Leia a íntegra do relatório mensal preparado pelo time de economia do C6 Bank.
Atualizado em
As políticas do novo governo de Donald Trump ainda são um ponto de incerteza e podem ter impacto sobre a inflação. Por ora, a variação de preços segue sob controle, embora acima da meta de 2% do Fed. A implementação de tarifas sobre importações, que segue sendo defendidas pelo presidente eleito, teria forte impacto sobre os preços e o comércio global.
O Fed reduziu a taxa de juros nas três últimas reuniões de política monetária, levando o intervalo para 4,25% e 4,5% ao ano. Apesar da sequência de cortes, o banco central americano sinalizou que o ritmo de alívio nos juros deve diminuir em 2025, dada a incerteza em relação à trajetória da inflação e à atividade econômica resiliente. Neste cenário, a tendência é de manutenção de um dólar forte.
A atividade econômica permanece fraca, com mau desempenho de boa parte da indústria dos países da região, principalmente na Alemanha. Apesar disso, a taxa de desemprego se mantém na mínima histórica. A inflação permanece acima da meta, mas tem apresentado composição mais benigna e segue em desaceleração. O Banco Central Europeu (BCE) reduziu as taxas de juros em dezembro, o quarto corte desde o início do ciclo de alívio monetário em junho. Em nossa visão, o BCE deve continuar reduzindo as taxas de juros, em razão da fraqueza da atividade econômica e da tendência de queda da inflação.
A inflação permaneceu relativamente elevada em novembro, com aceleração de preços de serviços. A demanda doméstica está robusta e os salários continuam subindo, o que deve sustentar a inflação. Na última decisão de política monetária, em dezembro, o Banco do Japão (BoJ) manteve a taxa em 0,25% e o presidente da instituição, Kazuo Ueda, sinalizou cautela em relação a próximos movimentos, em razão da necessidade de acompanhar a dinâmica de salários e da possível implementação de medidas pelo novo governo dos EUA.
Autoridades chinesas têm sinalizado que devem continuar recorrendo a estímulos para ajudar a sustentar o crescimento econômico em 2025. A expectativa é de que a meta de crescimento permaneça em torno de 5% - o anúncio oficial deve ser feito em março. A produção industrial da China segue forte e as exportações seguem sólidas, possivelmente refletindo a antecipação de compras norte-americanas devido a um possível aumento de tarifas. Por outro lado, o consumo doméstico voltou a perder força em novembro e o setor imobiliário segue em retração. Os investimentos, de modo geral, seguem moderados. Apesar dos estímulos anunciados pelo governo, o crescimento da economia deve ter ficado ligeiramente abaixo de 5% em 2024.
A economia brasileira deve ter encerrado 2024 com crescimento de 3,5%. O Produto Interno Bruto (PIB) se mostrou mais resiliente do que o esperado em razão, principalmente, do impulso dos gastos públicos e do aumento da massa salarial. Para 2025 e 2026, esperamos uma desaceleração gradual do ritmo de crescimento. Se por um lado, a Selic elevada pode restringir a atividade, de outro os estímulos do governo devem manter a economia em expansão. Projetamos crescimento de 2% para o PIB de 2025 e de 1% para 2026.
O crescimento acima do potencial (estimamos cerca de 1,5%) contribui para a queda da taxa de desemprego. Devido à elevação da projeção de crescimento do PIB e ao desempenho melhor que o esperado no mercado de trabalho, projetamos a taxa de desemprego para o final de 2025 e de 2026 perto de 6%. A forte expansão da renda real corrobora nossa visão de mercado de trabalho aquecido.
O setor público consolidado deve ter encerrado 2024 com um déficit primário de 0,6% do PIB. Vale ressaltar que estão incorporados nesse resultado o valor de R$ 37 bilhões de despesas não sujeitas à meta, tais como os programas de ajuda e recuperação do Rio Grande do Sul. Para 2025, projetamos déficit de 0,7%. As medidas fiscais anunciadas recentemente pelo governo tiveram alguma desidratação durante a tramitação no Congresso, porém podem ser suficientes para manter de pé o arcabouço fiscal até 2026.
A tendência de alta da dívida líquida do setor público deve prosseguir. Para 2025, ajustamos a projeção de 66,4% para 64,8%. Se por um lado a Selic mais elevada traz um maior pagamento de juros, o câmbio mais depreciado atua no sentido contrário, pois temos reservas em dólar. Para 2026, esperamos que a dívida líquida atinja o patamar de 67,9% do PIB.
A perspectiva de um dólar forte combinado com a tendência de aumento da dívida pública brasileira deve levar a uma taxa de câmbio mais depreciada à frente. Após a moeda americana fechar 2024 em R$ 6,18, revisamos nossa projeção de dólar para 2025 de R$ 6 para R$ 6,30. Para 2026 projetamos câmbio em R$ 6,50.
O IPCA deve ter terminado 2024 em 4,7% - acima do teto da meta do Banco Central. Para os próximos anos, o cenário segue desafiador, em razão do mercado de trabalho aquecido e da piora das expectativas de inflação. Além disso, a perspectiva de um real mais fraco intensificou a nossa preocupação com a trajetória dos preços. Para 2025, elevamos nossa projeção para o IPCA de 5,3% para 5,7%. Para 2026 projetamos inflação também em 5,7%. A meta contínua de inflação é de 3% – ou seja, o IPCA deve se distanciar ainda mais do alvo a ser perseguido pelo Banco Central.
Em dezembro, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu elevar a taxa Selic de 11,25% para 12,25%. Além disso, o Comitê sinalizou mais duas altas de 1 p.p. na Selic nas reuniões de janeiro e março. Acreditamos que o Banco Central deve continuar subindo os juros até junho, levando a taxa a 15% ao fim de 2025. O câmbio depreciado e a piora das expectativas de inflação devem manter a Selic em patamar elevado por algum tempo. Para o fim de 2026, projetamos Selic também em 15%.
Projeções macroeconômicas do C6 Bank
2022 | 2023 | 2024P | 2025P | 2026P | |
---|---|---|---|---|---|
Atividade | |||||
Crescimento Real do PIB | 3,0% | 3,2% | 3,5% | 2,0% | 1,0% |
PIB Nominal (R$ bi) | 10.080 | 10.943 | 11.783 | 12.698 | 13.649 |
Fiscal | |||||
Resultado Primário (% PIB) | 1,2% | -2,3% | -0,6% | -0,7% | -0,7% |
Dívida Líquida (% PIB) | 56,1% | 60,4% | 61,4% | 64,8% | 67,9% |
Dívida Bruta (% PIB) | 71,7% | 73,8% | 78,1% | 81,9% | 87,3% |
Setor Externo | |||||
R$/US$ (final de período) | 5,28 | 4,86 | 6,18 | 6,30 | 6,50 |
Balança Comercial (US$ bi) | 52 | 92 | 69 | 83 | 80 |
Conta Corrente (US$ bi) | -41 | -25 | -51 | -16 | -16 |
Conta Corrente (% PIB) | -2,1% | -1,1% | -2,4% | -0,8% | -0,8% |
Inflação | |||||
IPCA (Var. a/a) | 5,8% | 4,6% | 4,7% | 5,7% | 5,7% |
Juros | |||||
Selic (dez) | 13,75% | 11,75% | 12,25% | 15,00% | 15,00% |
P=Projeção
Fontes: IBGE, BCB, Bloomberg, C6 Bank.
Felipe Salles Head
Claudia Moreno Head Brasil
Claudia Rodrigues Head Internacional
Felipe Mecchi Internacional
Heliezer Jacob Brasil
Este relatório foi preparado pelo Banco C6 S.A.
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