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Resumo semanal: Brasil – inflação começa o ano acima do esperado

Leia a íntegra do relatório preparado pelo time de economia do C6 Bank.

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Internacional

Estados Unidos: Trump inicia segundo mandato

Donald Trump assumiu a presidência dos Estados Unidos na segunda-feira (20/1). Em seu segundo mandato, Trump começou assinando diversas ordens executivas. Do ponto de vista econômico, o destaque ficou para medidas relacionadas a imigração e energia, enquanto medidas relacionadas a tarifas comerciais ainda não passaram de ameaças. Quanto à imigração, as ordens visam dificultar o acesso e a permanência ilegal de imigrantes, com o objetivo de promover o emprego entre os americanos. Quanto à energia, as medidas pretendem ampliar e facilitar a produção de combustíveis fósseis, como petróleo e gás natural, com objetivo de baixar o preço de commodities energéticas. A ausência de medidas relacionadas a tarifas comerciais até o momento chamou a atenção de investidores e aumentou o otimismo quanto a uma implementação mais gradual e possivelmente de tarifas menores do que o esperado. Esse otimismo do mercado ajudou a diminuir a cotação do dólar contra moedas de grandes economias desenvolvidas, como euro, iene e libra esterlina. Apesar da ausência de medidas tarifárias até o momento, o presidente Trump segue com ameaças principalmente sobre o México, Canadá, União Europeia e China, e novas ordens podem surgir a qualquer momento.

Na próxima semana, o banco central americano (Federal Reserve, Fed) tomará decisão de política monetária. Em nossa visão, o Fed deve manter a postura cautelosa que vem sendo comunicada pela instituição. A inflação permanece acima da meta de 2%, a atividade se mantém robusta e o mercado de trabalho resiliente. Ainda é cedo para definir os impactos das medidas já autorizadas por Trump, e há incertezas quanto ao que pode ser autorizado em breve, como tarifas e corte de impostos, ambas promessas de campanha. Diante deste cenário, acreditamos que a autoridade monetária deve manter os juros elevados por mais tempo e realizar uma pausa no ciclo de cortes na decisão de 29/1. Por ora, esperamos dois cortes de juros ao longo de 2025.

Em relatório semanal, os pedidos iniciais de seguro-desemprego continuaram em níveis baixos para padrões históricos, em 223 mil na semana encerrada em 18 de janeiro.

Europa: atividade estável em janeiro

A guerra entre Rússia e Ucrânia está no terceiro ano e continua sem perspectiva de fim próximo.

Na zona do Euro, a atividade ficou praticamente estável em janeiro. De acordo com a prévia do PMI, o indicador composto referente ao setor de manufaturas e serviços alcançou 50,2 pontos, voltando a sinalizar leve expansão depois de dois meses em retração. A melhora no mês reflete um menor encolhimento do setor de manufaturas (46,1), que segue em território contracionista desde meados de 2022, e expansão moderada em serviços (51,4). A composição do índice composto, que inclui ambos os setores, mostrou leve aumento da produção, contínua retração na demanda, leve diminuição do emprego e pressão sobre os preços. Entre as maiores economias do bloco, o desempenho melhorou na Alemanha (50,1) e na França (48,3). Na Alemanha, maior economia do bloco, a melhora na atividade surpreendeu com expansão maior de serviços e encolhimento menor em manufaturas, enquanto na França, ambos os setores seguem em contração.

A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, disse que segue confiante no processo de desinflação, acreditando que a meta deve ser alcançada este ano, mas acrescentou que há riscos de um menor crescimento da economia em 2025. Segundo Lagarde, a autoridade monetária deve seguir cortando juros de forma gradual.

Em nossa visão, o BCE deve dar continuidade aos cortes de juros, em razão do baixo desempenho da atividade econômica e do controle da inflação. A próxima decisão do Banco ocorre em 30/1.

O mercado de trabalho britânico continua mostrando sinais de desaquecimento. De acordo com o Escritório Nacional de Estatísticas (ONS, na sigla em inglês), a taxa de desemprego subiu para 4,4% nos três meses até novembro, patamar acima da média de 2019. A pesquisa, no entanto, continua com um problema de amostra reduzida e, portanto, os resultados devem ser interpretados com cautela. As contratações têm seguido uma tendência de queda nas últimas divulgações. O número de vagas em aberto segue diminuindo. Apesar do esfriamento, os salários seguem subindo em ritmo forte. Nos três meses até novembro, o ganho médio semanal (excluindo bônus) acelerou de 5,2% para 5,6%, comparado ao mesmo período do ano passado.

A atividade registrou leve expansão no Reino Unido em janeiro. A prévia do PMI Composto subiu para 50,9 pontos, um aumento modesto de 0,5 ponto em relação a dezembro, com uma expansão moderada no setor de serviços (51,2) e menor encolhimento em manufaturas (48,2). Na composição do índice houve menor produção do setor de manufaturas pelo terceiro mês seguido, redução do emprego e aumento da pressão inflacionária.

Em nossa visão, com a inflação ainda acima da meta e a atividade econômica frágil, o Banco da Inglaterra (BoE, na sigla em inglês) deve continuar reduzindo os juros de forma gradual, atento aos sinais da economia. Na próxima reunião de política monetária, em 6/2, acreditamos que o BoE reduzirá os juros depois de uma pausa em dezembro. O Banco deve justificar a decisão pelo enfraquecimento da atividade, mas apontar preocupações com a inflação, em razão de possíveis pressões salariais.

Japão: BoJ sobe juros

O Banco do Japão (BoJ, na sigla em inglês) subiu a taxa juros em 25 pontos base (pb) para 0,5% ao ano, conforme esperado pelo mercado. Foi a terceira alta depois de tirar os juros de território negativo em março do ano passado. Houve apenas um voto dissidente, favorável à continuidade da pausa. Segundo as novas projeções de membros do comitê de política monetária, o núcleo da inflação, que exclui alimentos frescos, deve fechar o ano fiscal de 2024 (que termina em março de 2025) em 2,7%, e o crescimento da economia deve ser de 0,5% no mesmo período. A expectativa do comitê é que a inflação alcance a meta no ano fiscal de 2026. O documento divulgado pela instituição afirma que mesmo após a decisão de hoje, os juros reais continuam significativamente negativos, o que mantém a política monetária acomodativa. O presidente do BoJ, Kazuo Ueda, justificou a decisão citando a robustez no crescimento de salários – que tende a manter uma pressão sobre a inflação – e a ausência de turbulências no mercado após a mudança de governo nos EUA. Ueda reiterou que decisões futuras seguem dependentes da economia e da inflação. Em nossa visão, o Banco deve promover mais uma ou duas altas de juros este ano.

China: PBoC mantém juros inalterados

O Banco do Povo da China (PBoC, na sigla em inglês) manteve inalteradas as taxas de juros usadas como referência para empréstimos às famílias e empresas, conforme o esperado. A taxa de empréstimo (LPR, na sigla em inglês) com prazo de 1 ano permaneceu em 3,1% e a LPR de 5 anos em 3,6%. O PBoC tem mencionado mudança na política monetária, na qual o canal de juros será mais importante que o canal de crédito e a taxa de recompra reversa se tornará a principal ferramenta de política monetária. A expectativa é que o Banco corte juros em breve, para ajudar a economia.

Commodities: preço do petróleo recua

O acordo de cessar-fogo entre Israel e Hamas, iniciado em 19/1, continua vigente e contribui para diminuir a instabilidade política no Oriente Médio. A proposta, que interrompeu hostilidades, iniciou uma fase de liberação de reféns mantidos pelo Hamas e de prisioneiros palestinos detidos por Israel. No próximo domingo, uma segunda rodada de liberação de reféns e prisioneiros deve ocorrer. A expectativa é que o acordo de cessar-fogo dure seis semanas e abra espaço para conversas sobre um possível encerramento do conflito.

O preço futuro do petróleo (Brent) caiu 3,5% de 16/1 a 23/1, fechando o período em 78 dólares por barril, depois alta de 6% na semana anterior. O presidente americano assinou medidas que devem promover a produção de petróleo no país, que já é o maior produtor mundial. A intenção de Trump é baixar o preço da energia. Além disso, Trump, em discurso em Davos, disse que pedirá à Arábia Saudita para que a Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (OPEP+) diminua o custo da commodity. Lembrando que a OPEP+ tem mantido sua produção abaixo da capacidade, tendo pretensão de aumentá-la gradualmente a partir de abril. A próxima decisão da Organização ocorre em 3/2. A expectativa da OPEP+ e da Agência Internacional de Energia é de sobreoferta no mercado em 2025, em razão da menor demanda da China e maior produção de países que não fazem parte da OPEP.

Os preços futuros de commodities agrícolas tiveram aumento na semana. O preço futuro do trigo e do milho subiram 3%, enquanto a soja aumentou 4,5%. O aumento no preço de grãos está associado a forte demanda e condições climáticas adversas na América do Sul.

Brasil

Focus: Selic mais alta no horizonte

As projeções para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador de inflação oficial do país, subiram para 2025 (de 5% para 5,08%), para 2026 (de 4,05% para 4,1%) e não tiveram alterações para 2027 (3,9%). O número esperado para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) ficou praticamente estável para 2025 (de 2,02% para 2,04%) e para 2026 (de 1,8% para 1,77%). Já para 2027, não houve alterações (2%). A taxa Selic segue em 15% para 2025, porém passou de 12% para 12,25% para 2026. Para 2027, a taxa permanece em 10,25%. As projeções estão no Boletim Focus, relatório do Banco Central que reúne a expectativa das instituições financeiras em relação aos principais indicadores econômicos do país.

Inflação: IPCA-15 começa o ano acima do esperado

O IPCA-15 de janeiro registrou alta de 0,11%, acima da nossa projeção (-0,05%) e do consenso de mercado (-0,01%). No acumulado em 12 meses, o índice ficou em 4,5%, no limite superior da meta de inflação. O resultado do mês foi influenciado pela alimentação no domicílio (1,1%). Também pesou para o resultado mensal a alta de 10,25% nas passagens aéreas, acima do que prevíamos (-10,24%). Já a deflação de 15,46% no preço da energia elétrica, reflexo da incorporação do Bônus de Itaipu nas contas de luz, trouxe um alívio temporário para o IPCA-15. Entretanto, a inflação da energia elétrica volta a pressionar o indicador geral já a partir de fevereiro, quando o bônus deixará de ser creditado nas contas de luz. De modo geral, a composição do IPCA-15 veio pior do que o esperado. A inflação de serviços subjacentes, por exemplo, subiu 0,96% em janeiro, acumulando alta de 6% nos últimos 12 meses. Esperamos que o IPCA encerre 2025 em 5,7%.

Setor externo: conta corrente registra aumento do déficit em 2024

A conta corrente registrou um déficit de US$ 9 bilhões no mês de dezembro. Considerando o dado com o nosso ajuste sazonal, houve déficit de US$ 5,2 bilhões. O saldo foi positivo na balança comercial, porém negativo em serviços e rendas. Em 2024, o saldo de transações correntes foi de -2,55% do PIB (US$ -56 bilhões), um déficit maior do que o ano anterior (-1,12% do PIB), em razão, principalmente, da piora no saldo da balança comercial. Para 2025, projetamos um déficit de US$ 16 bilhões, com viés de baixa.

Equipe Econômica C6 Bank

Felipe Salles                   Head

Claudia Moreno      Head Brasil

Claudia Rodrigues    Head Internacional

Felipe Mecchi               Internacional

Heliezer Jacob            Brasil

Este relatório foi preparado pelo Banco C6 S.A.

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Este relatório foi preparado pelo Banco C6 S.A., uma instituição regulada por autoridades brasileiras.

O Banco C6 S.A. é responsável pela distribuição deste relatório no Brasil.

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