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Resumo semanal: Brasil – Copom acelera ritmo e Selic vai a 12,25%

Leia a íntegra da análise da equipe econômica do C6 Bank.

Atualizado em

Tempo de leitura · 13 min

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Internacional

Estados Unidos: inflação conforme o esperado reforça expectativa de corte de juros

A inflação ao consumidor veio em linha com o esperado. O índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) subiu 0,3% em novembro frente ao mês anterior, de acordo com o Departamento do Trabalho. O núcleo do índice, que exclui alimentos e energia, também registrou elevação de 0,3%. A composição do núcleo veio benigna, com tendência de desaceleração dos preços de serviços, que costumam ser mais persistentes, e um aumento nos preços de bens que possuem maior volatilidade, como carros novos. Em 12 meses, o núcleo do CPI continuou acumulando alta de 3,3%, permanecendo acima da meta. A inflação ao produtor (PPI, na sigla em inglês) subiu 0,4% no mês, puxada pelo preço de alimentos. O núcleo do indicador, que exclui alimentos e energia, subiu 0,2% e acumula alta de 3,4% em 12 meses, o mesmo valor de outubro.  

Em nossa visão, os dados da inflação que foram divulgados reforçam a visão de que o banco central americano (Federal Reserve, Fed) deve cortar juros em 25 pontos-base (pb) na reunião da próxima semana (19/12). No entanto, a resiliência do mercado de trabalho e sinais de que a inflação está se estabilizando em patamar acima da meta deve levar a autoridade monetária a uma redução do ritmo de cortes em 2025.

O índice de otimismo das pequenas empresas, medido pela Federação Nacional de Empresas Independentes (NFIB, na sigla em inglês), teve forte aumento de 8 pontos para 101,7 em novembro, alcançando o maior nível desde meados de 2021. O componente que mais contribuiu para a alta do índice foi o crescimento do número de empresários que esperam uma melhora da economia. Segundo a pesquisa, a inflação continua sendo o principal problema das pequenas empresas.

Europa: BCE corta juros e sinaliza mais cortes à frente

A guerra entre Rússia e Ucrânia está no terceiro ano e continua sem perspectiva de fim próximo.

O Banco Central Europeu (BCE) diminuiu as taxas de juros em 25 pb, conforme esperado. A taxa de depósito, principal instrumento para transmissão da política monetária, foi para 3%. Essa é a quarta redução de juros desde o início do ciclo de queda em junho, e a terceira consecutiva. O BCE justificou o corte em razão do progresso na redução da inflação e da perspectiva benigna para os preços à frente. O comunicado reafirmou que as decisões seguem dependentes de dados e serão tomadas a cada reunião. As projeções do Banco, que não incorporam o aumento de tarifas nos EUA, são de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2024 (0,7%), 2025 (1,1%) e 2026 (1,4%) levemente abaixo da projeção anterior. Para o núcleo da inflação, as projeções indicam inflação abaixo da meta (1,9%) em 2026 e 2027. A presidente do BCE, Christine Lagarde, disse que houve discussão para um corte de juros maior, de 50pb – o que sugere uma continuidade do ciclo de alívio monetário. Segundo Lagarde, a inflação deve alcançar a meta em algum momento em 2025. Na nossa visão, o baixo desempenho da atividade econômica e a inflação controlada mantêm espaço aberto para o BCE dar continuidade aos cortes de juros. Acreditamos que a instituição deve promover ajustes graduais na política monetária, seguindo atenta tanto à trajetória da inflação quanto ao ritmo de crescimento da economia da região. 

A produção industrial segue fraca. Segundo o Eurostat, o índice registrou estagnação em outubro frente ao mês anterior, depois de encolher em setembro. Houve recuo na produção da Alemanha (-1%) e França (-0,1%) pelo segundo mês seguido. A fraqueza da produção industrial na região é em grande parte explicada pelos custos mais elevados de energia devido à guerra entre Rússia e Ucrânia. O resultado das eleições americanas também não ajuda a aumentar a confiança no setor em razão de ameaças quanto a maiores tarifas. A produção industrial segue abaixo do patamar de 2019.

Na França, o presidente Emmanuel Macron nomeou François Bayrou, líder de centro, como primeiro-ministro depois da destituição de Michel Barnier pelo parlamento na semana passada. Barnier perdeu o cargo por não conseguir apoio ao seu plano fiscal de corte de gastos e aumento de impostos. O novo primeiro-ministro terá o grande desafio de aprovar um plano fiscal para 2025 em meio a um parlamento dividido. Macron conta com a experiência do veterano político para isso. No fim deste ano, o déficit público do país, como a proporção do PIB, deve ultrapassar 6%, o dobro da regra estabelecida pela União Europeia.

No Reino Unido, a atividade desapontou em outubro, de acordo com a divulgação do PIB mensal reportado pelo Escritório Nacional de Estatísticas (ONS, na sigla em inglês). Foi a segunda retração consecutiva do indicador, que teve queda de 0,1%. Na composição, houve contração da indústria (-0,6%) depois de ter encolhido também em setembro, e do setor de construção (-0,4%). Serviços permaneceram estagnados.

China: CEWC sinaliza mais apoio à economia em 2025

A Conferência Central de Trabalho Econômico (CEWC, na sigla em inglês), evento anual que discute a política econômica para o próximo ano, ocorreu esta semana. A mensagem veio em linha com comunicados anteriores do Politburo que sinalizaram estímulos fiscais, com aumento do déficit público, e alívio monetário, com cortes de juros e compulsório bancário, além de estabilização para o setor imobiliário e mercado de ações, e impulso ao consumo. O tom das mensagens sugere que a meta de crescimento para 2025, que deve ser anunciada em março do próximo ano, será “algo em torno de 5%”, a mesma deste ano.

O fluxo do crédito agregado veio abaixo do esperado, pelo segundo mês seguido, mas melhor do que no mês anterior. O aumento do crédito foi de 2,3 trilhões de yuans em novembro em relação a outubro, segundo o Banco do Povo da China (PBOC, na sigla em inglês). O fraco crescimento no período ocorreu principalmente em razão do baixo volume de empréstimos às empresas e famílias, enquanto a emissão de títulos públicos aumentou.

A balança comercial sugere atividade fraca, apesar de apresentar superávit de 97,4 bilhões de dólares em novembro, resultado acima do esperado. Houve crescimento menor do que o esperado das exportações e encolhimento maior das importações. Comparado ao mesmo mês do ano passado, as exportações de mercadorias cresceram 6,7%, enquanto as importações tiveram queda de 3,9%, refletindo o fraco consumo e baixa atividade doméstica. Comparado ao mês anterior, as exportações continuaram aumentando para os Estados Unidos e Ásia emergente, mas diminuíram para Europa e outros emergentes (América Latina, África e Rússia). Por categoria de produtos, as exportações dos produtos mais simples (calçados, vestuário e brinquedos) continuaram com bom desempenho, mas a de produtos mais sofisticados (automóveis, eletrônicos e celulares) diminuíram. As exportações devem continuar crescendo para os EUA no curto prazo, antecipando um possível aumento de tarifas em 2025.

A inflação ao consumidor segue baixa. O CPI acumulou alta de 0,2% nos 12 meses até novembro, segundo o NBS. As quebras do indicador mostram desaceleração nos preços de alimentos e de bens e uma leve alta de serviços. A demanda doméstica, apesar da melhora recente, não pressiona preços. O núcleo da inflação, que exclui alimentos e energia, subiu 0,3% no período. O índice de preços ao produtor (PPI) continuou recuando pelo vigésimo sexto mês consecutivo, com retração de 2,5%, em razão da queda no preço de insumos relacionados a energia. Houve aumento moderado nos preços de metais e materiais de construção, ajudados por políticas anunciadas desde setembro para apoiar as vendas de imóveis. A inflação deve continuar baixa no país, em razão do excesso de capacidade instalada e da fraca demanda local.

Commodities: petróleo segue abaixo de 80 dólares

A instabilidade política no Oriente Médio continua. No fim da semana passada, rebeldes derrubaram o governo da Síria e nomearam um governo provisório. Em Gaza, o conflito entre Israel e Hamas está no segundo ano. Um acordo de cessar-fogo por 60 dias foi assinado entre Israel e o Hezbollah. A crise geopolítica na região ainda deve demorar algum tempo.

O preço futuro do petróleo (Brent) subiu 2% de 05/12 a 12/12, fechando o período em 73 dólares por barril, revertendo a queda da semana anterior. Comentários de autoridades americanas sobre possível aumento de sanções à Rússia e maior pressão sobre o Irã, além de riscos à produção associados aos conflitos no Oriente Médio, contribuíram para a alta do preço. Desde o início de novembro, o preço da commodity tem oscilado entre 70 e 75 dólares, depois de um primeiro semestre forte quando o preço chegou a superar os 90 dólares por alguns dias. Apesar do adiamento na volta de produção da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados, a Agência Internacional de Energia continua prevendo excesso de oferta em 2025.

Os preços futuros de commodities agrícolas tiveram pouca variação na semana. O preço futuro do trigo caiu 1%, do milho subiu 1% e da soja permaneceu estável. No ano, os preços dessas commodities vêm apresentando tendência de queda.

Brasil

Focus: deterioração adicional das expectativas de inflação

As projeções para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador de inflação oficial do país, subiram para 2024 (de 4,71% para 4,84%), para 2025 (de 4,40% para 4,59%), para 2026 (de 3,81% para 4%) e para 2027 (de 3,5% para 3,58%). O número esperado para o crescimento do PIB cresceu para 2024 (de 3,22% para 3,39%) e para 2025 (de 1,95% para 2%). A taxa Selic subiu para 2024 (de 11,75% para 12%), para 2025 (de 12,63% para 13,5%), para 2026 (de 10,5% para 11%) e para 2027 (de 9,5% para 10%). As projeções estão no Boletim Focus, relatório do Banco Central que reúne a expectativa das instituições financeiras em relação aos principais indicadores econômicos do país.

Atividade: indicadores de outubro sugerem atividade resiliente

A Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) de outubro apontou alta de 0,9% frente ao mês anterior no volume de vendas do comércio varejista ampliado, mais forte do que o esperado por nós (0%) e pelo mercado (+0,1%). Na comparação com outubro de 2023, o setor teve um crescimento de 8,8%. Destaque positivo para os itens que classificamos como sensíveis ao crédito. Entre esses itens, a categoria de veículos e motocicletas surpreendeu com uma alta de 8,1% nas vendas, enquanto móveis e eletrodomésticos registraram um crescimento de 7,5%. No varejo restrito, as vendas registraram elevação de 0,4% na comparação mensal e subiram 6,5% na anual. Nossa expectativa é de que o setor feche o ano com um crescimento de 5%

A Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) de outubro mostrou que o volume de serviços registrou expansão de 1,1% na comparação mensal, acima do esperado pelo mercado (0,6%) e por nós (0,6%). O resultado de outubro reflete, principalmente, a alta no grupo de transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio (4,1%), que foi impulsionado pelo transporte aéreo (27,1%).

De modo geral, os dados da indústria, comércio e serviços referentes ao mês de outubro indicam uma atividade em desaceleração, mas ainda resiliente no último trimestre do ano.

Inflação: dados de novembro corroboram cenário de inflação pressionada

O IPCA subiu 0,39% em novembro, segundo dados divulgados hoje pelo IBGE. Esse resultado veio em linha com nossa projeção. A inflação de novembro foi impulsionada, principalmente, pela alta nos preços das passagens aéreas (22,65%) e das carnes (8,02%). Por outro lado, a queda nos preços da energia elétrica (-6,27%), reflexo da mudança na bandeira tarifária, ajudou a segurar a alta do IPCA no mês. Em novembro, a inflação de serviços subjacentes acelerou, passando de 5,3% para 5,7% no acumulado em 12 meses. Não vemos alívio na inflação de serviços à frente, que deve continuar sendo pressionada pelo mercado de trabalho aquecido. Nesta mesma métrica, o IPCA acumula alta de 4,9%, uma aceleração em relação a alta de 4,8% do mês anterior. Nossa projeção é que o IPCA feche o ano em 4,7%, acima do teto da meta. Para 2025, prevemos que a inflação fique em 5,3%.

A inflação medida pelo IGP-10 apontou alta de 1,14% em dezembro, acima da mediana das projeções do mercado (1,08%). A composição dos índices de atacado mostrou o IPA agrícola com elevação de 2,5%. O núcleo do IPA industrial – que inclui apenas os itens relacionados à inflação de bens industriais do IPCA, excluindo alimentos, combustíveis e minério de ferro – subiu 0,6%. Em 2024, a variação do IGP-10 foi de 6,6%, o maior valor desde 2021. O IPA agrícola acumulou uma alta de 16,7% e o núcleo do IPA industrial mostrou expansão de 5,1%.

Política monetária: Copom intensifica novamente ritmo de alta e Selic vai a 12,25%

O Banco Central do Brasil (BCB) elevou a taxa Selic de 11,25% para 12,25% ao ano nesta quarta-feira (11). A decisão foi unânime e a alta foi mais intensa do que o consenso dos economistas, que esperava uma elevação de 75 pontos-base. Em relação aos próximos passos, o Comitê de Política Monetária (Copom) afirmou que “diante de um cenário mais adverso para a convergência da inflação, o Comitê antevê, em se confirmando o cenário esperado, ajustes de mesma magnitude nas próximas duas reuniões”. Ou seja, o Comitê sinalizou mais duas altas de 100 pontos-base na Selic nas reuniões de janeiro e março.

O Comitê considera que “o cenário se mostra menos incerto e mais adverso do que na reunião anterior” em função da materialização de riscos. Entre os fatores mencionados no texto, ressaltamos o recente anúncio fiscal, que “afetou, de forma relevante, os preços de ativos e as expectativas dos agentes, especialmente o prêmio de risco, as expectativas de inflação e a taxa de câmbio”. Além disso, o comunicado cita a desancoragem adicional das expectativas de inflação, elevação das projeções de inflação e maior abertura do hiato do produto. Segundo o Copom, esse cenário mais recente “exige uma política monetária ainda mais contracionista”.

De fato, a projeção de inflação no cenário de referência do Copom (que considera juros projetados pelo Boletim Focus, de 12% ao final de 2024, 13,5% ao final de 2025 e 11% ao final de 2026) passou de 3,6% para 4% para o segundo trimestre de 2026. Essa projeção sugere que o ciclo de elevação dos juros necessário para trazer a inflação à meta deve ser maior do que o projetado pelo Boletim Focus.

Diante da decisão, vamos elevar nossa projeção de taxa Selic para o final de 2025 (atualmente em 13,75%). Aguardamos a ata da reunião, que será divulgada na próxima terça-feira (17), para termos mais detalhes sobre os rumos da política monetária.

Equipe Econômica C6 Bank

Felipe Salles                   Head

Claudia Moreno      Head Brasil

Claudia Rodrigues    Head Internacional

Felipe Mecchi               Internacional

Heliezer Jacob            Brasil

Este relatório foi preparado pelo Banco C6 S.A.

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