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Resumo semanal: bancos centrais mantêm postura rígida com inflação

Confira as principais notícias da semana, segundo a avaliação da equipe econômica do C6 Bank

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Tempo de leitura · 9 min

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Confira as principais notícias da semana (5/9-9/9), segundo a avaliação da equipe econômica do C6 Bank. Leia a íntegra do relatório.

Internacional

Estados Unidos: presidente do Fed reforça mensagem dura

Em evento, o presidente do banco central americano (Federal Reserve – Fed), Jerome Powell, reforçou o compromisso de membros do banco com o combate à inflação e disse que o Fed precisa continuar agindo com firmeza.  Acrescentou que pretende alcançar um período de crescimento da economia abaixo da tendência, o que ajudaria a trazer o mercado de trabalho, que está aquecido, para uma posição mais sustentável.

O setor de serviços continuou firme em agosto, segundo o índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) do Instituto ISM. O índice subiu 0,2 ponto para 56,9 com melhora em todos os componentes. Houve aumento da demanda e do emprego, menor pressão de preços e alívio na cadeia de produção.

O mercado de trabalho segue aquecido. Em relatório semanal, os pedidos iniciais de seguro-desemprego seguem em níveis baixos, em 222 mil na semana encerrada em 3 de setembro, 6 mil abaixo da semana anterior.

Europa: BCE intensifica aperto monetário

O Banco Central Europeu (BCE) aumentou juros em 75 pontos-base, conforme esperado, em decisão unânime e pretende continuar o ciclo de altas em razão de uma inflação elevada, com o objetivo de trazê-la para a meta de 2% no médio prazo. As magnitudes dos próximos aumentos serão definidas a cada reunião a depender dos dados, conforme já anunciado anteriormente. A presidente do banco, Christine Lagarde, disse que a inflação está sendo fortemente impactada por preços de energia, em particular o gás, e alimentos. Membros do BCE ainda não sabem até que ponto precisarão elevar os juros, mas preferem antecipar aumentos para que a inflação não se distancie muito da meta. Lagarde acrescentou que aumentos de 75 pontos-base não são uma norma. O BCE também divulgou novas expectativas de crescimento econômico na zona do euro, diminuindo o PIB em 2023 para 0,9% e 2024 para 1,9%, mas não prevendo uma recessão no cenário base. Expectativas de inflação foram revisadas para cima, chegando a 2,3% em 2024.

O conflito entre Rússia e Ucrânia está no sétimo mês. A Rússia continua com ações ofensivas principalmente no leste e sul do país. A Ucrânia começou contraofensiva na região de Kharkiv e segue recebendo ajuda militar, financeira e humanitária do Ocidente. O conflito se estende por mais tempo do que era previsto.

Os preços das commodities continuam com alta volatilidade. Entre os dias 2 e 8 de setembro, o petróleo recuou mais, em meio a preocupações quanto à desaceleração global. A Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (OPEP +) decidiu por um corte simbólico na meta de produção de 100 mil barris/dia em outubro, mas avisou que novos cortes podem ser necessários para estabilizar preços. O gás natural subiu depois que a Rússia cancelou o fornecimento à Alemanha por tempo indeterminado, após terminada a manutenção do gasoduto de Nord Stream 1, que conecta os dois países. A Rússia culpa as sanções por atrapalharem a manutenção da infraestrutura, mas europeus rejeitam a crítica. Ao longo da semana, o preço do gás cedeu com expectativas de intervenção dos governos no mercado de energia. Os grãos (milho e trigo) também subiram depois que o presidente russo, Vladimir Putin, disse que o acordo de exportação de grãos por portos ucranianos precisa ser revisto, pois a maior parte está indo para Europa e, portanto, não beneficiando países mais pobres como tinha sido previsto. A Ucrânia rejeitou a acusação.

O PIB da área do euro no 2T22 foi levemente revisado para cima em 0,2 ponto percentual para 0,8% frente ao trimestre anterior, segundo a divulgação final da Eurostat. O crescimento ocorreu em razão do bom desempenho da Itália e Espanha, ambas com crescimento de 4,6%, beneficiadas pelo turismo durante o verão. A Alemanha, economia mais exposta ao fornecimento de gás russo, cresceu apenas 0,6%.

As vendas no varejo vieram fracas, com leve aumento de 0,3% em julho frente ao mês anterior, depois de contração de 1% em junho. O índice veio abaixo do esperado, possivelmente impactado pela inflação elevada que diminui o poder de compra dos consumidores e pesa negativamente sobre as vendas.

No Reino Unido, Liz Truss venceu eleição realizada entre os afiliados do partido conservador e se tornou a nova primeira-ministra substituindo Boris Johnson. Com a inflação elevada, em boa parte causada pelo forte aumento do gás, a primeira-ministra anunciou um plano para conter o preço da conta de energia para famílias e empresas. A expectativa é que o plano reduza a inflação entre 4 e 5 pontos percentuais. O custo do pacote deve ser divulgado no fim do mês. A forma de financiamento não foi divulgada.

China: Covid zero e desaceleração global pesam sobre atividade

O quadro de Covid-19 teve leve melhora esta semana, com número de casos diários ficando em torno de 1.400, abaixo da média da semana anterior. A cidade de Chengdu, com 21 milhões de habitantes, importante centro na cadeia de produção de eletrônicos e automóveis, permanece em lockdown. Shenzhen, hub tecnológico, aliviou restrições em algumas áreas. O número de áreas de risco permanece elevado, o que significa que restrições à mobilidade continuam em várias áreas. A política de Covid zero adotada pelo país mantém um controle rigoroso sobre circulação de pessoas quando casos aumentam, o que traz dificuldades para economia.

A balança comercial registrou superávit US$ 21,9 bilhões menor que o anterior e abaixo do esperado, fechando em US$ 79,4 bilhões em agosto. A alta das exportações desacelerou para 7,1% comparada ao mesmo mês do ano anterior, começando a dar sinais de que o menor crescimento global tem enfraquecido a demanda. As importações ficaram praticamente estáveis, com aumento de 0,3% no mesmo período.

O fluxo de crédito agregado aumentou de RMB 756 bilhões em julho, mínimo da série histórica, para RMB 2,4 trilhões em agosto, segundo o Banco Central da China (PBOC, na sigla em inglês), ficando modestamente acima do esperado. Apesar da melhora, houve lenta recuperação dos empréstimos às famílias e empresas, sugerindo demanda deprimida por Covid zero e por um setor imobiliário em declínio. A emissão de títulos públicos continuou abaixo do esperado. No geral, a demanda por crédito permaneceu fraca, apesar de esforços do governo para estabilizar o crescimento.

A inflação veio abaixo do esperado e cedeu em relação ao mês anterior. Tanto o índice de preços ao consumidor (CPI) quanto ao produtor (PPI) desaceleraram, apresentando alta de 2,5% e 2,3%, respectivamente, em agosto frente ao mesmo mês do ano anterior, segundo o Escritório Nacional de Estatísticas chinês (NBS, na sigla em inglês). A desaceleração do CPI veio com menor crescimento do preço de energia e alimentos, seguindo a tendência de queda de preços de commodities no mercado internacional, enquanto o núcleo permaneceu estável. O PPI desacelerou em razão de menor crescimento do preço de energia e metais, em razão de uma desaceleração da demanda global.

Brasil

Focus: expectativas de inflação registram queda para 2022 e 2023

A projeção para o IPCA apresentou queda para 2022 (de 6,70% para 6,61%) e para 2023 (de 5,30% para 5,27%), mas leve alta para 2024 (em de 3,41% para 3,43%). O número esperado para o Produto Interno Bruto (PIB) registrou alta para 2022 (passou de 2,1% para 2,26%) e para 2023 (de 0,37% para 0,47%). A taxa Selic ficou estável em 13,75% para o final deste ano, subiu de 11% para 11,25% para 2023 e se manteve em 8% para 2024. As projeções estão no Boletim Focus, relatório do Banco Central que reúne a expectativa das instituições financeiras em relação aos principais indicadores econômicos do país.

Inflação: IPCA de agosto registra nova deflação, impactado pela redução de impostos

O IPCA de agosto registrou deflação de 0,36% – em linha com o que nós (-0,37%) e o mercado (-0,40%) esperávamos. O índice acumula alta de 8,73% na variação em 12 meses e mostra desaceleração. A deflação registrada no mês reflete os efeitos da redução de impostos sobre gasolina, etanol e energia elétrica, que juntos contribuíram com uma queda de 0,79 pontos percentuais no IPCA. A composição mostrou bens industriais mais pressionados no mês, enquanto serviços tiveram variação baixa. Em 12 meses, a inflação de serviços acumula alta de 8,8% e ainda não mostra tendência clara de desaceleração. A inflação de bens industriais acumula alta de 12,6% na mesma métrica e deve continuar desacelerando à frente. Na última semana houve um recuo significativo nos preços das commodities, em particular no petróleo e no seu mercado futuro. Já esperávamos queda das commodities, mas o movimento tem sido mais acentuado do que prevíamos. Reduzimos nossa projeção para o IPCA de 2022 de 6,5% para 6%. Para 2023, seguimos projetando IPCA em 5,7%. A inflação de preços livres (que exclui administrados) deve continuar desacelerando a passos lentos.

O IGP-DI registrou deflação de 0,55% em agosto, em linha com a expectativa do mercado, e acumula alta de 8,7% em 12 meses – trajetória de desaceleração. A composição dos índices de atacado mostrou o IPA agrícola com alta de 0,67% frente à alta de 0,17% no mês anterior. O núcleo do IPA industrial – que inclui apenas os itens relacionados à inflação de bens industriais do IPCA, excluindo alimentos, combustíveis e minério de ferro – registrou queda de 0,09% ante alta de 0,30% em junho. No acumulado em 12 meses, ambos indicadores seguem em patamar elevado, em 12,9% para o núcleo dos bens industriais e em 7,6% para o IPA agrícola. À frente, esperamos que os IPAs sigam desacelerando no acumulado em 12 meses.

Equipe Econômica C6 Bank

Felipe Salles Head
Claudia Moreno Head Brasil
Claudia Rodrigues Head Internacional
Felipe Mecchi Internacional
Heliezer Jacob Brasil

Este relatório foi preparado pelo Banco C6 S.A.

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