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Resumo semanal: FED indica cautela em relação a novos cortes

Leia a íntegra da análise da equipe econômica do C6 Bank.

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Internacional

Estados Unidos: Fed reduz juros, mas sinaliza menos cortes em 2025

O banco central americano (Federal Reserve – Fed) cortou a taxa de juros americana em 25 pontos-base (pb), conforme esperado. Foi o terceiro corte consecutivo, que levou a taxa para o intervalo de 4,25% a 4,5% ao ano. A decisão não foi unânime, houve um voto dissidente pela manutenção da taxa no patamar anterior. O documento divulgado pela autoridade monetária justificou a decisão em razão do progresso da inflação em direção à meta e do esfriamento do mercado de trabalho, mas reconheceu que a inflação segue elevada e o desemprego baixo. Além da redução dos juros, o Fed revisou suas projeções de variáveis macroeconômicas para os próximos anos. Segundo a mediana das projeções de membros do comitê de política monetária, a inflação deve desacelerar mais lentamente, alcançando a meta de 2% apenas em 2027, um ano depois do previsto anteriormente. O desemprego deve aumentar um pouco, passando dos atuais 4,2% para 4,3% no fim de 2025. Quanto aos juros, as projeções sugerem menos cortes em 2025: antes eram 100pb, agora 50pb. O presidente do Fed, Jerome Powell, indicou que a política monetária está entrando em uma nova fase, na qual o comitê se moverá mais cautelosamente. Depois de ter reduzido os juros em 100pb, Powell afirmou que a política monetária segue restritiva e a postura mais cautelosa está relacionada à inflação elevada e à menor preocupação com o enfraquecimento do mercado de trabalho. Em nossa visão, o discurso e as projeções do Fed são compatíveis com uma pausa na próxima decisão em janeiro e um menor ritmo de cortes ao longo do próximo ano.

Nesta quinta-feira, dia 19 de dezembro, a Câmara dos Representantes dos Estados Unidos rejeitou uma proposta orçamentária para evitar a paralisação parcial do governo federal. O prazo para uma decisão sobre o financiamento do governo expira à meia-noite desta sexta-feira. Embora a paralisação parcial já tenha ocorrido no passado e tenha poucos efeitos econômicos no curto prazo, este evento pode indicar algum grau de discordância entre o congresso e o governo, dificultando votações futuras.

A inflação veio um pouco melhor que o esperadoEm novembro, o índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês) subiu 0,1% em relação ao mês anterior, segundo dados do Departamento do Comércio americano. Os preços de bens permaneceram estáveis e os de serviços desaceleraram. O núcleo do indicador, que exclui alimentos e energia, também registrou aumento de 0,1%. Em doze meses, o núcleo do PCE acumula alta de 2,8%, permanecendo firme, acima da meta de 2% do Fed.

A renda e o consumo das famílias aumentaram em novembro frente a outubro, segundo dados do Departamento do Comércio. O aumento da renda é resultado do crescimento maior de salários no período. O aumento do consumo ocorreu, principalmente, devido a uma maior demanda por bens. Ambos os indicadores seguem sólidos.

A atividade teve desempenho melhor do que o esperado em dezembro, segundo a prévia do PMI composto (56,6), em razão do setor de serviços (58,5), enquanto o setor de manufaturas continuou em retração pelo sexto mês consecutivo. Na composição do índice houve melhora na produção e alta significativa da demanda. O emprego teve leve aumento depois de quatro meses em queda; pressões inflacionárias se equilibram com menores custos de serviços compensando maiores preços de insumos.

A indústria segue tendência de desaceleração enquanto o consumo acelera. A produção industrial encolheu 0,1% em novembro em relação ao mês anterior, segundo dados do banco central americano (Federal Reserve, Fed). Outra pesquisa, divulgada pelo Departamento de Comércio americano, mostrou que as vendas no varejo cresceram 0,7% no mesmo período.

Em relatório semanal, os pedidos iniciais de seguro-desemprego continuaram em níveis baixos para padrões históricos, em 220 mil na semana encerrada em 14 de dezembro.

As vendas do setor imobiliário tiveram melhora em novembro, mas o setor segue frágil. O indicador de vendas de casas usadas, que representa mais de 80% do total negociado no mercado imobiliário, registrou aumento de 4,8% em relação a outubro, segundo a Associação Nacional de Corretoras (NAR, na sigla em inglês). Apesar do aumento recente, as vendas seguem em patamar abaixo do período pré-pandemia. Além de vendas, as construções iniciadas continuam fracas. No entanto, há sinais de uma possível melhora à frente. O núcleo do indicador de permissões para construir, que costuma antecipar início de construções, registrou um aumento de 6,1% em novembro. Em outra pesquisa, o índice de confiança das construtoras (NAHB Housing Market Index) referente a dezembro permaneceu no mesmo patamar de novembro, seguindo abaixo da média pré-pandemia.

Europa: BoE atento às pressões inflacionárias

A guerra entre Rússia e Ucrânia está no terceiro ano e continua sem perspectiva de fim próximo.

Na zona do Euro, a atividade continuou em retração em dezembro, porém mais moderada em razão de uma melhora no setor de serviços. O setor de manufaturas continuou encolhendo. De acordo com as prévias do PMI, o indicador referente ao setor de manufaturas permaneceu fraco (45,2) e segue em território contracionista desde meados de 2022. O indicador referente a serviços voltou a sinalizar expansão (51,4). A composição do índice composto, que inclui o setor de manufaturas e serviços, mostrou contínua retração na demanda, queda na produção, redução do emprego e pressão sobre os preços. Entre as maiores economias do bloco o desempenho foi fraco na Alemanha (47,8) e na França (46,7), com maior encolhimento de manufaturas e alguma melhora em serviços.

Na Alemanha, o primeiro-ministro Olaf Scholz perdeu o voto de confiança do parlamento, e as eleições para a escolha de um novo primeiro-ministro devem ser antecipadas para fevereiro. Scholz era apoiado por partidos de uma coalizão que colapsou em novembro, depois de divergências quanto à flexibilização de regras do endividamento público apoiadas pelo primeiro-ministro. O partido da ex-primeira-ministra Angela Merkel (União Democrata Cristã), liderado desde 2022 por Friedrich Merz, aparece à frente das pesquisas de intenção de voto para as próximas eleições.

O Banco da Inglaterra (BoE, na sigla em inglês) manteve as taxas de juros estáveis em 4,75% ao ano, conforme o esperado. Dos 9 membros do Comitê de Política Monetária, 6 votaram a favor da manutenção dos juros e 3 foram contrários, preferindo um corte de 25 pontos-base. Na ata, o Comitê justificou a decisão em razão da necessidade de garantir que a inflação convirja à meta de maneira sustentada, reconhecendo que há pressões inflacionárias remanescentes. O texto manteve a sinalização de que a política monetária continuará restritiva por tempo suficientemente longo até que os riscos da inflação retornar à meta tenham se dissipado. O presidente da instituição, Andrew Bailey, reforçou o compromisso com a redução da inflação, acrescentando que a tarefa exige cautela na redução de juros. Bailey afirmou que uma abordagem gradual para cortes de juros permanece sendo a estratégia correta.

O mercado de trabalho britânico continua mostrando sinais de desaquecimento. De acordo com o Escritório Nacional de Estatísticas (ONS, na sigla em inglês), a taxa de desemprego permaneceu em 4,3% nos três meses até outubro, patamar levemente acima da média de 2019. A pesquisa, no entanto, continua com um problema de amostra reduzida e, portanto, os resultados devem ser interpretados com cautela. As contratações têm mostrado uma tendência de queda, com certa estagnação nas últimas divulgações. O número de vagas em aberto segue diminuindo. Apesar do esfriamento, os salários seguem subindo em ritmo forte. Nos três meses até outubro, o ganho médio semanal (excluindo bônus) acelerou de 4,9% para 5,2%, comparado ao mesmo período do ano passado.

A atividade permaneceu estável no Reino Unido em dezembro. A prévia do PMI Composto registrou 50,5 pontos, com aceleração no setor de serviços (51,4), mas leve piora em manufaturas (47,3). Na composição do PMI, houve melhora na produção, mas enfraquecimento na demanda, redução do emprego e aumento da pressão inflacionária.

O volume de vendas no varejo aumentou em novembro para os britânicos, segundo dados divulgados pelo ONS. O volume de vendas segue levemente abaixo do nível pré-pandemia.

A inflação veio em linha com o esperado. O índice de preço ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) desacelerou para 0,1% em novembro contra o mês anterior, com queda no preço de serviços e menor crescimento no preço de bens, segundo dado divulgado pelo ONS. O núcleo do índice, que exclui alimentos, energia, álcool e tabaco, ficou estável. A redução no preço de serviços foi causada por itens que tendem a ser mais voláteis, e, portanto, podem ter efeito contrário no próximo período, como preços de transportes (especialmente passagens aéreas) e de acomodação. Em 12 meses, o CPI acumula alta de 2,6% e o núcleo acelerou para 3,5%, com serviços mantendo um ritmo de crescimento elevado, de 5%.

Japão: BoJ mantém pausa

O Banco do Japão (BoJ, na sigla em inglês) manteve a taxa juros em 0,25%, conforme esperado pelo mercado, depois de realizar um primeiro aumento em julho. Houve um voto dissidente favorável à alta dos juros. Na semana anterior, algumas notícias mencionavam que membros do comitê de política monetária estariam vendo um custo baixo em manter os juros parados, considerando que os riscos de a inflação sair do controle permanecem baixos. O presidente do BoJ, Kazuo Ueda, justificou a decisão pela necessidade de aguardar mais informações sobre as negociações de salários, além de esperar por mais clareza quanto a nova política americana. Em nossa visão, um novo aumento de juros não deve ocorrer na próxima decisão em janeiro.

China: consumo frágil, indústria forte

Os dados de atividade de novembro mostraram perda de força na demanda, mas contínua solidez na produção industrial. Segundo o Escritório Nacional de Estatística (NBS, na sigla em inglês), as vendas no varejo cresceram 3% comparadas ao mesmo mês de 2023, uma desaceleração no consumo que aumenta expectativas de mais medidas de subsídios do governo para compra/troca de mercadorias. Os investimentos também desaceleraram no acumulado do ano em comparação ao mesmo período de 2023, com menor crescimento nos investimentos em infraestrutura e contínua contração nos investimentos imobiliários. Os investimentos no setor de manufaturas, no entanto, continuam sólidos. A produção industrial manteve crescimento forte, aumentando 5,4% em novembro comparada a novembro de 2023. A taxa de desemprego urbano permaneceu em 5% no mês.

O setor imobiliário permanece em contração, mas alguns indicadores apresentaram melhora em novembro. As vendas de casas no mercado secundário tiveram contração menor em novembro contra o mês anterior (-0,3%), representando uma melhora em relação a outubro. O preço de casas novas nas 70 maiores cidades chinesas encolheu moderadamente no mesmo período. Outros indicadores, como início de novas construções e obras finalizadas, seguem em forte contração. Medidas anunciadas pelo governo desde setembro para apoiar o setor, como redução no custo de financiamento para os que já possuem imóveis e menor valor de entrada na compra de casas, podem estar ajudando a promover vendas.

Na semana passada, a Conferência Central de Trabalho Econômico (CEWC, na sigla em inglês), que discute os rumos da economia para o próximo ano, mostrou que autoridades não devem implementar uma mudança de direção. O ajuste no setor imobiliário, por exemplo, deve continuar ocorrendo de forma gradual.

O Banco do Povo da China (PBoC, na sigla em inglês) manteve inalteradas as taxas de juros usadas como referência para empréstimos às famílias e empresas, conforme o esperado. A taxa de empréstimo (LPR, na sigla em inglês) com prazo de 1 ano permaneceu em 3,1% e a LPR de 5 anos em 3,6%. Cortes de juros são esperados mais à frente, para ajudar a economia.

Commodities: petróleo por volta de 73 dólares

A instabilidade política no Oriente Médio continua. Em Gaza, o conflito entre Israel e Hamas está no segundo ano. Um acordo de cessar-fogo por 60 dias foi assinado entre Israel e o Hezbollah. Na Síria, rebeldes derrubaram o governo de Bashar Al-Assad e nomearam um governo provisório. A crise geopolítica na região ainda deve demorar algum tempo.

O preço futuro do petróleo (Brent) diminuiu 0,7% de 12/12 a 19/12, fechando o período pouco abaixo de 73 dólares por barril. Desde o início de novembro, o preço da commodity tem oscilado entre 70 e 75 dólares, depois de um primeiro semestre forte quando o preço chegou a superar os 90 dólares por alguns dias. A sinalização de menos cortes de juros pelo Fed, a demanda global moderada – principalmente da China – e a ampla oferta de países fora da OPEP+ têm dado alívio aos preços do barril.

Os preços futuros de commodities agrícolas tiveram pouca variação na semana. O preço futuro da soja caiu 3,3%, do trigo caiu 1,1% e do milho subiu 2,1%. No ano, os preços dessas commodities vêm apresentando tendência de queda.

Brasil

Focus: Selic mais alta

As projeções para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador de inflação oficial do país, subiram para 2024 (de 4,84% para 4,89%), ficaram praticamente estáveis para 2025 (de 4,59% para 4,6%), não tiveram alterações para 2026 (4%) e registraram elevação para 2027 (de 3,58% para 3,66%). O número esperado para o crescimento do PIB teve poucas mudanças para 2024 (de 3,39% para 3,42%) e para 2025 (de 2% para 2,01%). A taxa Selic subiu para 2025 (de 13,5% para 14%) e para 2026 (de 11% para 11,25%). Já para 2027, o número segue em 10%. As projeções estão no Boletim Focus, relatório do Banco Central que reúne a expectativa das instituições financeiras em relação aos principais indicadores econômicos do país.

Gráfico "Selic Focus (% a.a.)" com projeções para 2025 e 2026. As linhas mostram o aumento progressivo da taxa Selic ao longo do tempo, com destaque para a linha branca representando 2025 e a linha amarela representando 2026. O gráfico indica as datas no eixo horizontal e as taxas percentuais no eixo vertical, com dados elaborados pelo Banco Central (BCB).

Política monetária: Copom vê cenário mais adverso, mas menos incerto

O Banco Central divulgou nesta semana a ata das reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) dos dias 10 e 11 de dezembro. No comunicado em que anunciou a decisão, o Copom intensificou o ritmo de aumento dos juros, elevou a taxa Selic para 12,25% e sinalizou elevação de 100 pontos-base nas próximas duas reuniões de janeiro e março do ano que vem.

O texto afirmou que tanto a decisão de juros quanto a comunicação foram feitas de forma unânime pelo Comitê. Essa afirmação foi relevante, pois, no comunicado da decisão da semana passada, a palavra “unânime” havia sido suprimida, apesar de a votação ter indicado todos os membros votaram pelo ajuste de 100 pontos-base. Havia, portanto, uma dúvida sobre a opinião dos membros do Copom a respeito da indicação sobre os próximos passos da política monetária.

O Comitê afirmou na ata que duas dimensões foram discutidas sobre a decisão. Para justificar a nova aceleração do ritmo, ele afirmou que a “magnitude da deterioração de curto e médio prazo do cenário de inflação exigia uma postura mais tempestiva para manter o firme compromisso de convergência da inflação à meta”. Além disso, justificou a decisão de sinalizar os próximos passos dizendo que “vários riscos se materializaram tornando o cenário mais adverso, mas menos incerto, permitindo maior visibilidade para que o Comitê oferecesse uma indicação de como antevia as próximas decisões”.

Vale destacar que o Comitê elevou novamente a sua estimativa de juros real neutro, que passou de 4,75% para 5,00% e afirmou que “seguirá avaliando essa hipótese”. O aumento dessa estimativa reafirma a necessidade de elevar mais os juros para trazer a inflação à meta, ainda que a magnitude da mudança seja pequena. Diante da decisão da semana passada e da ata desta semana, revisamos nossa projeção de taxa Selic para o final de 2025 de 13,75% para 15%. Na nossa visão, a contínua deterioração do cenário, observada pela depreciação do câmbio e novas elevações das expectativas de inflação, diante de uma dívida elevada e um fiscal expansionista trazem riscos de chegarmos a uma Selic ainda mais elevada.                 

Equipe Econômica C6 Bank

Felipe Salles                   Head

Claudia Moreno      Head Brasil

Claudia Rodrigues    Head Internacional

Felipe Mecchi               Internacional

Heliezer Jacob            Brasil

Este relatório foi preparado pelo Banco C6 S.A.

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