do bloco, a inflação acelerou na França (6,9%) e Itália (8,8%), e desacelerou na Alemanha (7,6%).  

A inflação ao produtor (PPI, na sigla em inglês) caiu 1,6% no mês de março frente ao mês anterior, segundo o Eurostat. A queda foi a terceira consecutiva, puxada novamente por menor preço de energia (-4,8%). Em 12 meses, o PPI desacelerou bem, mas segue elevado e acumula alta de 5,9%.

O mercado de trabalho continua aquecido. A taxa de desemprego alcançou novo mínimo histórico, em 6,5% em março. O índice divulgado pelo Eurostat mostra heterogeneidade entre as economias do bloco. O desemprego permanece baixo na Alemanha (2,8%), mas alto na Espanha (12,8%).

As vendas no varejo contraíram 1,2% em março frente ao mês anterior, segundo o Eurostat. Houve queda em diversas categorias, inclusive alimentos. A tendência tem sido de queda nas vendas no varejo desde meados de 2022, com a pressão inflacionária reduzindo o poder de compra.

China: atividade segue sólida

A atividade continuou expandindo em abril, depois da volta à normalidade pós-Covid. De acordo com os índices de gerentes de compras (PMIs, na sigla em inglês), calculados pelo Escritório Nacional de Estatísticas chinês (NBS, na sigla em inglês), o PMI composto, que considera o setor de manufaturas, construção e serviços, foi para 54,4 pontos, abaixo do mês anterior, mas ainda sinalizando crescimento sólido. A diminuição do índice composto foi causada por uma redução no índice de manufaturas, que voltou a ficar abaixo de 50 pontos, depois de três meses em expansão. Os setores de serviços e construção continuaram crescendo, porém mais moderadamente.

Assim como em outras regiões, como Estados Unidos e Zona do Euro, o setor de manufaturas tem perdido força, com menor demanda interna e externa, enquanto o setor de serviços continua em expansão.

Brasil

Focus: projeções de inflação estáveis

As projeções para o IPCA não apresentaram mudanças para 2023 (de 6,04% para 6,05%), para 2024 (4,18%), para 2025 (4%) e nem para 2026 (4%). Os números esperados para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) mostraram ligeira melhora para 2023 (de 0,96% para 1%), porém ficaram estáveis para 2024 (1,41%). A taxa Selic segue em 12,5% para 2023, em 10% para 2024, em 9% para 2025 e registrou leve alta para 2026 (de 8,75% para 8,88%). As projeções estão no Boletim Focus, relatório do Banco Central que reúne a expectativa das instituições financeiras em relação aos principais indicadores econômicos do país.

Política monetária: sem corte de juros, por enquanto

O Banco Central do Brasil (BCB) confirmou as expectativas e manteve a taxa Selic em 13,75% na quarta-feira (3). O Comitê reiterou que “segue vigilante, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período prolongado será capaz de assegurar a convergência da inflação”.

No cenário alternativo, no qual a taxa Selic é mantida constante ao longo de todo o horizonte relevante, a projeção de inflação ficou estável em 5,7% ao final de 2023 e teve leve queda para o final de 2024, passando de 3% para 2,9%. Na nossa visão, o Comitê busca sinalizar que a manutenção da taxa de juros no patamar atual de 13,75% ainda é compatível com a convergência da inflação para a meta em 2024, atual foco de política monetária.

O Comitê afirmou que “não há relação mecânica entre a convergência de inflação e a aprovação do arcabouço fiscal”. Ao considerar os riscos para a inflação, o comunicado deu ênfase aos impactos do arcabouço fiscal sobre “as expectativas para as trajetórias da dívida pública e da inflação, e sobre os ativos de risco”. De acordo com o texto, “a reoneração dos combustíveis e, principalmente, a apresentação de uma proposta de arcabouço fiscal reduziram parte da incerteza advinda da política fiscal. Por outro lado, a conjuntura, caracterizada por um estágio em que o processo desinflacionário tende a ser mais lento em ambiente de expectativas de inflação desancoradas, demanda maior atenção na condução da política monetária.” De fato, as projeções da Pesquisa Focus encontram-se acima das metas em 2023 (6,05% versus 3,25%), 2024 (4,18% versus 3%) e em 2025 (4% versus 3%).

O Comitê afirmou que “não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”, mas adicionou que esse é “um cenário menos provável”.  Na nossa visão, esse trecho sinaliza que a chance de voltar a subir os juros diminuiu.

Em suma, a comunicação do Banco Central e o cenário prospectivo para a inflação sugerem manutenção da taxa Selic nos patamares atuais, por ora. Esperamos elevação das metas de inflação à frente, provavelmente em junho, quando o CMN precisará decidir a meta de 2026, o que poderia abrir espaço para queda da Selic na segunda metade do ano. Projetamos Selic em 12,5% ao final de 2023 e 11% ao final de 2024. Aguardamos a ata da reunião, que será divulgada na próxima terça-feira (9), para termos mais detalhes sobre os rumos futuros da política monetária.

Equipe Econômica C6 Bank

Felipe Salles Head
Claudia Moreno Head Brasil
Claudia Rodrigues Head Internacional
Felipe Mecchi Internacional
Heliezer Jacob Brasil

Este relatório foi preparado pelo Banco C6 S.A.

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