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Relatório mensal: cenário desafiador para a inflação no Brasil

Leia a íntegra do relatório mensal preparado pelo time de economia do C6 Bank.

Atualizado em

Tempo de leitura · 7 min

Publicado em

Internacional

EUA

As políticas do novo governo de Donald Trump ainda são um ponto de incerteza e podem ter impacto sobre a inflação. Por ora, a variação de preços segue sob controle, embora acima da meta de 2% do Fed. A implementação de tarifas sobre importações, que segue sendo defendidas pelo presidente eleito, teria forte impacto sobre os preços e o comércio global.

O Fed reduziu a taxa de juros nas três últimas reuniões de política monetária, levando o intervalo para 4,25% e 4,5% ao ano. Apesar da sequência de cortes, o banco central americano sinalizou que o ritmo de alívio nos juros deve diminuir em 2025, dada a incerteza em relação à trajetória da inflação e à atividade econômica resiliente. Neste cenário, a tendência é de manutenção de um dólar forte.

Europa

A atividade econômica permanece fraca, com mau desempenho de boa parte da indústria dos países da região, principalmente na Alemanha. Apesar disso, a taxa de desemprego se mantém na mínima histórica. A inflação permanece acima da meta, mas tem apresentado composição mais benigna e segue em desaceleração. O Banco Central Europeu (BCE) reduziu as taxas de juros em dezembro, o quarto corte desde o início do ciclo de alívio monetário em junho. Em nossa visão, o BCE deve continuar reduzindo as taxas de juros, em razão da fraqueza da atividade econômica e da tendência de queda da inflação.

Japão

A inflação permaneceu relativamente elevada em novembro, com aceleração de preços de serviços. A demanda doméstica está robusta e os salários continuam subindo, o que deve sustentar a inflação.  Na última decisão de política monetária, em dezembro, o Banco do Japão (BoJ)  manteve a taxa em 0,25% e o presidente da instituição, Kazuo Ueda, sinalizou cautela em relação a próximos movimentos, em razão da necessidade de acompanhar a dinâmica de salários e da possível implementação de medidas pelo novo governo dos EUA.

China

Autoridades chinesas têm sinalizado que devem continuar recorrendo a estímulos para ajudar a sustentar o crescimento econômico em 2025. A expectativa é de que a meta de crescimento permaneça em torno de 5% - o anúncio oficial deve ser feito em março. A produção industrial da China segue forte e as exportações seguem sólidas, possivelmente refletindo a antecipação de compras norte-americanas devido a um possível aumento de tarifas.  Por outro lado, o consumo doméstico voltou a perder força em novembro e o setor imobiliário segue em retração. Os investimentos, de modo geral, seguem moderados. Apesar dos estímulos anunciados pelo governo, o crescimento da economia deve ter ficado ligeiramente abaixo de 5% em 2024.

Brasil

A economia brasileira deve ter encerrado 2024 com crescimento de 3,5%. O Produto Interno Bruto (PIB) se mostrou mais resiliente do que o esperado em razão, principalmente, do impulso dos gastos públicos e do aumento da massa salarial. Para 2025 e 2026, esperamos uma desaceleração gradual do ritmo de crescimento. Se por um lado, a Selic elevada pode restringir a atividade, de outro  os estímulos do governo devem manter a economia em expansão. Projetamos crescimento de 2% para o PIB de 2025 e de 1% para 2026.

O crescimento acima do potencial (estimamos cerca de 1,5%) contribui para a queda da taxa de desemprego. Devido à elevação da projeção de crescimento do PIB e ao desempenho melhor que o esperado no mercado de trabalho,  projetamos a taxa de desemprego para o final de 2025 e de 2026 perto de 6%. A forte expansão da renda real corrobora nossa visão de mercado de trabalho aquecido.

O setor público consolidado deve ter encerrado 2024 com um déficit primário de 0,6% do PIB. Vale ressaltar que estão incorporados nesse resultado o valor de R$ 37 bilhões de despesas não sujeitas à meta, tais como os programas de ajuda e recuperação do Rio Grande do Sul. Para 2025, projetamos déficit de 0,7%. As medidas fiscais anunciadas recentemente pelo governo tiveram alguma desidratação durante a tramitação no Congresso, porém podem ser suficientes para manter de pé o arcabouço fiscal até 2026.

A tendência de alta da dívida líquida do setor público deve prosseguir. Para 2025, ajustamos a projeção de 66,4% para 64,8%. Se por um lado a Selic mais elevada traz um maior pagamento de juros, o câmbio mais depreciado atua no sentido contrário, pois temos reservas em dólar. Para 2026, esperamos que a dívida líquida atinja o patamar de 67,9% do PIB.

A perspectiva de um dólar forte combinado com a tendência de aumento da dívida pública brasileira deve levar a uma taxa de câmbio mais depreciada à frente. Após a moeda americana fechar 2024 em R$ 6,18, revisamos nossa projeção de dólar para 2025 de R$ 6 para R$ 6,30. Para 2026 projetamos câmbio em R$ 6,50.

O IPCA deve ter terminado 2024 em 4,7% - acima do teto da meta do Banco Central. Para os próximos anos, o cenário segue desafiador, em razão do mercado de trabalho aquecido e da piora das expectativas de inflação. Além disso, a perspectiva de um real mais fraco intensificou a nossa preocupação com a trajetória dos preços. Para 2025, elevamos nossa projeção para o IPCA de 5,3% para 5,7%. Para 2026 projetamos inflação também em 5,7%. A meta contínua de inflação é de 3% – ou seja, o IPCA deve se distanciar ainda mais do alvo a ser perseguido pelo Banco Central.

Em dezembro, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu elevar a taxa Selic de 11,25% para 12,25%. Além disso, o Comitê sinalizou mais duas altas de 1 p.p. na Selic nas reuniões de janeiro e março. Acreditamos que o Banco Central deve continuar subindo os juros até junho, levando a taxa a 15% ao fim de 2025. O câmbio depreciado e a piora das expectativas de inflação devem manter a Selic em patamar elevado por algum tempo. Para o fim de 2026, projetamos Selic também em 15%. 

Projeções macroeconômicas do C6 Bank

 
2022
2023
2024P
2025P
2026P
Atividade
 
 
 
Crescimento Real do PIB
3,0%
3,2%
3,5%
2,0%
1,0%
PIB Nominal (R$ bi)
10.080
10.943
11.783
12.698
13.649
Fiscal
 
Resultado Primário (% PIB)
1,2%
-2,3%
-0,6%
-0,7%
-0,7%
Dívida Líquida (% PIB)
56,1%
60,4%
61,4%
64,8%
67,9%
Dívida Bruta (% PIB)
71,7%
73,8%
78,1%
81,9%
87,3%
Setor Externo
 
R$/US$ (final de período)
5,28
4,86
6,18
6,30
6,50
Balança Comercial (US$ bi)
52
92
69
83
80
Conta Corrente (US$ bi)
-41
-25
-51
-16
-16
Conta Corrente (% PIB)
-2,1%
-1,1%
-2,4%
-0,8%
-0,8%
Inflação
 
IPCA (Var. a/a)
5,8%
4,6%
4,7%
5,7%
5,7%
Juros
 
Selic (dez)
13,75%
11,75%
12,25%
15,00%
15,00%

P=Projeção
Fontes: IBGE, BCB, Bloomberg, C6 Bank.       

Equipe Econômica C6 Bank

Felipe Salles                   Head

Claudia Moreno      Head Brasil

Claudia Rodrigues    Head Internacional

Felipe Mecchi               Internacional

Heliezer Jacob            Brasil

Este relatório foi preparado pelo Banco C6 S.A.

Cada analista de Macro Research é o principal responsável pelo conteúdo deste relatório e atesta que:

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Este relatório foi preparado pelo Banco C6 S.A., uma instituição regulada por autoridades brasileiras.

O Banco C6 S.A. é responsável pela distribuição deste relatório no Brasil.

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