A deflação é boa ou ruim para economia? Entenda quais impactos esse evento pode causar nos preços de bens e serviços.
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O histórico das economias globais é marcado por altas e baixas da inflação e a consequente busca por manter os preços de bens e serviços em um nível estável. Sendo assim, o fenômeno da deflação acaba ocupando o fundo do palco deste cenário e poucas pessoas entendem o que ele realmente significa.
Os movimentos deflacionários são raros, principalmente quando comparados aos picos de inflação. Entretanto, algumas nações já enfrentaram os efeitos do aumento exagerado do poder de compra, como o Japão, países participantes da Zona do Euro e o próprio Brasil.
De tempos em tempos a economia nacional enfrenta a alta da inflação, apresentando apenas uma variação de intensidade. Esse movimento talvez faça com que algumas pessoas observem a deflação como um fenômeno positivo. Porém, a verdade é que, neste caso, os impactos negativos podem ser ainda piores, como o aumento do desemprego, desestímulo nos investimentos e a severa desaceleração econômica.
Neste texto, reforçamos a importância de se manter atento ao mercado financeiro global para compreender o que significa deflação. Compartilhamos também como esse movimento impacta as nações e se existe alguma chance de o Brasil passar por uma baixa de preços em serviços e produtos tão preocupante.
Para ficar por dentro dos temas relacionados as dinâmicas monetárias, separamos alguns conteúdos relacionados:
A deflação é a queda de preço em produtos e serviços, e essa baixa precisa acontecer continuamente durante um determinado período. Ou seja, ela faz o movimento contrário à inflação, que encare diferentes setores de consumo.
Em um primeiro momento, pagar mais barato nas compras pode soar muito tentador, principalmente com o cenário de inflação de 2022. Entretanto, a diminuição exacerbada nos valores representa algo muito mais sério, o enfraquecimento econômico.
A dinâmica deflacionária faz com que os preços dos mais variados setores sejam jogados para baixo. Um cenário como esse impacta drasticamente o comportamento do consumidor, que passa a deixar de comprar na expectativa de economizar no futuro, já que o dinheiro vai valer mais. Neste caso, é possível observar o efeito oposto à inflação, onde é comum que as pessoas corram para comprar alguns produtos com medo de pagar mais caro ou simplesmente deixam de comprar. Resumidamente, a deflação desestimula o consumo.
É importante ressaltar que esse um é fenômeno mais propício a acontecer em países desenvolvidos, sendo o Japão um bom exemplo. Entretanto, países com economias em desenvolvimento também podem se deparar com a deflação pontualmente, e é nesta categoria que o Brasil se enquadra.
Esse é um fenômeno que comumente confunde as pessoas e sempre levanta a dúvida: a deflação é ruim ou boa? E como já citado, a verdade é que uma deflação prolongada pode ter efeitos até piores do que a inflação.
Um período histórico marcado pela deflação foi a crise de 1929 nos Estados Unidos, que teve um grande impacto na economia global. O Japão é outro representante significativo desse fenômeno desde os anos 90. Até os dias atuais, o país encontra certa dificuldade em acelerar o sistema financeiro.
O motivo de uma longa deflação ser indesejada é que esse é um processo que se retroalimenta. De modo geral, as pessoas poupamdinheiro na expectativa da quantia valer mais no futuro. E seguindo esse fluxo, as empresas diminuem seus preços para se adequar à demanda.
Assim, as pessoas acabam investindo menos, o que impacta negativamente o mercado financeiro. Talvez esse seja um dos poucos cenários em que a famosa expressão “guardar dinheiro embaixo do colchão” se transforme em algo positivo, já que o passar do tempo faz o dinheiro valer mais.
No longo prazo, todos esses motivos acabam levando a economia para baixo.
Em resumo, a inflação e a deflação são fenômenos opostos. Enquanto o primeiro indica o aumento nos preços de produtos e serviços, o segundo representa a queda.
Uma vez que cada um movimenta a economia para sentidos contrários, é possível delinear suas diferenças ao analisar os efeitos que podem causar. O impacto percebido no poder de compra da população é um dos mais eficientes para demonstrar as divergências.
Com o valor da moeda nas alturas, as pessoas tendem a comprar cada vez menos. Isso porque, no futuro, o dinheiro guardado valerá ainda mais e, consequentemente, o produto desejado estará mais barato.
A dinâmica de poupar para depois comprar mais barato retroalimenta a deflação. E em um cenário em que ninguém compra, as empresas são pressionadas a diminuir o valor dos produtos e serviços, o que também irá impactar os investimentos e essa é uma bola de neve que só tende a aumentar.
E ainda é possível que as empresas passem por um outro realinhamento do planejamento, além da diminuição dos valores dos produtos, é possível que o processo de contratação de pessoas também seja afetado. O que, no longo prazo, pode gerar uma grande onda de desemprego e afetar o mercado de capitais.
Então, para que a situação econômica de uma nação fique estável, é importante que a economia como um todo se movimente.
Já na inflação é possível observar o contrário, o poder de compra diminui e os produtos ficam mais caro. Aqui o seu dinheiro vale menos. Neste contexto, alimentação, moradia, transporte e outros setores apresentam elevação de preço, o que limita as opções de consumo da população como um todo.
Usualmente, as classes com menor poder aquisitivo acabam sofrendo muito mais com o encarecimento de produtos, já que muitas vezes contam apenas com o valor do salário-mínimo para realizar as compras.
Para que você possa entender ainda mais o impacta da inflação da economia. Recomendamos que leia dois de nossos principais conteúdos sobre o tema:
Como calcular a deflação?
Uma semelhança a se destacar entre inflação e deflação é a forma como os fenômenos são calculados que, no caso, é a partir dos índices de preço. No Brasil, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) é usado como referência pelo governo federal e faz o papel de indicador padrão das metas para inflação.
Nesse sentido, quando, no final do mês, o IPCA chega em um número positivo, significa que a inflação existe, em menor ou maior magnitude. Já quando esse número é negativo, é possível identificar um movimento de deflação nos preços.
Algo que pode causar a deflação é, por exemplo, uma queda forte no consumo. Essa queda, para um dado nível de produção, acarreta um descasamento no balanço entre oferta e demanda e as empresas acabam sendo pressionadas a diminuir os preços. Uma crise econômica pode ser o fato gerador dessa baixa no consumo, por exemplo.
Mas é válido ressaltar que um fenômeno econômico raramente acontece por um único motivo, conflitos geopolíticos, comportamento humano e uma porção de outros movimentos econômicos globais podem impactar as dinâmicas de oferta e demanda.
A deflação no Brasil acontece de forma pontual. Um exemplo recente, potencializado pelo corte no preço dos combustíveis, foi o IPCA em -0,36% em agosto de 2022. Neste caso, a deflação foi observada em 2 grupos específicos de produto: transporte e comunicação, registrando, respectivamente, -3,37% e -1,10%.
Outro exemplo, não muito distante, foi a queda do IPCA em abril (-0,31%) e maio (-0,38%) de 2020, momento em que os casos de Covid-19 alcançaram um pico no país, o que mudou drasticamente os hábitos de consumo da população e ocasionou um desequilíbrio entre oferta e demanda.
Segundo o Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a inflação acumulada no ano de 2024, até o momento, é 3,88%.
Um momento deflacionário como esse pode levar as autoridades monetárias a baixar os juros, o que pode estimular que mais dinheiro entre em circulação.
Mas mesmo em um contexto como o do ano 2020, que apresentou dificuldades em acelerar a economia, o IPCA só ficou negativo durante dois meses. O que evidencia o quanto o movimento deflacionário é raro no Brasil.
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