A equipe econômica do C6 Bank, liderada por Felipe Salles, divulgou nesta sexta-feira (8) mais uma edição do seu relatório macroeconômico.
Atualizado em
As eleições mudaram o cenário político americano, com a ampla vitória de Donald Trump para a presidência. Além de conquistar a Casa Branca, os republicanos devem ter maioria no Congresso. Ao longo da campanha, Trump sinalizou que deve aumentar as tarifas de importação. Se executada, essa medida pode elevar a inflação, o que diminuiria o espaço para o corte de juros nos EUA. Nesse cenário, a tendência é de manutenção de um dólar forte – um cenário diferente do que vínhamos enxergando, que era de uma perda de valor da moeda americana.
O banco central americano (Federal Reserve - Fed) continuou o ciclo de flexibilização monetária este mês, com um corte de 25 pontos-base (pb) nos juros, o segundo consecutivo, levando o intervalo da taxa entre 4,5% a 4,75% ao ano. A redução dos juros ocorreu conforme esperado. O presidente do Fed, Jerome Powell, afirmou que a inflação continua bem comportada e que um esfriamento maior no mercado de trabalho não será bem-vindo. Na nossa visão, o Fed deve continuar cortando os juros, mas de forma mais gradual, em razão de incertezas quanto ao novo cenário político do país.
A atividade econômica permanece fraca, com mau desempenho de boa parte da indústria dos países da região. Apesar disso, o desemprego alcançou novo mínimo histórico em setembro, chegando a 6,3%. Em outubro, o núcleo da inflação subiu 2,7%, mesmo aumento do mês anterior, permanecendo acima da meta, mas com composição benigna pela contínua desaceleração de preços de serviços. O Banco Central Europeu (BCE) reduziu as taxas de juros em outubro, foi o terceiro corte desde o início do ciclo de alívio iniciado em junho. Em nossa visão, o BCE deve continuar reduzindo as taxas de juros, em razão da fraqueza da atividade econômica e da tendência de queda da inflação.
O Banco do Japão (BoJ) decidiu por manter a taxa de juros inalterada na reunião de outubro, depois de elevar a taxa para 0,25% em julho. O presidente do banco, Kazuo Ueda, no entanto, indicou que o momento para um novo aumento de juros está próximo, mas decisões seguem dependentes de dados. A inflação permaneceu elevada em setembro. Preços de serviços seguem persistentes. Em nossa visão, um novo aumento de juros pode ocorrer na reunião de dezembro, em razão da atividade econômica forte e preços em alta.
O governo chinês continuou apresentando medidas para apoiar a economia. Depois da redução de juros e de um alívio para impulsionar a demanda por imóveis, neste mês foi apresentado um plano fiscal que diminuiu os riscos de governos locais endividados. O plano não incluiu medidas para impulsionar o consumo doméstico ou o setor imobiliário, o que decepcionou as expectativas. A produção da indústria e as vendas no varejo apresentaram melhora em setembro, mas o setor imobiliário continua em retração. As exportações tiveram crescimento forte. É esperado que mais medidas sejam anunciadas em dezembro, mas voltadas a impulsionar a economia no curto prazo. A expectativa é que a economia cresça pouco menos de 5% este ano.
Após crescer 1,4% no segundo trimestre deste ano, a economia brasileira deve desacelerar no terceiro trimestre. Entretanto, a economia continua a avançar em bom ritmo, em razão, principalmente do impulso dos gastos públicos e do aumento da massa salarial. Estimamos, por ora, uma alta de 0,6% do PIB no período. Diante de uma economia mais resiliente do que o esperado, revisamos para cima nossa projeção para o crescimento do PIB neste ano, de 3% para 3,2%. Em 2025, a contribuição positiva do crescimento de 2024 (carrego estatístico) e a perspectiva de uma forte safra de grãos nos levou a revisar a projeção de crescimento de 1,2% para 1,5%.
O crescimento acima do potencial (estimamos cerca de 1,5%) contribui para a queda da taxa de desemprego. Devido à elevação da projeção de crescimento do PIB e ao desempenho melhor que o esperado no mercado de trabalho, passamos a projetar taxa de desemprego para o final de 2024 e de 2025 perto de 6,5%. A forte expansão da renda real corrobora nossa visão de mercado de trabalho aquecido.
Projetamos déficit primário de 0,8% do PIB neste ano. Vale ressaltar que estão incorporadas nessa projeção o valor de R$ 40,5 bilhões de despesas não sujeitas à meta, tais como os programas de ajuda e recuperação do Rio Grande do Sul. Para 2025, projetamos déficit de 0,9%. Acreditamos que o crescimento dos gastos obrigatórios pode comprometer o limite das despesas. As novas medidas de ajuste fiscal, ainda a serem anunciadas, podem ter algum impacto sobre o orçamento. Mas, apesar do esforço, o endividamento do governo deve continuar a subir.
A tendência de alta da dívida líquida do setor público deve prosseguir. Ajustamos levemente nossa projeção para 2024 que passou de 62,9% do PIB para 62,7%. Para 2025, revisamos a projeção de 66% para 66,7%, principalmente em função de um maior pagamento de juros (Selic mais elevada).
A perspectiva de um dólar global estável, combinado com a tendência de aumento da dívida pública doméstica, deve levar a uma taxa de câmbio mais depreciada à frente. Mantivemos a projeção de dólar em R$ 5,50 para 2024, com viés de alta, mas elevamos a projeção de 2025 de R$ 5,50 para R$ 5,80. Em relação às transações correntes, ajustamos nossa projeção para 2024, que passou de déficit de US$ 42 bilhões para um déficit de US$ 52 bilhões, devido à dados correntes piores. Já para 2025, a revisão foi de um déficit de US$25 bilhões para um déficit de US$29 bilhões.
A inflação (medida pelo IPCA) acelerou e mostra alta de 4,8% nos 12 meses até outubro. A entrada no período chuvoso levou a Aneel a decretar bandeira amarela para o mês de novembro, o que deve trazer algum alívio para o custo de energia elétrica. No entanto, a inflação do ano deve permanecer acima do teto da meta e terminar 2024 em 4,7%. O cenário à frente segue desafiador.
Com o mercado de trabalho brasileiro aquecido, os salários tendem a aumentar além dos ganhos de produtividade, o que aumenta o custo da mão de obra e pressiona a inflação de serviços. A perspectiva de um real mais desvalorizado, como explicamos acima, intensifica as pressões inflacionárias. Para 2025, revisamos nossa projeção para o IPCA de 4,8% para 5%.
Em novembro, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu elevar a taxa Selic de 10,75% para 11,25%. A autoridade sinalizou, em comunicado, que deve continuar aumentando os juros, embora o ritmo e a magnitude das próximas elevações sigam indefinidos. Mantemos nossa expectativa para a Selic em 11,75% ao final de 2024, com mais um aumento de 0,5 ponto percentual (p.p.) na reunião do Copom de dezembro. Em função da mudança do cenário externo, em particular um dólar mais forte que antevíamos, revisamos nossa projeção para a Selic de 10% para 12,5% em 2025.
2021 | 2022 | 2023 | 2024P | 2025P | |
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Atividade | |||||
Crescimento Real do PIB | 4,8% | 3,0% | 2,9% | 3,2% | 1,5% |
PIB Nominal (R$ bi) | 9.012 | 10.080 | 10.856 | 11.646 | 12.497 |
Fiscal | |||||
Resultado Primário (% PIB) | 0,7% | 1,2% | -2,3% | -0,8% | -0,9% |
Dívida Líquida (% PIB) | 55,1% | 56,1% | 60,9% | 62,7% | 66,7% |
Dívida Bruta (% PIB) | 77,3% | 71,7% | 74,4% | 79,1% | 83,2% |
Setor Externo | |||||
R$/US$ (final de período) | 5,58 | 5,28 | 4,86 | 5,50 | 5,80 |
Balança Comercial (US$ bi) | 42 | 52 | 92 | 69 | 81 |
Conta Corrente (US$ bi) | -40 | -41 | -22 | -52 | -29 |
Conta Corrente (% PIB) | -2,4% | -2,1% | -1,0% | -2,4% | -1,3% |
Inflação | |||||
IPCA (Var. a/a) | 10,1% | 5,8% | 4,6% | 4,7% | 5,0% |
Juros | |||||
Selic (dez) | 9,25% | 13,75% | 11,75% | 11,75% | 12,50% |
P=Projeção
Fontes: IBGE, BCB, Bloomberg, C6 Bank.
Felipe Salles Head
Claudia Moreno Head Brasil
Claudia Rodrigues Head Internacional
Felipe Mecchi Internacional
Heliezer Jacob Brasil
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