Leitura de 9 min

Resumo semanal: Fed endurece o discurso

Confira as principais notícias da semana (15/4-19/4), segundo a avaliação da equipe econômica do C6 Bank. Leia a íntegra do relatório.

Atualizado em

Economistas do C6 Bank. Da direita para a esquerda, Claudia Moreno (Head Brasil), Felipe Salles (Head) e Claudia Rodrigues (Head Internacional).
Claudia Moreno (Head Brasil), Felipe Salles (Head da equipe econômica) e Claudia Rodrigues (Head Internacional). Foto: Wanezza Soares.

Internacional

Estados Unidos: comunicação do Fed reforça cautela

A atividade da indústria continua moderada. A produção industrial registrou aumento de 0,4% em março frente ao mês anterior, segundo dados do banco central americano (Federal Reserve, Fed). A produção de manufaturas manteve uma tendência de crescimento com alta de 0,5%, número acima do esperado.

O setor imobiliário apresentou dados fracos. O núcleo do indicador de permissão para construir teve forte queda em março frente ao mês anterior, a primeira contração do índice desde 2022, segundo dados divulgados pelo Departamento do Comércio. Este indicador costuma antecipar o início de construções, cujo núcleo também contraiu no mês, interrompendo uma tendência de alta iniciada em 2023. As vendas de casas usadas tiveram queda de 4,3% no mesmo período depois de forte alta de 9,5% no mês anterior, segundo a Associação Nacional de Corretores de Imóveis (NAR, na sigla em inglês). Essas vendas, que representam mais de 80% das vendas do mercado imobiliário, diminuíram substancialmente no início de 2022 e permanecem em níveis baixos. O estoque de casas disponíveis para venda segue baixo, mantendo pressão sobre os preços. Em outra pesquisa, o índice de confiança das construtoras (NAHB Housing Market Index) permaneceu estável em abril, seguindo uma melhora iniciada há quatro meses, mas continua fraco. De modo geral, os preços e as taxas de hipoteca elevados mantêm as vendas do setor abaixo do nível pré-pandemia.

Em evento, o presidente do banco central americano (Fed), Jerome Powell, sinalizou que o comitê de política monetária deve esperar mais tempo antes de iniciar corte de juros. Powell apontou a falta de progresso na desaceleração da inflação e a força do mercado de trabalho como motivos que não dão a confiança necessária para a redução dos juros. Vários outros membros do Fed têm mencionado que ainda não é apropriado cortar juros.

Em nossa visão, o cenário atual (inflação elevada e mercado de trabalho aquecido) não é condizente com o início do ciclo de cortes de juros neste primeiro semestre. Acreditamos que cortes nos juros só devem começar no segundo semestre. Mas não descartamos a hipótese de que nenhum corte seja feito em 2024 caso a inflação se mantenha resiliente.

Europa: inflação acima do esperado no Reino Unido

A guerra entre Rússia e Ucrânia completou dois anos e continua sem perspectiva de fim próximo.

A produção industrial apresentou sinais de melhora. O índice registrou alta de 0,8% em fevereiro frente ao mês anterior com ajuste sazonal, segundo o Eurostat, depois de queda em janeiro. Mesmo excluindo a produção da Irlanda – país que costuma introduzir volatilidade ao índice em razão de direitos de propriedade intelectual e multinacionais no país – o índice cresceu 0,6%. Houve aumento da produção da Alemanha (1,1%), o segundo consecutivo e depois de uma retomada na produção do setor mais intensivo em energia. A produção da França também registrou aumento (0,2%).

A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, reiterou que o momento para iniciar o ciclo de corte de juros está próximo, desde que não ocorram choques que atrapalhem o progresso da inflação em direção à meta. Em nossa visão, o BCE deve cortar juros em junho em razão de uma desaceleração da atividade econômica e da desaceleração da inflação em curso.

No Reino Unido, o volume de vendas no varejo ficou estável em março em relação ao mês anterior, depois de leve aumento de 0,1% em fevereiro, segundo dados divulgados pelo Escritório Nacional de Estatísticas (ONS, na sigla em inglês). No geral, vendas seguem fracas.

O mercado de trabalho britânico apresentou sinais de moderação. De acordo com a ONS, nos três meses até fevereiro, a taxa de desemprego subiu de 4% para 4,2%, foi o segundo aumento consecutivo apesar de uma redução na taxa de participação. As contratações, segundo pesquisa PAYE, estão diminuindo: o número de pessoas admitidas caiu 67 mil em março em relação ao mês anterior (estimativa prévia), depois de queda também em fevereiro. A razão vagas em aberto por desempregado está de volta ao nível pré-pandemia. Apesar disso, os salários seguem crescendo em ritmo sólido. Nos três meses até fevereiro o aumento no ganho médio semanal foi de 5,6% comparado ao mesmo período do ano anterior, mantendo os ganhos acima da inflação.

A inflação ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) veio acima do esperado no Reino Unido. Tanto o índice cheio quanto o núcleo subiram 0,6% em março em relação ao mês anterior, mesmo aumento de fevereiro, mostrando persistência. O setor de serviços continua sendo o principal responsável pela inflação. Em 12 meses, o núcleo, que exclui alimentos, energia, álcool e tabaco, desacelerou de 4,5% para 4,2% no mês, segundo a ONS, ainda elevado e com pressão de serviços.

Neste cenário de inflação persistente e salários crescendo em ritmo forte, o Banco da Inglaterra deve manter cautela e permanecer com os juros em pausa na próxima decisão (9/5). Acreditamos que cortes de juros não devem ocorrer no primeiro semestre deste ano.

China: PIB forte no 1T24

O PIB cresceu 5,3% no 1T24 em relação ao mesmo trimestre do ano anterior, segundo o Departamento Nacional de Estatísticas da China (NBS, na sigla em inglês). A expansão veio acima do esperado e foi puxada por um melhor desempenho da atividade nos dois primeiros meses do ano, com crescimento forte da indústria, investimentos e exportações.

Em março, a atividade desacelerou. Segundo dados divulgados pelo NBS, a produção industrial cresceu 4,5% comparada a março de 2023. O dado veio abaixo do esperado, depois de forte crescimento em manufaturas nos meses anteriores. As vendas no varejo também cresceram menos que o esperado, subindo 3,1% no período. Os investimentos, no entanto, seguem fortes e surpreenderam positivamente, crescendo 4,5% no mesmo período, puxados pelo setor de manufaturas e infraestrutura, ambos apoiados por políticas públicas. Investimentos imobiliários, no entanto, permanecem encolhendo.

O setor imobiliário continua fraco. As vendas de casas novas estão em queda. Os preços de casas nas 70 maiores cidades chinesas diminuíram 0,34% em março contra o mês anterior, décima queda consecutiva. O preço de casas no mercado secundário diminuiu 0,53% no mesmo período. Durante o Congresso Nacional do Povo, evento anual que ocorreu em março, o governo não indicou mudança de postura em relação ao setor, que deve continuar sem grandes estímulos.

A taxa de desemprego urbano recuou levemente de 5,3% para 5,2% em março. Apesar do ritmo forte de crescimento em manufaturas, o setor contribuiu menos para a criação de emprego do que o setor de serviços, que segue com crescimento mais moderado.

Acreditamos que a China terá um crescimento menor em 2024 comparado a 2023 em razão de problemas estruturais (envelhecimento da população, alta dívida de governos locais e desequilíbrios no setor imobiliário) que devem levar o governo a manter políticas de suporte, mas sem grandes estímulos à economia.

Commodities: atenção voltada para o Oriente Médio

O conflito entre Israel e o Hamas completou seis meses. Houve retaliação do Irã a Israel – um ataque aéreo quase totalmente contido por aliados e pelo próprio sistema de defesa de Israel. Mais recentemente, uma explosão ocorreu na terceira maior cidade do Irã, ainda sem confirmação pelo governo local ou por Israel.

Não houve impacto relevante nos mercados globais até o momento, mas a atenção continua quanto a uma escalada do conflito na região, que é a maior exportadora de petróleo. A crise geopolítica pode demorar algum tempo.

O preço futuro do petróleo (Brent) encerrou a semana (18/4) abaixo de 90 dólares por barril, com queda de 3% em relação à semana anterior.

O preço futuro do gás natural na Europa continuou registrando aumento na semana. No período de 12 a 18 de abril, o preço subiu 5%. Os estoques seguem elevados na região e o fim da temporada de aquecimento se aproxima, mas notícias de ataques russos a uma planta de estocagem de gás natural na Ucrânia mantêm pressão sobre a commodity. Apesar do aumento recente, o preço segue baixo, menos de 40% do que era antes do início da guerra entre Rússia e Ucrânia.

Os preços futuros das commodities agrícolas na Bolsa de Chicago tiveram leve recuo pela quarta semana seguida. Entre os dias 12 e 18 de abril, o preço do trigo, do milho e da soja recuaram 3,5%, 2% e 3%, respectivamente.

Brasil

Focus: projeções de Selic sobem pela primeira vez no ano

As projeções para o IPCA registraram queda para 2024 (de 3,76% para 3,71%) e leve alta para 2025 (de 3,53% para 3,56%), mas não houve mudanças para 2026 (3,5%). O número esperado para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) teve uma pequena elevação para 2024 (de 1,90% para 1,95%) e ficou estável para 2025 (2%). A taxa Selic subiu de 9% para 9,13% para 2024 e permaneceu em 8,5% para 2025 e 2026. As projeções estão no Boletim Focus, relatório do Banco Central que reúne a expectativa das instituições financeiras em relação aos principais indicadores econômicos do país.

Gráfico de linhas sobre projeções focus do IPCA porcentagem ano a ano. Analise das medianas desde janeiro de 2022 a abril de 2024 em comparação com a meta de inflação para 2024 e 2025, evidenciando projeções que se distanciam da meta.

Inflação:  IGP-10 segue em deflação

A inflação medida pelo IGP-10 apontou queda de 0,33% em abril, abaixo da mediana das projeções do mercado (-0,20%). A composição dos índices de atacado mostrou o IPA agrícola com expansão de 1%. O núcleo do IPA industrial – que inclui apenas os itens relacionados à inflação de bens industriais do IPCA, excluindo alimentos, combustíveis e minério de ferro – subiu 0,4%. No acumulado em 12 meses, o índice contraiu 3,8%, acima da deflação de 4,1% no mês anterior. Em 12 meses, o IPA agrícola está no patamar de -10,7% e o núcleo do IPA industrial em -1,5%.

Gráfico de linha sobre IGP-10 acumulado em 12 meses desde abril de 1996 a abril de 2024.

Equipe Econômica C6 Bank

Felipe Salles Head
Claudia Moreno Head Brasil
Claudia Rodrigues Head Internacional
Felipe Mecchi Internacional
Heliezer Jacob Brasil

Este relatório foi preparado pelo Banco C6 S.A.

Os números contidos nos gráficos de desempenho referem-se ao passado; o desempenho passado não é garantia de resultados futuros.

Cada analista de Macro Research é o principal responsável pelo conteúdo deste relatório e atesta que:

(i) todas as opiniões expressas refletem com precisão suas opiniões pessoais e eventual recomendação foi elaborada de forma independente, inclusive em relação ao Banco C6 S.A. e / ou suas afiliadas;

(ii) nenhuma parte de sua remuneração foi, está ou estará, direta ou indiretamente, relacionada a quaisquer recomendações específicas realizadas pelo analista.

Parte da remuneração do analista vem dos lucros do Banco C6 S.A. e / ou de suas afiliadas e, consequentemente, as receitas decorrem de transações mantidas pelo Banco C6 S.A. e / ou suas coligadas.

Este relatório foi preparado pelo Banco C6 S.A., uma instituição regulada por autoridades brasileiras.

O Banco C6 S.A. é responsável pela distribuição deste relatório no Brasil.