Resumo semanal: Brasil – PIB forte no 2º trimestre

Confira as principais notícias da semana, segundo a avaliação da equipe econômica do C6 Bank

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C6 Bank Felipe Salles. Foto: Germano Lüders

Confira as principais notícias da semana (29/8-2/9), segundo a avaliação da equipe econômica do C6 Bank. Leia a íntegra do relatório.

Internacional

Estados Unidos: mercado de trabalho segue forte

O mercado de trabalho continua aquecido. O Departamento de Trabalho publicou dados referentes ao mês de agosto. De acordo com o Establishment Survey, houve criação de 315 mil empregos no período, ritmo sólido, levando o número de empregados a patamar superior ao da pré-pandemia pela primeira vez desde fevereiro 2020. Segundo o Household Survey, a taxa de desemprego subiu para 3,7%, com o número de desempregados chegando a 6 milhões. O aumento no desemprego ocorre em razão da elevação na taxa de participação, de 62,1% para 62,4%. O ganho médio por hora trabalhada aumentou em 0,3% em relação ao mês anterior. Nos últimos doze meses, o índice acumula alta de 5,2%, indicando pressão de salários. Outro relatório do Departamento de Trabalho, Jolts, surpreendeu e voltou a indicar grande número de vagas de emprego em aberto – 11,2 milhões em julho – quase 2 vagas por desempregado. Em relatório semanal, os pedidos iniciais de seguro-desemprego seguem em níveis baixos, em 232 mil na semana encerrada em 27 de agosto, 5 mil abaixo da semana anterior.

A atividade na indústria permaneceu estável em agosto em relação ao mês anterior. O índice de gerentes de compras do setor de manufaturas (PMI, na sigla em inglês) do Instituto ISM, permaneceu inalterado em 52,8 pontos, indicando expansão moderada. Houve melhora na demanda e no emprego, mas desaceleração na produção. Os preços pagos por insumos continuaram diminuindo.

O setor imobiliário continua contraindo. Os preços de casas desaceleraram bem em junho. O índice que mede preços em todos os estados americanos teve leve aumento de 0,1% frente ao mês anterior, segundo a Agência Federal de Financiamento da Habitação (FHFA, na sigla em inglês). Apesar da desaceleração, preços seguem elevados, impulsionados por estoques baixos, porém há sinais de estabilidade para frente.

A confiança do consumidor melhorou em meio a expectativas de inflação um pouco menor. O índice do Conference Board subiu 7,9 pontos em agosto para 103,2. As perspectivas para a inflação de 1 ano diminuíram de 7,4% para 7%, mas seguem elevadas. A percepção quanto ao mercado de trabalho continua positiva, próxima aos máximos históricos.

Europa: inflação bate novo recorde

A inflação alcançou novo recorde. O índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) subiu 9,1% nos últimos doze meses até agosto, segundo a Eurostat. Houve aumento no preço de alimentos (10,6%) e uma desaceleração em energia, que segue com preços em alta (38,3%). O núcleo da inflação, que exclui alimentos e energia, aumentou 4,3% no mesmo período e também alcançou recorde da série. A inflação cresceu em ritmo máximo na Alemanha (8,8%) e Itália (9%) e continuou subindo na Espanha (10,3%) e França (6,5%). A inflação ao produtor (PPI, na sigla em inglês) acelerou no mês de julho frente ao mês anterior e segue elevada. Em 12 meses, o índice acumula alta de 37,9%, puxado pelo aumento do preço de energia no período (97,2%).

O Banco Central Europeu (BCE) tem comunicado a importância de uma política monetária mais apertada para trazer a inflação de volta a meta. Em evento do Banco Central Americano, Isabel Schnabel, membro do conselho do BCE, disse que o custo da inflação alta é elevado e bancos centrais devem agir com vigor para trazer a inflação para a meta. Acrescentou que um aperto monetário é necessário mesmo que leve a uma recessão. Alguns membros do BCE já sinalizaram aumento maior da taxa de juros, possivelmente 75 pontos-base, na reunião de 8 de setembro.

O conflito entre Rússia e Ucrânia entrou no sétimo mês. A Rússia continua com ações ofensivas principalmente no leste do país, na região de Donbas. A Ucrânia mostra resistência, tenta retomar áreas ao sul, região de Kherson, e segue recebendo ajuda militar, financeira e humanitária do Ocidente. O conflito se estende por mais tempo do que era previsto. A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) começou uma inspeção na usina nuclear de Zaporizhzhia, a maior da Europa. O diretor da AIEA disse que manterá alguns agentes na usina de forma permanente para avaliar eventos futuros.

Os preços das commodities continuam com alta volatilidade. Entre os dias 26 de agosto e 1 de setembro, o petróleo diminuiu, em meio a preocupações quanto à desaceleração global. Membros do G-7 estão em reunião que deve definir um teto para o preço do petróleo russo, numa tentativa de reduzir as receitas do país com exportação. O gás natural devolveu parte do aumento da semana anterior de mais de 30%, com notícias que a meta de formação de estoques para o inverno está bem adiantada nos países europeus. A operadora do gasoduto de Nord Stream, que conecta a Rússia à Alemanha, confirmou sua volta à operação neste fim de semana depois do fim da manutenção de 3 dias iniciada em 31 de agosto; nova manutenção deve ocorrer em meados de outubro. Os grãos (milho e trigo) ficaram praticamente estáveis na semana. Exportações da Ucrânia continuam ganhando força depois de acordo com a Rússia para reabertura de portos no Mar Negro.

A confiança na economia (índice de sentimento econômico, calculado pela Comissão Europeia) diminuiu 1,3 ponto em agosto para 97,6. O índice reflete uma piora na confiança do consumidor, que está próxima do menor nível da série histórica alcançado no mês anterior em meio a uma inflação elevada e preocupações com fornecimento de energia. A confiança da indústria e do setor de serviços também diminuiu, mas continua acima da média de 2019.

O mercado de trabalho segue aquecido. A taxa de desemprego diminuiu para 6,6% em julho, mínima histórica também alcançada em abril. O índice divulgado pelo Eurostat mostra heterogeneidade entre as economias do bloco. O desemprego permanece baixo na Alemanha (2,9%) mas alto na Espanha (12,6%) e Grécia (11,4%).

China: novo lockdown pode afetar a atividade

O quadro de Covid-19 voltou a trazer preocupações na China, com o início de confinamento anunciado em outra grande cidade de 21 milhões de habitantes – Chengdu. Este é o primeiro grande confinamento desde o que ocorreu em Xangai em abril e maio deste ano. Chengdu é um importante centro na cadeia de produção de eletrônicos e automóveis. Além de Chengdu, a cidade de Shenzhen, hub tecnológico, apertou restrições à mobilidade depois de um aumento de casos esta semana. O número diário de ocorrências no país permanece em torno de 2.000, pouco acima da média da semana anterior, mas todas as 31 províncias reportaram casos nos últimos dias, o que aumenta riscos de transmissão do vírus.  A política de Covid zero adotada pelo país mantem um controle rigoroso sobre circulação de pessoas quando casos aumentam, o que traz dificuldades para economia.

A atividade perdeu força em agosto, de acordo com os índices de gerentes de compras (PMIs, na sigla em inglês), calculados pelo Escritório Nacional de Estatísticas chinês (NBS, na sigla em inglês). O PMI composto, que considera o setor de manufaturas e de serviços, diminuiu 0,8 ponto para 51,7, sinalizando uma expansão mais fraca pelo segundo mês consecutivo. A desaceleração na atividade ocorreu principalmente em razão de uma queda em serviços (para 51,9) e uma leve recuperação em manufaturas (para 49,4), que continua em território contracionista. Houve diminuição na demanda doméstica e externa, enquanto a produção permaneceu inalterada. Preços de insumos subiram marginalmente.

O lucro da indústria contraiu 1,1% nos sete primeiros meses do ano até julho frente ao mesmo período do ano anterior, de acordo com o Escritório Nacional de Estatística. O resultado fraco reflete uma demanda menor, em meio a medidas rigorosas de confinamento para conter casos de Covid-19 e um setor imobiliário fraco. Setores de mineração e produção de matérias-primas continuam apresentando resultados positivos, mas em desaceleração, enquanto manufaturas continuaram sentindo uma pressão de custos.

Brasil

Focus: expectativas de inflação registram queda para 2022 e 2023

A projeção para o IPCA apresentou queda para 2022 (de 6,82% para 6,70%) e para 2023 (de 5,33% para 5,30%) e ficou estável para 2024 (em 3,41%). O número esperado para o Produto Interno Bruto (PIB) registrou alta para 2022 (passou de 2,02% para 2,1%) e leve queda para 2023 (de 0,39% para 0,37%). A taxa Selic ficou estável em 13,75% para o final deste ano, em 11% para 2023 e em 8% para 2024. As projeções estão no Boletim Focus, relatório do Banco Central que reúne a expectativa das instituições financeiras em relação aos principais indicadores econômicos do país.

Atividade: PIB do 2T22 mostrou demanda doméstica forte

O PIB do 2T22 registrou alta de 1,2% na comparação com o 1T22, um pouco abaixo do esperado por nós (+1,4%), mas acima do consenso de mercado (+0,9%). Do lado da oferta, tanto o setor de serviços (+1,3%) quanto indústria (2,2%) impulsionaram a recuperação. Do lado da demanda, os destaques foram investimentos, que tiveram expansão de 4,8%, e o consumo das famílias, que cresceu 2,6%. O nível da demanda das famílias atingiu não só o patamar pré-pandemia, como o maior índice da série. O indicador corrobora atividade forte no 1º semestre. No entanto, na segunda metade do ano a economia deve desacelerar, sentindo de maneira mais intensa os efeitos da política monetária contracionista, assim como da desaceleração global.  

A produção industrial do mês de julho registrou alta de 0,6% frente ao mês anterior e queda de 0,5% na comparação anual – em linha com o mercado e um pouco abaixo da nossa projeção. À frente, nossa expectativa é que a indústria fique de lado, podendo apresentar contração. A política monetária contracionista, a desaceleração global e a queda dos preços das commodities contribuem para esta tendência. Mantemos, por ora, projeção para o PIB de 2% para 2022 e de 0% para 2023.

A taxa de desemprego da PNAD Contínua no trimestre terminado em julho veio acima do esperado pelo mercado e atingiu 9,1%. Na série com nosso ajuste sazonal, a taxa de desemprego caiu de 9,2% para 9% no trimestre terminado em julho. Para a série mensal, estimamos que a taxa tenha atingido o patamar de 9,1%, considerando o dado com ajuste sazonal (ante 9% de junho). A taxa apresentou um recuo acentuado desde o pico em dezembro de 2020 (15%), refletindo principalmente a recuperação do PIB de serviços. A pesquisa mostra continuação da retomada da ocupação e alta na taxa de participação no mês. O crescimento da economia até agora foi suficiente para levar a taxa de desemprego para níveis mais próximos do neutro. O indicador reforça o cenário de que a inflação deve cair a passos lentos. A taxa deve continuar caindo até o final do ano, mas voltar a subir no ano que vem em função da desaceleração da atividade econômica. O rendimento médio real habitual registrou nova alta no mês (1,4%), mas segue em patamar muito deprimido. A massa salarial real habitual mostra forte expansão nos últimos meses, impulsionada principalmente pela recuperação do emprego.

Inflação: preços industriais no atacado registram deflação no mês

O IGP-M registrou queda de 0,70% em agosto, abaixo da expectativa do mercado de queda de 0,54%, e acumula alta de 8,6% em 12 meses – trajetória de desaceleração. A composição dos índices de atacado mostrou o IPA agrícola com alta de 0,49% frente à alta de 0,17% no mês anterior. O núcleo do IPA industrial – que inclui apenas os itens relacionados à inflação de bens industriais do IPCA, excluindo alimentos, combustíveis e minério de ferro – registrou leve queda de 0,11% ante alta de 0,2% em julho, e segue mostrando desaceleração. A queda dos preços das commodities está puxando esse componente para baixo. No acumulado em 12 meses, ambos indicadores permanecem em patamar elevado, em 13,6% para o núcleo dos bens industriais e em 8,3% para o IPA agrícola. À frente, esperamos que os IPAs sigam desacelerando no acumulado em 12 meses. Seguimos projetando alta de 6,5% para o IPCA de 2022.

Fiscal: setor público registra superávit primário, por ora

O resultado primário do setor público consolidado de julho foi de superávit de R$ 20,4 bi, praticamente em linha com as expectativas de mercado. Em 12 meses, o superávit primário atingiu 2,5% do PIB enquanto o resultado nominal ficou deficitário em 3,8%. A dívida líquida atingiu 57,3% do PIB e foi favorecida nos últimos meses pela depreciação do câmbio e pelo crescimento do PIB nominal. O resultado fiscal segue forte, com arrecadação surpreendendo. Devemos revisar para cima a projeção de resultado primário de 0,6% do PIB para 2022. 

Equipe Econômica C6 Bank

Felipe Salles Head
Claudia Moreno Head Brasil
Claudia Rodrigues Head Internacional
Felipe Mecchi Internacional
Heliezer Jacob Brasil

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