Relatório mensal – EUA: corte de juros iminente

Equipe econômica do C6 Bank, liderada por Felipe Salles, divulga projeções

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Internacional

EUA

O mercado de trabalho continua desaquecendo. A taxa de desemprego subiu para 4,3% em julho, evidenciando um esfriamento maior do que o esperado. A inflação está em tendência de desaceleração, mas permanece acima da meta de 2%: o núcleo do índice (medido pelo PCE) está em 2,6%. O banco central americano (Federal Reserve – Fed) manteve a taxa de juros no intervalo de 5,25% e 5,5% na última decisão em julho. Falas recentes de membros da instituição sinalizaram um corte de juros este mês. O próprio presidente do Fed, Jerome Powell, afirmou que o momento para ajustar a política monetária chegou. Na nossa visão, o início do ciclo de queda dos juros deve ocorrer neste mês, com um corte de 25 pontos-base.

Europa

A atividade econômica permanece fraca, com esfriamento de boa parte da indústria dos países da região. Apesar disso, o desemprego diminuiu para 6,4%, novo mínimo histórico. Em agosto, o núcleo da inflação diminuiu de 2,9% para 2,8%, acima da meta mas em desaceleração. O Banco Central Europeu (BCE) manteve as taxas de juros inalteradas, depois de um corte na reunião de junho. Falas recentes de membros do BCE mostraram divergência quanto um corte de juros na próxima decisão. Em nossa visão, o BCE deve voltar a reduzir as taxas neste ano, em razão da perda de força da atividade econômica e do controle da inflação em curso.

Japão

A inflação permaneceu elevada em julho. O núcleo do índice, que exclui alimentos frescos, acelerou para 2,7%, pressionado pela retirada de subsídios de energia, como eletricidade e gás. Os salários também subiram no mês. O Banco do Japão (BoJ) elevou os juros em julho, a segunda alta consecutiva no ano. Falas recentes do presidente do BoJ sinalizam que novos aumentos devem ocorrer em breve. O iene vem apreciando desde meados de julho, em meio a desvalorização do dólar e perspectivas de novos aumentos de juros pelo BoJ.

China

A atividade continuou perdendo o fôlego. A produção industrial e os investimentos desaceleraram em julho e o consumo doméstico segue fraco no país. O setor imobiliário continua encolhendo há mais de 1 ano. Desde a reunião da cúpula do Partido Comunista, em julho, nenhum grande estímulo foi anunciado. Membros do governo têm reforçado o compromisso de alcance da meta de crescimento para o ano de em torno de 5%, mas as expectativas são de um crescimento inferior à 5% este ano.

Brasil

A economia brasileira segue em expansão, conforme evidenciou a alta de 1,4% no PIB no segundo trimestre deste ano. O avanço da atividade econômica em 2024 pode ser atribuído, em boa parte, ao impulso dos gastos públicos e ao aumento da massa salarial. As enchentes que afetaram o Rio Grande do Sul tiveram impacto limitado sobre o PIB. Após crescimento acima do esperado no segundo trimestre, revisamos nossa projeção para o PIB de 2,5% para 3% neste ano. Em 2025, a economia brasileira terá um avanço mais moderado, com alta de 1,2%.

O crescimento acima do potencial (estimamos cerca de 1,5%) contribui para a queda da taxa de desemprego. Projetamos taxa de desemprego para o final de 2024 e de 2025 levemente abaixo de 7%. A forte expansão da renda real corrobora nossa visão de mercado de trabalho aquecido.

Do lado fiscal, o setor público registrou déficit de 2,3% do PIB em 2023. Projetamos déficit primário de 0,8% do PIB neste ano. Estão incorporados nessa projeção os programas de ajuda e recuperação do Rio Grande do Sul e o congelamento de R$ 15 bilhões, anunciados no contexto do 3º relatório bimestral de avaliação de receitas e despesas primárias. Para 2025, projetamos déficit de 0,9%. Acreditamos que o crescimento dos gastos obrigatórios pode comprometer o limite das despesas. 

Na nossa visão, apesar de o novo arcabouço ser um passo importante para a sustentabilidade fiscal, na ausência de outras reformas que permitam reduzir os gastos obrigatórios, será necessária uma forte queda dos juros reais para impedir o crescimento da dívida do país.

A tendência de alta da dívida líquida do setor público deve prosseguir. A projeção para 2024 caiu de 63,2% do PIB para 63,1% em função, principalmente, de um PIB nominal mais elevado. Para 2025, ajustamos a projeção de 65,9% para 66,1%.

Com a perspectiva de início do ciclo de cortes de juros nos Estados Unidos, o dólar deve continuar perdendo força globalmente. No entanto, acreditamos que o nível e a trajetória da dívida pública brasileira podem limitar a valorização do real – ou seja, os fatores domésticos podem reduzir o impacto da melhora no cenário externo. Projetamos um dólar de R$ 5,50 ao final de 2024. Diante da expectativa de mais cortes de juros pelo banco central americano, reduzimos a projeção de dólar de R$ 5,80 para R$ 5,50 para o final de 2025.

Em relação às transações correntes, ajustamos nossa projeção para 2024, que passou de déficit de US$ 27 bilhões para um déficit de US$ 31 bilhões em 2024. Já para 2025, fizemos um ajuste maior devido a perspectiva de um real mais valorizado. A revisão foi de um déficit de US$9 bilhões para um déficit de US$19 bilhões.

A prévia da inflação, medida pelo IPCA-15, registrou alta de 4,35% nos 12 meses até agosto. O alívio trazido pela queda das cotações de commodities no exterior e pela consequente desaceleração dos preços de alimentos e de bens industriais deve ter ficado no passado. A seca que afeta os reservatórios das hidrelétricas também traz riscos para cima para os preços de energia. No entanto, a maior preocupação continua a ser com o avanço dos preços de serviços. Com o mercado de trabalho brasileiro aquecido, os salários tendem a aumentar além dos ganhos de produtividade. Essa é a principal razão para ainda enxergarmos um quadro de inflação pressionada à frente. Na nossa visão, o IPCA encerrará 2024 em 4,7%. Para 2025, revisamos nossa projeção de 5% para 4,8% por causa da perspectiva de uma depreciação menor do real frente ao dólar.

Em julho, o Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a taxa Selic estável em 10,5%, pela segunda reunião consecutiva. Apesar do tom relativamente suave do texto da decisão, as comunicações seguintes adotaram uma mensagem mais firme, em razão da deterioração nas expectativas de inflação, da depreciação cambial e da piora no balanço de riscos. As projeções de inflação do Copom para o início de 2026 permanecem, por ora, próximas da meta. Na nossa visão, isso é um sinal de que a autoridade pode não ver necessidade de um aperto monetário. Acreditamos que a Selic ficará estável em 10,5% até o final de 2024, ainda que haja chances de um breve ciclo de alta neste ano. Em 2025, o Copom deve retomar os cortes na taxa de juros, levando a Selic para 9%.

Projeções macroeconômicas do C6 Bank

 
2019
2020
2021
2022
2023
2024P
2025P
Atividade
 
 
 
Crescimento Real do PIB
1,2%
-3,3%
4,8%
3,0%
2,9%
3,0%
1,2%
PIB Nominal (R$ bi)
7.389
7.610
9.012
10.080
10.856
11.632
12.465
Fiscal
 
Resultado Primário (% PIB)
-0,8%
-9,2%
0,7%
1,2%
-2,3%
-0,8%
-0,9%
Dívida Líquida (% PIB)
54,7%
61,4%
55,1%
56,1%
60,9%
63,1%
66,1%
Dívida Bruta (% PIB)
74,4%
86,9%
77,3%
71,7%
74,4%
78,7%
82,0%
Setor Externo
 
R$/US$ (final de período)
4,03
5,20
5,58
5,28
4,86
5,5
5,5
Balança Comercial (US$ bi)
30
36
42
52
92
82
92
Conta Corrente (US$ bi)
-65
-25
-40
-41
-22
-31
-19
Conta Corrente (% PIB)
-3,5%
-1,7%
-2,4%
-2,1%
-1,0%
-1,4%
-0,8%
Inflação
 
IPCA (Var. a/a)
4,3%
4,5%
10,1%
5,8%
4,6%
4,7%
4,8%
Juros
 
Selic (dez)
4,50%
2,00%
9,25%
13,75%
11,75%
10,50%
9,00%

P=Projeção
Fontes: IBGE, BCB, Bloomberg, C6 Bank.

Equipe Econômica C6 Bank

Felipe Salles                   Head

Claudia Moreno      Head Brasil

Claudia Rodrigues    Head Internacional

Felipe Mecchi               Internacional

Heliezer Jacob            Brasil

Este relatório foi preparado pelo Banco C6 S.A.

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