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Relatório mensal: Copom deve diminuir ritmo de queda de juros

Equipe econômica do C6 Bank, liderada por Felipe Salles, divulga projeções.

Atualizado em

Felipe Salles, Head de Economia do C6 Bank, em pé em um dos andares do banco. Ele usa uma camiseta preta e uma calça jeans.

Internacional

EUA

A economia segue em expansão e o mercado de trabalho permanece aquecido. A inflação continua persistente, com sinais de estar estabilizando acima da meta, pressionada pelos serviços. O núcleo da inflação (medido pelo PCE) acumulou alta de 2,8% em março, bem acima da meta. O banco central americano reconheceu que o progresso da inflação em direção à meta foi baixo. No entanto, o presidente da instituição reiterou que a política monetária está restritiva e um aumento de juros é improvável. Na nossa visão, a persistência da inflação aumenta as chances de não haver cortes de juros este ano.

Europa

A atividade econômica está fraca, particularmente a indústria, com sinais incipientes de melhora. Apesar disso, o desemprego está em 6,5%, próximo da mínima histórica. A inflação tem desacelerado, com o núcleo diminuindo para 2,9% em abril. O Banco Central Europeu tem sinalizado um provável corte de juros em junho, quando mais dados estarão disponíveis para validar a trajetória de queda da inflação.

Japão

O Banco do Japão (BoJ) manteve o intervalo de juros inalterado. A taxa de referência está no intervalo de 0% a 0,1% depois de permanecer negativa desde 2016. O forte aumento dos salários no início de ano e o núcleo da inflação acima da meta ajudaram na decisão. O presidente da instituição, no entanto, reforçou que é preciso ter cautela, sinalizando que novos aumentos devem ser graduais.

China

A atividade econômica apresentou um crescimento robusto no primeiro trimestre, ajudada pelo melhor desempenho da indústria e dos investimentos em manufatura e infraestrutura. O setor imobiliário segue em contração. Em evento do Politburo, foi reafirmado o suporte à economia, com foco na indústria de ponta. Nenhum grande estímulo é esperado. O país deve alcançar a meta de crescimento para o ano de  “cerca de 5%”, a mesma do ano anterior. No longo prazo, problemas estruturais (envelhecimento da população, endividamento já elevado dos governos locais e crise no setor imobiliário) devem levar a China a um crescimento menor.

Brasil

Após um avanço de 2,9% em 2023, a economia deve crescer moderadamente em 2024, impulsionada pelo  aumento das despesas do governo e das exportações. Dados de atividade divulgados nesse início de ano sugerem que o PIB começou o ano em ritmo forte e deve registrar expansão de cerca de 1% no 1T24. No entanto, em função da expectativa de menos cortes de juros, reduzimos nossa projeção de crescimento do PIB de 2,4% para 2,2% neste ano e de 1,5% para 1,2% em 2025.

O crescimento acima do que consideramos ser o potencial do Brasil (cerca de 1,5%) deve contribuir para manter a taxa de desemprego em patamar baixo. Os dados fortes do mercado de trabalho nos levaram a rever a projeção de taxa de desemprego para o final de 2024 e de 2025 de cerca de 8% para algo próximo de 7,5%. O forte crescimento da renda real corrobora nossa visão de mercado de trabalho aquecido.

Gráfico do PIB crescimento anual em porcentagem de 2019 a 2025.  Sendo o ano de 2020 o único com resultado negativo.

Do lado fiscal, o setor público registrou déficit de 2,3% do PIB em 2023. Acreditamos que os gastos públicos continuarão sendo um impulso para a economia em 2024. Para 2024, mantemos nossa projeção de um déficit primário de 0,7% do PIB. Para 2025, revisamos nossa projeção de déficit de 0,7% para 0,9%, após a mudança para baixo na meta de resultado primário do governo. Acreditamos que o crescimento dos gastos obrigatórios possa comprometer o alcance das metas de limite de despesas para os próximos anos. 

Na nossa visão, apesar de o novo arcabouço ser um passo importante para a sustentabilidade fiscal, na ausência de outras reformas que permitam reduzir os gastos obrigatórios, será necessária uma forte queda dos juros reais para impedir o crescimento da dívida do país.

A dívida líquida do governo encerrou o ano de 2023 em 60,9%. Para 2024 e 2025, a tendência de alta deve prosseguir – projetamos dívida líquida em 62,8% e 64,8% do PIB, respectivamente.

Gráfico de barras de dívida líquida (% PIB) de 2012 a 2025. Os anos 2024 e 2025 estão destacados em cinza e as demais barras estão na cor branca.

Acreditamos que o real deve continuar a depreciar, influenciado pela alta da dívida líquida do governo e pela redução da Selic em um contexto de juros ainda elevados nos EUA. Projetamos câmbio em R$ 5,30 ao final de 2024. A percepção de piora no cenário fiscal e o cenário global de dólar forte nos levaram a revisar a projeção de taxa de câmbio para 2025, que passou de R$5,30 para R$5,50.

Os dados recentes de transações correntes mostraram certa piora. Revisamos nossa projeção de conta corrente de um déficit de US$ 11 bi para um déficit de US$ 18 bilhões em 2024. A piora recente observada no resultado da balança comercial também nos levou a rever nossa projeção de conta corrente para 2025. Antes ligeiramente positiva (US$3 bi), agora  projetamos déficit de US$10 bi para as transações correntes em 2025.  

Gráfico de barras sobre conta corrente (PIB%) com números desde 2011 a 2025. Com destaque para 2024 e 2025, que estão nas cores cinzas. As demais barras estão na cor branca.

O IPCA-15, a prévia da inflação oficial, acumula uma alta de 3,8% em abril. A desaceleração recente do índice se deve a fatores pontuais e não muda nossa visão de que a inflação deve se manter acima da meta nos próximos anos. Na nossa visão, o mercado de trabalho aquecido e o crescimento dos salários devem continuar pressionando a inflação de serviços. Essa dinâmica impõe desafios à trajetória da inflação à meta. Projetamos alta de 4,7% para o IPCA em 2024 e de 5% em 2025.

Gráfico de linhas com IPCA acumulado em 12 meses e projeções para 2024 e 2025

O Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu a taxa Selic de 11,25% para 10,75% em março. Foi a sexta redução consecutiva de 50 pontos-base nos juros. Os membros do Banco Central sinalizaram a previsão de mais um corte de 0,5 ponto percentual da Selic na reunião seguinte, em maio. No entanto, discursos recentes do presidente do Banco Central indicam que esse plano de voo pode mudar. Roberto Campos Neto demonstrou preocupação com a deterioração do cenário externo e com a alta recente nas expectativas de inflação do boletim Focus. Nossa expectativa agora é que o BC corte a taxa de juros em apenas 0,25 ponto percentual na reunião de maio, levando a taxa para 10,5%. Na nossa visão, a resiliência dos preços de serviços e os dados fortes de atividade econômica são um obstáculo para a desaceleração da inflação. Revisamos nossa projeção de Selic de 9,25% para 10,25% em 2024. Para 2025, elevamos a expectativa para a taxa de juros de 8,5% para 9%.

Gráfico em linha da Selic porcentagem ano a ano de janeiro de 2023 a dezembro de 2024 e projeção para 2025.

Projeções macroeconômicas do C6 Bank

 201920202021202220232024P2025P
Atividade   
Crescimento Real do PIB1,2%-3,3%4,8%3,0%2,9%2,2%1,2%
PIB Nominal (R$ bi)7.3897.6109.01210.08010.85611.61012.489
Fiscal   
Resultado Primário (% PIB)-0,8%-9,2%0,7%1,2%-2,3%-0,7%-0,9%
Dívida Líquida (% PIB)54,7%61,4%55,1%56,1%60,9%62,8%64,8%
Dívida Bruta (% PIB)74,4%86,9%77,3%71,7%74,4%78,5%81,1%
Setor Externo   
R$/US$ (final de período)4,035,205,585,284,865,35,5
Balança Comercial (US$ bi)27323644818588
Conta Corrente (US$ bi)-68-28-46-48-31-18-10
Conta Corrente (% PIB)-3,6%-1,9%-2,8%-2,5%-1,4%-0,8%-0,4%
Inflação   
IPCA (Var. a/a)4,3%4,5%10,1%5,8%4,6%4,7%5,0%
Juros   
Selic (dez)4,50%2,00%9,25%13,75%11,75%10,25%9,00%
        
        

P=Projeção
Fontes: IBGE, BCB, Bloomberg, C6 Bank.              

P=Projeção
Fontes: IBGE, BCB, Bloomberg, C6 Bank.

Equipe Econômica C6 Bank

Felipe Salles Head
Claudia Moreno Head Brasil
Claudia Rodrigues Head Internacional
Felipe Mecchi Internacional
Heliezer Jacob Brasil

Este relatório foi preparado pelo Banco C6 S.A.
Os números contidos nos gráficos de desempenho referem-se ao passado; o desempenho passado não é garantia de resultados futuros.
Cada analista de Macro Research é o principal responsável pelo conteúdo deste relatório e atesta que:
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